Visita-surpresa de chanceler do Irã ofusca encontro de líderes do G7

Questão nuclear iraniana é um dos principais pontos da reunião da cúpula

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Paris | Reuters

​Um lance de teatro. A imagem se espalhou rapidamente na mídia francesa, no domingo (25), para descrever a visita-surpresa do chanceler do Irã a Biarritz (sudoeste da França), onde acontece a cúpula anual do G7 (grupo de nações ricas).

Fontes diplomáticas do país anfitrião salientaram que se tratava de uma agenda com o ministro francês das Relações Exteriores, às margens do encontro. Isso, porém, não impediu a passagem-relâmpago de Mohammad Javaf Zarif pelo balneário de ofuscar o convescote de líderes.

Desde sábado (24), eles discutem, entre outros temas, a ressuscitação do acordo de 2015 sobre o programa nuclear iraniano, que definha desde a decisão de Donald Trump, no ano passado, de retirar os EUA de suas provisões.

O ministro iraniano Mohammad Javad Zarif durante uma coletiva na capital Teerã
O ministro iraniano Mohammad Javad Zarif durante uma coletiva na capital Teerã - AFP - 5 ago.2019

No jantar de abertura da cúpula, no sábado, e em uma sessão de trabalho no domingo, o assunto foi abordado extensivamente. França, Alemanha e Reino Unido tentam há meses salvar o pacto, que previa a suspensão gradual de sanções a Teerã em troca do compromisso das autoridades persas de reduzir a produção de energia nuclear.   

O objetivo da trinca de países é desenhar um mecanismo de compensação financeira ao Irã pelas sanções impostas por Washington, que afetam sobretudo as exportações de petróleo, carro-chefe das vendas ao exterior.

Na verdade, nenhuma das potências ocidentais está plenamente satisfeita com o acordo de quatro anos atrás, que não inclui medidas para conter o ímpeto expansionista do Irã —com braços do Iêmen, na Síria e no Líbano— nem cobre o programa de mísseis balísticos de Teerã.

Onde há divergência é em como “consertar” o pacto. Os europeus querem editar ou fazer adendos ao documento que já existe, enquanto Trump prefere descartá-lo integralmente e redigir outro texto.

Zarif foi convocado a Biarritz depois que França, EUA, Canadá, Japão, Reino Unido, Itália e Alemanha fecharam posição sobre dois pontos: a necessidade de evitar que o Irã desenvolva a bomba atômica e a urgência de distender a relação Ocidente-Teerã para evitar que a rixa com Washington degenere para um conflito armado.

A aparente sintonia quase desandou na manhã de domingo, quando o presidente francês, Emmanuel Macron, deu a entender que tinha um “recado coletivo” a levar ao governo iraniano, em nome do G7.

Trump rapidamente rechaçou a ideia de que os participantes tivessem dado ao anfitrião um mandato para tratar com o Irã. Macron então recuou, lembrando o caráter informal do G7, um fórum de discussão sem poderes executivos.

No começo da noite, após encontros com seu homólogo francês (Jean-Yves Le Drian) e com Macron, além de assessores britânicos e alemães, Zarif escreveu em uma rede social que “o caminho adiante é difícil, mas vale a pena tentar”.

Fontes francesas classificaram as reuniões como produtivas e informaram que as conversas com o Irã sobre o acordo vão continuar.

Não houve anúncios concretos por ora. Segundo a agência Reuters, em uma lógica de relaxamento das sanções para a retomada das conversas com os EUA, os iranianos querem poder exportar ao menos 700 mil barris de petróleo por dia. As vendas caíram em julho passado para 100 mil barris diários, de acordo com a mesma fonte.

Teerã também não aceita incluir seu programa de mísseis balísticos em qualquer barganha.

Líder do esforço de salvamento do pacto de 2015, Macron exige que o Irã volte a seguir o que está fixado ali. Em julho, o país ultrapassou o limite de enriquecimento de urânio citado no documento.

Com ou sem surpresas dramáticas, será preciso esperar o próximo ato para saber o desfecho da intriga.

Outro enredo que teve desdobramentos em Biarritz neste fim de semana foi o da possível volta da Rússia ao fórum de países ricos, que perdeu a alcunha de G8 quando Moscou foi suspensa, em 2014, após a invasão da Ucrânia e a anexação da Crimeia.

Desde a cúpula do ano passado, no Canadá, Trump faz lobby pelo regresso de Vladimir Putin ao clube. No sábado, insistiu assertivamente no pleito, segundo relatos.

Todos os outros líderes, com a exceção do premiê italiano, Giuseppe Conte, disseram que não era hora de a Rússia ser reintegrada, sobretudo porque se trata de um grupo de democracias liberais, etiqueta que não cabe hoje ao maior país do mundo.  

O presidente americano tentou argumentar que uma instância em que se tratam temas como Síria, Irã e Coreia do Norte deveria incluir em seus quadros um dos atores-chave desses e de outros campos minados. Não convenceu seus pares, mas deve ter nova chance de fazê-lo em 2020, como anfitrião da cúpula.  

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