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Apesar de avanço econômico no Chile, oferta de serviço público é limitada

Se precisar, país parece ter bom espaço fiscal para aumentar os gastos sociais

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São Paulo

Nenhum outro país sul-americano teve melhor desempenho econômico do que o Chile das últimas décadas.

Estopim da revolta, o moderno metrô de Santiago é exemplo visível do atual grau de desenvolvimento do país.

Com 139 km de extensão e 164 estações, é o maior e mais sofisticado da América do Sul. Como comparação, o paulistano tem 96 km e 84 estações.

Desde o início dos anos 2000, como resultado de reformas liberalizantes, o Chile mais que dobrou o seu PIB per capita anual, de US$ 11,3 mil para US$ 26,3 mil. Na América do Sul, o aumento foi de US$ 8,8 mil para US$ 16 mil. 

No Brasil, de US$ 9,1 mil para US$ 16,5 mil, considerando a paridade do poder de compra.

No mesmo período, o Chile também reduziu de 36% para 8,6% o total de pessoas na extrema pobreza, e tem hoje, relativamente, menos miseráveis do que o Brasil (11,2%).

Já o PIB por trabalhador ocupado de Chile e Brasil era mais ou menos o mesmo em 1980. De lá para cá, o indicador chileno cresceu 83%; o do Brasil, 9%. Um trabalhador chileno é 1,8 vez mais produtivo que um brasileiro hoje.

Em relação à desigualdade de renda, em 2006 os 20% mais ricos no Chile obtinham rendimentos dez vezes maiores do que os 20% mais pobres. Hoje, a diferença é de 8,9 vezes.

Numa série mais longa, pelo índice de Gini, a redução da desigualdade no Chile foi maior do que na maioria dos países latino-americanos. 

Mas, na comparação com outros membros da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), o Chile é o mais desigual, seguido por México, Turquia e Estados Unidos.

Já o Relatório da Desigualdade Global, da Escola de Economia de Paris, sustenta que o Chile é o terceiro país do mundo que mais concentra renda no 1% mais rico.

Segundo esses dados, que combinam pesquisas domiciliares, contas nacionais e declarações de IR, o 1% mais rico no Chile se apropria de 23,7% da renda total —atrás somente dos super-ricos no Brasil (28,3%) e no Qatar (29%).

Um dos homens mais ricos do Chile é o atual presidente Sebastian Piñera. Com fortuna estimada em US$ 2,8 bilhões constituída nas áreas de cartão de crédito, TV e aviação, Piñera pode ter ajudado a inflamar os manifestantes ao chamá-los de “deliquentes” há poucos dias.

Mas, apesar dos notáveis avanços econômicos e sociais dos últimos anos, o Chile é um país que oferece serviços públicos bastante limitados.

Na área da educação, por exemplo, o governo da ex-presidente socialista Michelle Bachelet também enfrentou uma série de protestos de rua, em 2014 e 2017, que exigiram aumento de gastos.

Com carga tributária e endividamento público relativamente baixos (equivalentes a 20,4% e 23,5% do PIB, respectivamente), e ao contrário do Brasil (32,4% e 80%), o Chile, se precisar, parece ainda ter bom espaço fiscal para aumentar os gastos sociais.

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