Várias figuras importantes do movimento pró-democracia de Hong Kong foram detidas nesta sexta-feira (30), incluindo três deputados.
A operação foi denunciada por associações como uma tentativa da China de amordaçar a oposição após a proibição de uma nova grande manifestação programada para sábado (31).
Entre os detidos estão uma série de ativistas pró-democracia e ao menos três legisladores locais —trata-se da primeira vez que deputados são presos desde o início da atual onda de protestos.
Segundo assessores, foram detidos os deputados Cheng Chung-tai, Au Nok-hin e Jeremy Tam, todos críticos a Pequim.
Os dois foram indiciados em uma audiência durante a tarde e colocados em liberdade após o pagamento de fiança. "Continuaremos o combate, não vamos nos render", prometeu Wong fora do tribunal.
Wong, 23, tornou-se um ícone de manifestações a favor da democracia em atos ocorridos há cinco anos, e reapareceu nos protestos de 2019.
O grupo ativista do qual ele é um dos líderes, Demosisto, publicou em uma rede social que Wong foi detido por volta das 7h30 no horário local (noite de quinta no Brasil) enquanto caminhava em direção a uma estação de metrô.
O ativista teria sido empurrado para dentro de uma van.
Não é a primeira vez que ele é preso neste ano. Wong passou cinco semanas detido pela atuação nas manifestações de 2014 e foi solto em junho, mês em que os atuais protestos ganharam força
Wong ganhou proeminência com o Movimento dos Guarda-Chuvas de 2014. Naquele ano, mais de 100 mil pessoas ocuparam o distrito financeiro de Hong Kong em um movimento que pedia eleições livres.
Os manifestantes reivindicavam a escolha do chefe-executivo local no pleito de 2017 por meio de votação direta —atualmente os eleitores só podem escolher entre candidatos previamente aprovados por Pequim.
A ocupação durou 79 dias e foi pacífica, mas se tornou violenta perto do fim, quando ativistas e policiais entraram em confronto.
Nesta sexta, outro ativista, Andy Chan, foi detido no aeroporto. Ele é fundador do Partido Nacional (HKNP), pequena legenda que defende a independência do território e foi proibida pelas autoridades em 2018.
Rick Hui, membro do conselho do bairro popular de Sha Tin, também foi detido nesta sexta, assim como o ex-líder estudantil Atlhea Suen.
A Anistia Internacional condenou as detenções de Wong e Chow, classificando-as de "ataques escandalosos contra a liberdade de expressão e de reunião" e "táticas com o objetivo de espalhar o medo, retiradas dos manuais chineses".
A polícia negou, no entanto, uma tentativa de sufocar as manifestações. "É totalmente falso", declarou John Tse, porta-voz da força de segurança.
A polícia decidiu proibir a manifestação de sábado alegando razões de segurança, uma medida drástica que pode ter o efeito contrário e provocar novos confrontos com ativistas radicais.
A manifestação foi convocada pela Frente Civil de Direitos Humanos (FCDH), um movimento pacífico que liderou as maiores passeatas dos últimos meses, em particular a de 18 de agosto, que reuniu 1,7 milhão de pessoas, segundo os organizadores, e terminou sem incidentes.
Uma das líderes da Frente, Bonnie Lang, afirmou que a FCDH "não tem outra opção a não ser cancelar a manifestação de sábado", depois que o recurso apresentado contra a proibição foi rejeitado.
Mas outras iniciativas estão sendo planejadas. Alguns ativistas pró-democracia propõem uma partida de futebol, uma saída em massa para compras ou uma concentração religiosa improvisada.
É provável que a ala radical, integrada em sua maioria por estudantes muito jovens, ignore o pedido de calma, o que poderia provocar novos distúrbios.
"A polícia acredita que existem líderes no movimento e que sua decisão de proibir a manifestação vai nos deter", afirmou à agência de notícias AFP uma manifestante que se identificou como Kelly.
"Somos nossos próprios líderes e vamos continuar nas ruas. O governo não consegue entender", completou.
Mais de 900 pessoas foram detidas desde o início dos protestos.
A agitação no território começou em meados de junho devido a um projeto de lei de extradição —agora suspenso— que permitiria que pessoas fossem enviadas à China continental para julgamento em tribunais controlados pelo Partido Comunista. Desde então, evoluiu para apelos por mais democracia.
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