Os ataques de drones no sábado (14) a duas unidades no coração da indústria de petróleo da Arábia Saudita provocaram o corte de mais de 5% da oferta global da commodity e elevaram os preços do petróleo em até 20%, a maior alta desde a Guerra do Golfo, em 1991.
O episódio faz parte de uma série de ataques a petroleiros no Golfo Pérsico, que vem ocorrendo desde maio e tensiona ainda mais as relações entre o Irã e os Estados Unidos, inimigos há décadas.
O episódio também acirra a rivalidade entre Teerã e Riad (Arábia Saudita), que disputam a hegemonia na região.
Entenda o que está em jogo.
Reflexos na produção de petróleo
- As explosões aconteceram em unidades no leste saudita, em Abqaiq e Khurais, causando a diminuição na produção saudita de petróleo em 5,7 milhões de barris por dia, a maior queda na produção diária da commodity da história. O retorno ao volume de produção normal pode levar meses
- A Arábia Saudita normalmente envia mais de 7 milhões de barris por dia de petróleo para destinos em todo o mundo. Abqaiq é a maior instalação processadora de petróleo do planeta
- O ataque, que cortou a produção da Arábia Saudita em mais da metade, restringiu sua habilidade de usar mais de 2 milhões de barris por dia de capacidade ociosa de petróleo disponível para emergências. As instalações atacadas pertencem à estatal Saudi Aramco e são consideradas a joia da coroa da monarquia saudita
- Analistas disseram que as cotações do petróleo brent, atualmente a cerca de US$ 66 o barril, podem atingir US$ 100 o barril se Riad não conseguir recuperar o fornecimento rapidamente
- A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) está avaliando o impacto, mas diz que é muito cedo para os membros tomarem medidas para aumentar a produção
Quem estaria por trás dos ataques?
- O grupo rebelde houthi, do Iêmen, assumiu a responsabilidade pelos ataques. Segundo as Nações Unidas, eles têm drones poderosos que podem atingir alvos a até 1.500 km de distância —Abqaiq fica a 1.000 km de territórios comandados pelos houthis
- Os houthis são apoiados pelo Irã, que trava em território iemenita uma guerra contra a Arábia Saudita pelo domínio político e econômico do Oriente Médio
- Os iranianos e os sauditas não entram em confronto diretamente, mas sim usando grupos em territórios vizinhos como o Iêmen, o Líbano e a Síria
- Os EUA e a Arábia Saudita acreditam que o Irã está fornecendo o armamento sofisticado para os houthis, mas tanto o grupo, considerado terrorista pela Arábia Saudita e pelos Emirados Árabes Unidos, quanto Teerã negam
- O secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, descartou o envolvimento do Iêmen e acusou o Irã de liderar os ataques. Teerã nega. Os países são inimigos desde 1979, quando romperam relações após a revolução iraniana
- Donald Trump disse que os Estados Unidos, envolvidos em uma disputa com o Irã devido às ambições nucleares de Teerã, estão "locked and loaded" ("com as armas preparadas") para uma possível resposta
- A Rússia afirmou que era inaceitável discutir uma possível retaliação e disse que usar o incidente para aumentar as tensões com o Irã seria contraproducente
- Um comandante da Guarda Revolucionária Iraniana, a força de elite do país, disse que as bases e porta-aviões dos EUA estão na mira dos mísseis iranianos, depois que Washington culpou Teerã pelos ataques
- A Arábia Saudita, de maioria muçulmana sunita, já havia acusado o Irã, majoritariamente muçulmano xiita, de realizar ataques a suas instalações de petróleo, o que Teerã nega. Riad não culpou nenhuma das partes pelos ataques de sábado
Histórico recente
- Em junho, houthis atacaram aeroportos na Arábia Saudita em represália à uma ofensiva saudita na capital do Iêmen, Sanaa
- Os EUA culpam o Irã pois veem os ataques dentro de uma série de atentados contra petroleiros no Estreito de Hormuz nos últimos meses. Teerã estaria respondendo às sanções econômicas impostas por Washington à indústria petroleira do país, sufocando a principal fonte de renda local
- Pelo Estreito de Hormuz, um canal de águas internacionais, trafega cerca de 20% do petróleo mundial. O Irã detém certo controle da região, por possuir armamentos poderosos, mas os EUA também têm forte presença militar no local
- A relação entre Teerã e Washington vem piorando desde que os EUA se retiraram unilateralmente do acordo nuclear com o país, em 2018, e então proibiram seus aliados de importarem petróleo iraniano. Em represália, o Irã aumentou sua produção de urânio enriquecido, elemento que pode ser usado em armas nucleares
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.