Em mais um capítulo da guerra diplomática entre os vizinhos asiáticos, a Coreia do Sul anunciou nesta terça (17) a retirada do Japão de sua "lista branca" de países preferenciais para comércio.
Com a mudança, que vinha sendo prometida desde agosto, a autorização de exportações sul-coreanas para o Japão estará sujeita a prazos mais demorados e à exigência de uma lista mais extensa de documentos.
Por ora, o Ministério do Comércio, Indústria e Energia sul-coreano apenas especificou a aplicação de restrições à produção de armas.
"O objetivo da alteração das regulamentações comerciais é melhorar o sistema de controle de exportações da Coreia do Sul, não retaliar o Japão", disse o órgão em comunicado.
A medida intensifica os atritos comercial e histórico entre os dois países, causados por desavenças que envolvem o domínio colonial japonês sobre a península coreana entre 1910 e 1945 e, mais recentemente, a falta de consenso em relação a uma indenização da época da Segunda Guerra Mundial.
Em outubro de 2018, a Suprema Corte da Coreia do Sul condenou a empresa japonesa Nippon Steel a pagar indenizações a quatro ex-funcionários sul-coreanos que foram vítimas de trabalhos forçados.
A sentença ordena o pagamento de 100 milhões de wons (cerca de R$ 330 mil) a cada um deles.
A decisão gerou irritação em Tóquio, que apontou para uma erosão da confiança na Coreia do Sul.
Para o governo japonês, todas as indenizações relacionadas à Segunda Guerra foram resolvidas em um acordo de 1965, e reabrir o caso é uma violação da lei internacional.
A contenda se desdobrou em retaliações econômicas quando, em julho, o Japão restringiu o envio de materiais tecnológicos usados na indústria de smartphones à Coreia do Sul.
Os exportadores japoneses passaram a necessitar de uma autorização para cada lote que desejassem enviar aos seus vizinhos.
O tempo para obtenção dos documentos pode demorar até 90 dias, o que dificulta um processo que antes era expresso, já que a Coreia do Sul também estava em uma "lista branca" de países preferenciais para comércio com o Japão.
No início de agosto, no entanto, Tóquio liberou a exportação de um químico chamado fotorresistor EUV, material empregado em telas e chips de celulares, para Seul.
Semanas depois, Seul anunciou o rompimento de um acordo de cooperação de inteligência militar com Tóquio, firmado no fim de 2016.
O pacto havia sido negociado com o apoio de Washington em resposta aos lançamentos de mísseis e aos testes nucleares da Coreia do Norte.
Na ocasião, Kang Kyung-wha, chanceler da Coreia do Sul, enfatizou que a decisão foi provocada pela perda de confiança no Japão.
“Continuaremos a fortalecer a cooperação com os Estados Unidos e a desenvolver a aliança”, afirmou.
Nesta segunda (16), a Coreia do Sul entrou com uma disputa na Organização Mundial do Comércio (OMC) contra as restrições japonesas para a exportação.
Os dois países asiáticos devem se reunir dentro de 30 dias, de acordo com as regras da organização. Se as negociações falharem, a Coreia do Sul poderá solicitar um painel de solução de controvérsias junto à OMC.
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