Depois de cerca de dois meses de depoimentos fechados e públicos, o Comitê de Inteligência da Câmara dos Deputados dos EUA divulgou nesta terça-feira (3) um relatório de 300 páginas sobre o processo de impeachment contra o presidente Donald Trump.
No texto, o Comitê liderado pelos democratas acusa o republicano de abusar de seu poder ao pressionar a Ucrânia para que investigasse seu rival democrata Joe Biden, o que configuraria interferência estrangeira nas eleições.
O documento afirma ainda que Trump tentou impedir o Congresso de levar a cabo o inquérito do impeachment.
A Casa Branca respondeu que os democratas conduziram um “processo de fraude unilateral”, que não provou irregularidades de Trump, e que o relatório “parece com as divagações de um blogueiro de fundo de quintal.”
Trump, que está em Londres para a cúpula da Otan, nega as acusações e diz que os democratas tentam subverter o resultado da eleição de 2016.
O que aconteceu até agora?
No início de setembro, um delator anônimo apontou um pedido de Trump de interferência estrangeira nas eleições de 2020. A solicitação foi feita em um telefonema no dia 25 de julho para o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, no qual o americano o pressionava a investigar seu adversário democrata Joe Biden. Logo antes da ligação, Trump congelou uma ajuda militar de US$ 400 milhões à Ucrânia. A delação foi corroborada pela transcrição do telefonema divulgada pela Casa Branca e pelos depoimentos de diplomatas e oficiais de segurança
Cronologia do processo
25.jul Trump liga para presidente da Ucrânia e pede que ele investigue os Biden
24.set democrata Nancy Pelosi anuncia a abertura do processo de impeachment
25.set transcrição da ligação é divulgada pela Casa Branca
11.out a 2.nov Comitê de Inteligência colhe depoimentos privados
13.nov a 28.nov audiências públicas de quem havia dado depoimentos privados
20.nov depoimento de Gordon Sondland, embaixador dos EUA na UE, implica o alto escalão do governo
3.dez até o Natal Comitê Judiciário formaliza as acusações para votação na Câmara
Presidentes que sofreram processo de impeachment
Andrew Johnson, 1868
Sucessor de Abraham Lincoln, divergiu do Congresso sobre como lidar com os ex-escravos após a Guerra de Secessão; a Câmara votou a favor, mas o Senado vetou a cassação de seu mandato
Richard Nixon, 1973-1974
Em processo detonado pelo caso Watergate, foi acusado de abuso de poder e obstrução de Justiça; renunciou para evitar ser cassado, tornando-se o primeiro presidente dos EUA a se demitir
Bill Clinton, 1998-1999
Com acusação de perjúrio e obstrução de Justiça, o inquérito começou com o caso da estagiária com quem Clinton teria tido relações sexuais; a Câmara votou por abrir o processo, mas o Senado barrou
Donald Trump, 2019
Pode ter violado a lei de financiamento de campanha e ser acusado de extorsão, suborno e mau uso de dinheiro público; além de obstrução do Congresso, pois a Casa Branca tem se recusado a colaborar
Como os norte-americanos se informam
As redes sociais são a principal fonte de informação sobre o governo, acessadas diversas vezes ao dia por 33% dos respondentes; a TV a cabo vem em segundo lugar, com 21%; 10% se informam pelo próprio presidente e apenas 6% por jornais de grande circulação
No entanto, as redes sociais são menos confiáveis do que a mídia tradicional: 11% dizem confiar nelas, ao passo em que 19% acreditam nos jornais de grande circulação, 27% em canais de TV locais e 31% em rádios públicas, o maior índice
Fonte: pesquisa State of the Facts 2019, da Associated Press, realizada em outubro
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