Grécia barra 4 mil refugiados em um dia após Turquia liberar fronteira

Batalha na Síria gera nova onda de imigrantes que tentam chegar à Europa

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Pazarkule (Turquia) | AFP

Após a Turquia anunciar que deixará de impedir o fluxo de imigrantes rumo à Europa, a Grécia e a Bulgária fecharam suas fronteiras e passaram a barrar ondas de viajantes. 

O governo grego disse que impediu 4 mil imigrantes vindos da Turquia de entrarem em seu território entre sexta-feira (28) e sábado (29). "A Grécia foi confrontada ontem [sexta] com uma tentativa organizada, em massa e ilegal, de violação de nossas fronteiras", disse Stelios Petsas, porta-voz do governo.

Imigrantes se aglomeram perto da fronteira entre Turquia e Grécia em Pazarkule - Bulent Kilic/AFP

De acordo com a Organização Internacional para as Migrações, agência da ONU, ao menos 13 mil pessoas estão ao largo dos 212 km da fronteira.

Essa nova onda de imigração é motivada pelos confrontos em Idlib, na Síria. O regime do ditador Bashar al-Assad realiza uma ofensiva para tentar acabar com o último reduto dos opositores.

Milhares de pessoas fugiram, parte delas rumo à Turquia. Como o governo turco diz não ter condições de receber mais refugiados, pressiona a Europa para obter ajuda. 

Na fronteira entre a Turquia e a Grécia, a situação é tensa. Milhares de pessoas se reuniram na esperança de entrar na Europa. Houve confrontos entre policiais gregos disparando gás lacrimogêneo e migrantes lançando pedras.

Milhares de migrantes, incluindo afegãos, iraquianos e sírios, passaram a noite na fronteira, reunidos em torno de fogueiras improvisadas perto do posto de Pazarkule.

Na fronteira grega, onde as nuvens de gás lacrimogêneo se misturavam com a fumaça acre das fogueiras, os migrantes esperavam a oportunidade de passar.

"Se os gregos não reabrirem a fronteira, tentaremos passar clandestinamente. Fora de questão voltar para Istambul", declarou Ahmad Barhoum, um refugiado sírio que pernoitou no local.

Um migrante egípcio que pediu anonimato disse que aguarda "uma decisão da padroeira da União Europeia, Angela Merkel", chanceler alemã cujo país recebeu centenas de milhares de pessoas durante a crise migratória em 2015.

Em 2016, a Turquia assinou um pacto com Bruxelas para reduzir o fluxo de migrantes, especialmente para a Grécia. No entanto, ameaça romper esse acordo para tentar obter apoio na guerra na Síria. 

Na quinta-feira, Ancara sofreu as mais pesadas baixas desde o início de sua intervenção na Síria, com 33 soldados mortos em ataques aéreos atribuídos ao regime de Assad, apoiado por Moscou, em Idlib, no noroeste do país. Outro soldado turco foi morto na sexta-feira.

As forças turcas responderam e afirmaram que destruíram uma instalação de armas químicas.

Tensão entre Rússia e Turquia

Enquanto as relações entre Ancara e Moscou se deterioram rapidamente devido à crise em Idlib, Erdogan endureceu o tom em relação ao presidente russo, Vladimir Putin, com quem, no entanto, esforça-se para cultivar um relacionamento próximo desde 2016.

Erdogan disse que conversou com Putin por telefone na sexta-feira. "Disse ao sr. Putin: 'O que você está fazendo lá [na Síria]? Se você deseja estabelecer uma base, vá em frente, mas saia do nosso caminho. Deixe-nos sozinhos com o regime'", afirmou o presidente turco.

Mais conciliatório, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, afirmou neste sábado que russos e turcos expressaram o desejo de uma redução das tensões na Síria durante reuniões entre autoridades dos dois países nos últimos dias.

Segundo o Kremlin, os dois presidentes poderão se reunir em Moscou na próxima semana.

Nas últimas semanas, Erdogan pediu repetidamente às forças sírias que se retirassem de certas áreas em Idlib até o final de fevereiro, ameaçando com o uso da força. Em teoria, o prazo expira neste sábado.

O regime sírio, apoiado por Moscou, conduz uma ofensiva desde dezembro para retomar a província de Idlib, a última fortaleza rebelde.

No terreno, os confrontos entre rebeldes e o regime continuam em torno da cidade estratégica de Saraqeb, no sul da província de Idlib, de acordo com o Observatório Sírio de Direitos Humanos, que no entanto observa uma redução na intensidade dos bombardeios russos e turcos.

Os combates e os bombardeios causaram um desastre humanitário, provocando o deslocamento de quase um milhão de pessoas em Idlib. O conflito na Síria já deixou mais de 380 mil mortos desde 2011.

A situação preocupa entidades humanitárias, que na sexta-feira multiplicaram os pedidos pelo fim das hostilidades. Mas, além da solidariedade verbal, Ancara pede ajuda concreta.

"Não conseguiremos enfrentar uma nova onda de refugiados" de Idlib, alertou Erdogan, acusando a União Europeia de não ter fornecido toda a ajuda financeira prometida para acolher os refugiados na Turquia.

"A Europa deve cumprir suas promessas (...) Se é sincera, deve assumir sua parte do fardo", afirmou. 

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