Descrição de chapéu Diplomacia Brasileira

Ernesto chama FHC e Ricupero de paladinos da hipocrisia em reação a artigo

Chanceler afirma que autores de texto sobre atual política externa 'precisam vir aprender conosco como se defende a Constituição'

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São Paulo

Em uma série de mensagens publicadas em uma rede social, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, chamou de "paladinos da hipocrisia" o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o ex-chanceler Celso Amorim e o ex-embaixador do Brasil em Washington Rubens Ricupero.

As declarações também tinham como alvo outros diplomatas, a quem Ernesto chamou de "figuras menores". O chanceler reage a artigo publicado na Folha e em outros jornais nesta sexta-feira (8) no qual FHC, Amorim e Ricupero, além de Aloysio Nunes Ferreira, Celso Lafer, Francisco Rezek, José Serra e Hussein Kalout, condenam a política externa brasileira do governo de Jair Bolsonaro.

De acordo com os autores do texto, a diplomacia atual contraria os princípios da Constituição que orientam as relações internacionais do país. Em resposta, Ernesto disse que eles "precisam vir aprender conosco como se defende a Constituição".

"Se querem implementar de novo seus falidos projetos de política exterior para servir a um sistema de corrupção e atraso, muito bem", escreveu o ministro. "Apresentem esse projeto ao povo e disputem uma eleição. Não fiquem usando a Constituição como guardanapo para enxugar da boca a sua sede de poder."

No artigo, FHC, Amorim, Ricupero e os outros autores afirmam que não é possível "conciliar independência nacional com a subordinação a um governo estrangeiro cujo confessado programa político é a promoção do seu interesse acima de qualquer outra consideração", em referência ao alinhamento do Brasil aos Estados Unidos de Donald Trump.

Condenam ainda, entre outros aspectos da atual gestão do Itamaraty, o "voto na ONU pela aplicação de embargo unilateral" contra Cuba, que rompeu uma tradição de 27 anos da diplomacia brasileira, o "apoio a medidas coercitivas em países vizinhos" e "o desapreço por questões como a discriminação por motivo de raça e de gênero".

"Na América Latina, de indutores do processo de integração, passamos a apoiar aventuras intervencionistas, cedendo terreno a potências extrarregionais."

Na série de postagens, Ernesto se defendeu de parte dos apontamentos feitos pelos autores do texto.

Escreveu que, ao atuar "para desmantelar a rede de corrupção, ditadura, narcotráfico e terrorismo que é o Foro de São Paulo, fizemos mais pela integração latino-americana do que volumes e volumes de discurseira integracionista", citando a aliança formada por diversos partidos de esquerda da América Latina que hoje é um órgão de pouca representação política.

Afirmou também repudiar o racismo, "onde quer que ele se esconda". "Por exemplo entre os que afirmam que certos povos 'não são capazes de viver em democracia' e precisam de um 'governo forte'. Todos os países, raças e culturas precisam de liberdade."

O chanceler ainda afirmou que trabalha pela liberdade de expressão, de religião, "pelo direito sagrado à vida" e que "quem propõe 'governança global' é que fere a Constituição Federal", em mais uma referência ao globalismo que tanto condena.

Segundo movimentos de direita, o globalismo orientaria instituições internacionais a interferir na soberania de países e a apagar tradições nacionais. Por isso, o governo costuma criticar organizações multilaterais, como a ONU (Organização das Nações Unidas) e, mais recentemente, a OMS (Organização Mundial da Saúde).

FHC, além de ex-presidente da República (1994-2002), foi também ministro das Relações Exteriores, assim como Nunes, Lafer, Rezek e Serra. Já Kalout foi secretário especial de Assuntos Estratégicos da Presidência.

Ao todo, os oito autores do artigo contrário à atual política externa brasileira representam cinco governos diferentes da Nova República. Parte do grupo se reuniu no final de abril, em debate promovido pela Brazil Conference da Universidade Harvard, para discutir os rumos da diplomacia atual.

Na ocasião, classificaram a gestão de Ernesto à frente do Itamaraty de "irracional, uma vergonha, um desastre, subserviente, lunática" e afirmaram que ela gera desprestígio.

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