O papa Francisco disse que o mundo pode passar por um “genocídio viral” caso os governos priorizem a economia, e não a saúde, durante a pandemia de coronavírus.
A afirmação faz parte de uma carta enviada pelo pontífice a uma entidade cristã argentina e que foi divulgada nesta segunda (30) pelo Vaticano.
No documento, Francisco afirma que muitos países “tomaram medidas exemplares, com prioridades bem claras para defender a população”.
“E isso é importante porque todos sabemos que defender as pessoas pressupõe um descalabro econômico. Seria triste se alguém fizesse o contrário, o que levaria à morte de muita gente, algo como um genocídio viral”, diz o texto.
Apesar disso, o papa também pediu aos países que se preparem para enfrentar os problemas sociais causados pelo impacto econômico da pandemia.
“Já se notam algumas consequências que devem ser enfrentadas: fome, principalmente das pessoas sem trabalho fixo, violência, usura, a verdadeira praga do futuro social, criminosos desumanizados”, afirma no texto.
O argentino também se disse preocupado com o crescimento do número de infectados e mortos e elogiou o trabalho de “médicos, enfermeiras, voluntários, religiosos e sacerdotes que arriscam suas vidas para curar e defender as pessoas saudáveis do contágio”.
A carta de Francisco, assim, vai de encontro às declarações do presidente brasileiro, Jair Bolsonaro (sem partido), que em seus discursos tem dado ênfase aos problemas econômicos causados pelo combate à pandemia e minimizado as questões de saúde provocadas pelo coronavírus.
Já o papa desde o início da crise tem alertado para os perigos do vírus e pedido que os governos se esforcem para proteger a população mais vulnerável.
Na última sexta (27), Francisco rezou em uma praça São Pedro vazia em uma cerimônia especial contra a Covid-19.
Durante o evento, ele também beijou o pé de uma peça conhecida como crucifixo milagroso, que, diz a tradição cristã, salvou Roma da peste negra há quase 500 anos.
Segundo a lenda, a epidemia que atingiu a cidade em 1522 acabou após uma procissão de 16 dias com o crucifixo pelas ruas.
Na cerimônia, Franscisco também deu a bênção conhecida como "Urbi et Orbi" (à cidade e ao mundo), uma das mais importantes do catolicismo, e que em geral é reservada apenas para ocasiões especiais, como o Natal e a Páscoa —desta vez, ela foi dada exatamente por causa do coronavírus.
Até onde se sabe, foi a primeira vez na milenar história da Igreja Católica que o "Urbi et Orbi" aconteceu em uma praça de São Pedro vazia.
A bênção permite que os mais de 1,3 bilhão de católicos no mundo obtenham a indulgência plenária, ou seja, o perdão de seus pecados.
A Itália é um dos países mais atingidos pela pandemia atual, com 101.739 casos confirmados e 11.591 mortes —só na última sexta, quase mil pessoas morreram no país em decorrência do vírus. Já o Vaticano teve seis casos confirmados até o momento.
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