Descrição de chapéu The Washington Post

Para conter danos, lugares exigem que turistas façam juramento de que vão se comportar

'Não vou arriscar a vida por mais curtidas', diz a promessa exigida em Bend, nos EUA

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Hanna Sampson
The Washington Post

"Beba água da torneira." "Permaneça nos caminhos demarcados." "Respeite os moradores." "Não alimente animais silvestres."

Essas são apenas algumas das promessas que os destinos turísticos do mundo, de Aspen à Nova Zelândia, querem obter dos visitantes, tudo em nome de aliviar o peso do turismo de massa.

Embora a maioria das promessas careça de instrumentos de fiscalização, alguns especialistas afirmam acreditar que são valiosas para criar expectativas para os viajantes e deixar claro o peso moral do turismo.

"Acho que há, sem dúvida, um elemento educacional forte e valioso", disse Gregory Miller, diretor-executivo do Centro para Viagens Responsáveis. "Relacionado a isso, há apenas uma consciência geral dos enormes valores naturais, culturais e históricos de um determinado destino."

Praia em Palau, na Oceania - Fotolia

Outro elemento, segundo ele, é "um compromisso importante —o de fazer opções e mostrar bom comportamento".

A Islândia —que se tornou um estudo de caso do rápido aumento do turismo de massa— adotou o Juramento da Islândia em meados de 2017, instando os turistas a ser responsáveis por cumprir várias regras.

Elas incluem não se aventurar fora das estradas, usar locais apropriados para acampar, estacionar em áreas permitidas e praticar selfies seguras.

"Vou tirar fotos de morrer, sem morrer por elas", diz uma frase. Outra diz respeito a necessidades físicas: "Quando a natureza chamar, não vou atender o chamado sobre a natureza".

Sigridur Dogg Gudmundsdottir, gerente de relações públicas do órgão de turismo Visite a Islândia, diz que quase 70 mil pessoas assinaram até agora. Elas podem fazer isso online ou no aeroporto, onde podem pressionar um botão em uma tela e ver o número de promessas aumentar à sua frente.

"Estamos tentando falar com o código de honra dos turistas que chegam à Islândia, e não queremos proibir demais", diz ela.

"Preferimos enviar a mensagem de maneira tranquila e pedir às pessoas que se unam a nós neste empreendimento para sermos responsáveis e preservar a beleza natural da Islândia."

Outros destinos fizeram o mesmo, como Bend, no Oregon; Big Sur, na Califórnia; a ilha do Havaí com sua Promessa de Pono; e a Nova Zelândia com a Promessa de Tiaki.

A Finlândia apresentou seu Compromisso Finlândia Sustentável em setembro. Aspen, no Colorado, lançou seu próprio juramento em 2018, e a Associação de Câmaras de Resorts de Aspen o associou a uma campanha para "localizar responsavelmente": não usar marcação geográfica (geotags) nas fotos do Instagram de lugares que correm o risco de ficar superlotados de turistas.

Muitas promessas incluem temas comuns: trate o lugar com respeito, não deixe lixo, permaneça em caminhos marcados e durma em acampamentos oficiais.

A segurança nas redes sociais é outra constante. ("Não vou arriscar a vida ou um membro humano ou vegetal por mais 'curtidas'", diz a promessa de Bend.)

E algumas são extremamente específicas para seus destinos. A Promessa de Pono, no Havaí, observa: "A lava derretida me hipnotizará, mas não vou atrapalhar seu fluxo".

Palau, um arquipélago no Oceano Pacífico, diz que é o primeiro país a mudar suas leis de imigração para exigir que todos os visitantes, ao chegar, assinem uma promessa em seus passaportes, endereçada às crianças do país.

Mais de 239 mil pessoas aderiram desde que a Promessa de Palau foi implementada no final de 2017.

"O juramento foi considerado necessário depois que o comportamento descuidado dos visitantes começou a desgastar a natureza virgem de Palau e a ter um impacto negativo em sua cultura", diz o site da iniciativa.

Ele observa que o governo aprovou políticas que sujeitam os visitantes que violarem a promessa a multas de até US$ 1 milhão.

Nenhuma outra promessa parece apresentar uma ameaça de multa, embora algumas alertem para comportamentos infratores.

O Juramento da Islândia, por exemplo, inclui esta promessa: "Vou seguir o caminho para o desconhecido, mas nunca me aventurar fora do caminho".

Gudmundsdottir disse que as pessoas podem ser multadas por dirigir fora da estrada, mas isso não está relacionado à promessa. "Essa é apenas a lei do país", diz ela.

Da mesma forma, na Finlândia, deixar lixo pode resultar em multa ou até dois anos de prisão, de acordo com Liisa Kokkarinen, gerente de projetos da Visite a Finlândia, responsável pela Viagem Sustentável Finlândia.

E as pessoas podem enfrentar multas ou outras implicações legais por violar, sem saber, os "direitos comuns" do país, pescando sem permissão, saindo dos caminhos demarcados ou retirando recursos naturais de áreas protegidas.

"A promessa é proteger os viajantes que visitam a Finlândia e conscientizá-los sobre essas regras e responsabilidades gerais", disse Kokkarinen em um email.

"Como os visitantes podem não conhecer as diferentes regras nas áreas naturais, a promessa oferece uma maneira de orientá-los para o comportamento respeitoso que se espera deles enquanto visitam a Finlândia."

Além de educar os turistas para ser mais responsáveis, disse Kokkarinen, a promessa é um guia para as pessoas viajarem do modo que a maioria das pessoas diz desejar hoje em dia: como um morador local.

"A promessa dá uma janela para os viajantes 'serem como um finlandês'", disse ela.

"Muitos turistas apreciam a cultura e o ambiente que estão visitando e buscam maneiras de agir como os locais para ter uma experiência mais profunda no destino."

Alguns juramentos foram além das promessas e entraram numa esfera de ação diferente: arrecadar dinheiro.

O Juramento pela Natureza Selvagem, lançado neste verão, é uma iniciativa de cinco cidades nas montanhas dos Estados Unidos —Bend; Bozeman, em Montana; Flagstaff, no Arizona; Steamboat Springs, no Colorado; e South Lake Tahoe, na Califórnia e em Nevada— que incentiva os visitantes a doar dinheiro para manter os espaços públicos.

"Convidamos você a considerar uma promessa de US$ 1 por hora pelo tempo que você praticar mountain bike, caminhar até picos incríveis ou pelos campos floridos, pescar em rios e lagos cristalinos, ou qualquer outra aventura épica que você tiver", diz o site.

Ele fornece códigos para que as pessoas enviem mensagens de texto para um número e façam doações, e o dinheiro é destinado às organizações de cada comunidade que mantêm trilhas ou outros espaços públicos.

"O que realmente estamos falando é mudar a maneira como as pessoas visitam um destino e como elas têm um impacto financeiro nesse local", disse Kevney Dugan, presidente e CEO da Visite Bend, que ajudou a lançar a Promessa pela Natureza Selvagem.

Sua organização introduziu a Promessa de Bend em 2017, mas ele percebeu que havia potencial para pedir mais aos visitantes.

"Mesmo que você não prometa dinheiro, acreditamos que esse esforço o fará pensar um pouco mais sobre o local que está visitando, como sua visita afeta esse destino, e ser um pouco mais ponderado sobre como desfrutar esses espaços", disse ele.

Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves 

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