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Merkel movimenta peças para influenciar jogo político europeu dos próximos anos

Chanceler da Alemanha deixará o cargo em 2021, ela comanda o país desde 2005

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São Paulo

Se a imprensa mundial e os alemães —estes últimos, a meia voz— se empenharam em discutir a sucessão de Angela Merkel na chefia do governo da Alemanha desde os episódios de tremores que a acometeram, foi lá atrás que a chanceler começou a dar os passos para deixar seu legado sucessório.

Em dezembro, depois de anunciar sua decisão de deixar o poder após o término de seu mandato, em 2021, Merkel obteve a coroação de sua protegida, Annegret Kramp-Karrenbauer, na chefia de seu partido, a União Democrata Cristã, deixando-a na dianteira para se tornar a próxima mulher mais poderosa da Europa.

A chanceler alemça Angela Merkel em Berlim
A chanceler alemça Angela Merkel em Berlim - Hannibal Hanschke - 3.jul.10/Reuters

Conhecida como AKK, “Merkel bis” e “mini Merkel” (designações que rejeita), Kramp-Karrenbauer nada mais é que a continuidade da linha moderada conservadora adotada por Merkel em 18 anos na liderança do partido e 14 anos como chanceler.

 

“A CDU em 2018 não deve olhar para trás mas para frente, com novas pessoas, mas com os mesmos valores”, afirmou Merkel na ocasião. 

“Seja a rejeição do multilateralismo, o retorno do nacionalismo (...), a desestabilização das sociedades com as fake news ou o futuro da União Europeia, nós, democratas cristãos, devemos mostrar o que temos diante de todos esses desafios”, acrescentou.

Depois de AKK, a escolha de Ursula von der Leyen para Bruxelas era o passo lógico. Ginecologista antes de entrar na política, a ministra conservadora foi aluna aplicada da chanceler. Ambas são descritas pela imprensa alemã como confidentes.

Embora quase tenha sido alvo de uma CPI por suspeitas de nepotismo, Von der Leyen é uma das mais respeitadas ministras da Defesa no cenário internacional. Em Bruxelas, ela poderá sair da sombra de Merkel, mas no fundo representa a essência do merkelismo: uma adesão inquebrantável aos princípios e aos valores europeus. 

Nisso, pode se somar ou se contrapor ao estilo Emmanuel Macron de liderança. Com Merkel, essa relação padeceu de certa falta de entrosamento; após Von der Leyen ser anunciada, o francês a descreveu como “uma verdadeira europeia”. 

Os alemães são céticos quanto ao cacife dela para conter o ímpeto de protagonismo do mandatário francês, e a agenda europeia será complicada, com o destino do brexit à vista.

Parte desse ceticismo tem a ver com a própria maneira como Von der Leyen foi designada, sob um verniz feminista, como candidata a presidente da Comissão Europeia, o Executivo da burocracia do bloco.

Ela não é membro eleita do Parlamento Europeu e sequer constava nas rodadas de negociações que antecederam ao anúncio —os candidatos até então eram os também alemães Manfred Weber, democrata cristão como Von der Leyen e Merkel, e o social-democrata Frans Timmermans. 

Era, no entanto, um nome recorrente para preencher outros cargos na esfera do bloco.

A reviravolta que se produziu nos bastidores, protagonizada por Merkel e Macron e chamada de “o teatro de Leyen” em artigo da revista Der Spiegel, foi qualificada como uma facada nas costas “grotesca” pelos Verdes e criticada por outras alas políticas. Furiosos, os social-democratas ameaçaram romper a coalizão governista —mas já se acalmaram.

A descrição dos fatos diverge. Segundo uma versão, Weber, apoiado abertamente pela chanceler, foi vetado por Macron na segunda rodada. Com Timmerman já descartado de início, Merkel teria recorrido a um “plano C”.

“Penso que ela tenha sido vencedora, que teve sorte depois de muita má sorte”, diz Melanie Amman, jornalista da Spiegel que acompanhou a chanceler na cúpula do G20.

“Ela conseguiu pela primeira vez ocupar esse posto europeu com uma pessoa da Alemanha —e uma mulher, ainda por cima. E agora tem uma vaga no gabinete aberta para alguém novo, que seja mais bem visto pelas Forças Armadas e pelo próprio partido.”

Embora haja um certo debate sobre se a chanceler foi uma jogadora exímia do truco político ou se apenas teve muita sorte, no fim das contas, ela se colocou na posição de deixar sua marca e, por que não, influenciar o jogo político europeu dos próximos anos.

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