Novo caso de ebola gera incerteza sobre fechamento da fronteira de Ruanda

Terceiro registro da doença em cidade fronteiriça da República Democrática do Congo causa temor que vírus se espalhe

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Goma (República Democrática do Congo) | AFP e Reuters

Diferentes versões sobre o fechamento da fronteira da República Democrática do Congo (RDC) com a vizinha Ruanda foram divulgadas por autoridades nesta quinta (1º), após o diagnóstico do terceiro caso de ebola na cidade fronteiriça de Goma, situada na RDC.

Inicialmente, o ministro das Relações Exteriores de Ruanda, Olivier Nduhungirehe, disse que a fronteira entre os países estava fechada. A informação foi confirmada pela presidência da RDC, que afirmou que o fechamento era uma decisão unilateral de Ruanda.

Horas mais tarde, a ministra da Saúde de Ruanda disse que a fronteira com a RDC permanecia aberta, contradizendo a informação anterior. "A fronteira nunca foi fechada e não está fechada", afirmou Diane Gashumba a repórteres. 

Ao fazer o anúncio, Gashumba estava sentada ao lado de Olivier Nduhungirehe, que havia anunciado inicialmente o fechamento da divisa.

Área na cidade de Goma, na fronteira entre a República Democrática do Congo e Ruanda
Área na cidade de Goma, na fronteira entre a República Democrática do Congo e Ruanda - Pamela Tulizo/AFP

Segundo Gashumba, houve lentidão no tráfego na fronteira, causada pelo aumento de inspeções em resposta à confirmação do novo caso de ebola em Goma. 

Os países fazem fronteira nas cidades de Goma, do lado da RDC, e de Gisenyi, na Ruanda, separadas por sete quilômetros de distância. 

A filha de um paciente que havia contraído o vírus ebola em Goma, capital da província de Kivu do Norte, também foi diagnosticada com a doença nesta quarta (31), mesmo dia em que seu pai morreu.

A confirmação do terceiro caso aumentou os temores de que o vírus possa se enraizar no município, que tem 2 milhões de habitantes e está a mais de 350 quilômetros ao sul de onde o surto de ebola foi detectado pela primeira vez, em agosto de 2018. 

De lá para cá, mais de 1.700 mortes pelo ebola foram contabilizadas na RDC. Há entre 75 e 100 novos casos por semana. Até 18 de julho, 2.438 casos foram confirmados.

Depois que o primeiro caso de ebola foi registrado em Goma, em meados de julho, a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou a atual epidemia uma emergência internacional de saúde. Anteriormente, relutou em fazê-lo, em parte por temer que países vizinhos à RDC pudessem fechar suas fronteiras.

Ao declarar a emergência, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, disse explicitamente que nenhum país deveria fechar fronteiras ou impor restrições de viagem ou comércio.

Segundo Lucien Kalusha, um cabeleireiro congolês que atravessa todos os dias a divisa para trabalhar em Ruanda, "ao fechar a fronteira desta forma, eles privam muitas pessoas de seus ganhos". "A maioria das mulheres aqui cruza para Ruanda atrás de comida para nós em Goma."

A RDC se posicionou contra a decisão. "As autoridades congolesas lamentam essa decisão [de fechar a fronteira], que contraria parecer da OMS" de combater o vírus, escreveu em comunicado a presidência congolesa.

Os esforços para a contenção da epidemia na RDC enfrentam uma série de obstáculos, entre eles a resistência de autoridades e da população às campanhas de vacinação, o foco considerado excessivo na doença e os conflitos no combate à moléstia com as tradições locais.

“É um sinal preocupante de que o surto claramente não está sob controle”, afirmou em nota a organização Médicos sem Fronteiras.

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