O Taleban não participará de negociações com o governo afegão até que cerca de 5.000 de seus prisioneiros sejam libertados, informou um porta-voz do grupo nesta segunda-feira (2).
"Se nossos 5.000 prisioneiros —100 ou 200 a mais ou a menos, não importa— não forem soltos, não haverá conversas dentro do Afeganistão", disse Zabihullah Mujahid à agência Reuters.
A maioria dos prisioneiros da lista foi capturada pelas forças americanas e mantida em prisões do governo afegão, segundo o porta-voz. Ele acrescentou que priorizam a soltura de doentes e mais velhos.
No dia anterior, o presidente do Afeganistão, Ashraf Ghani, havia rejeitado a demanda de libertar prisioneiros para que o governo negocie com o grupo islâmico. A libertação está incluída em um acordo de paz entre os Estados Unidos e Taleban anunciado no sábado (29).
Pelo acordo, ambos os lados estão empenhados em trabalhar para soltar prisioneiros de combate e políticos como medida de fortalecimento da confiança entra as duas partes.
Quando da assinatura do acerto, a informação era de que os governos americano e afegão tinham prometido libertar 5.000 prisioneiros ligados ao Taleban e, em troca, o grupo liberaria outros 1.000 presos.
O pacto foi assinado pelo enviado especial dos EUA Zalmay Khalilzad e pelo chefe político do Taleban, o mulá Abdul Ghani Baradar, tendo como testemunha o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo.
O objetivo é colocar fim a um conflito que já dura quase 20 anos.
Pelo acerto, o Taleban se compromete a parar de fazer ataques, a não apoiar grupos terroristas e a negociar com o governo afegão. Em troca, todas as tropas dos EUA e da coalizão da Otan deixarão o país até abril de 2021, e o Taleban ficará livre de sanções, caso os termos acordados sejam cumpridos.
A retirada de tropas será feita de forma gradual ao longo de meses, e o número de militares estrangeiros no Afeganistão será reduzido de cerca de 14 mil para 8.600 até julho. No entanto, caso haja o retorno da violência no país, o processo poderá ser revertido.
Os EUA esperam que as negociações do acordo possam começar nos próximos dias, mas diplomatas e analistas ocidentais veem grandes desafios pela frente.
Ghani disse à rede CNN no domingo que o presidente dos EUA, Donald Trump, não havia pedido a libertação dos prisioneiros e que essa questão deveria ser discutida como parte de um acordo de paz abrangente.
A história das negociações entre os EUA e o Taleban no Afeganistão
- Fim dos anos 1990: governo Clinton estabelece contatos secretos com o Taleban, mas isso não impede os ataques de 11 de setembro de 2001, quando a Al Qaeda derruba as torres gêmeas em NY; em resposta, os EUA enviam tropas ao Afeganistão, acusado de abrigar membros da organização
- 2001: membros do Taleban começam uma guerrilha contra as tropas americanas a partir do Paquistão, avançando progressivamente em território afegão
- 2004: primeiras tentativas de diálogo para encerrar a guerra fracassam
- 2011: novas tentativas de conversa também não obtêm sucesso
- 2013: o Taleban abre um escritório político no Qatar para negociar com os EUA, mas negociações são novamente interrompidas
- 2015: o presidente afegão propõe negociações de paz com o Taleban e o reconhecimento de seu movimento como partido político, mas membros do grupo ignoram a proposta
- 2018: presidente afegão faz a oferta novamente e anuncia um cessar-fogo unilateral, fazendo com que o Taleban anuncie três dias de paz —a luta é interrompida pela primeira vez desde 2001; em seguida, os EUA reconhecem que o conflito não tem "solução militar" e inicia negociações diretas com o Taleban em Doha
- 2019: no início de setembro, ambas as partes estão prestes a chegar a um acordo, mas Trump anuncia que os diálogos serão interrompidos após a morte de um soldado americano em um ataque do Taleban a Cabul; novas negociações se iniciam em novembro
- 2020: em janeiro, os EUA exigem que o Taleban se comprometa a reduzir a violência, e os insurgentes aceitam a condição; um mês mais tarde e após 19 anos de presença militar no país, Washington assina acordo de retirada do Exército americano da região
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