Zoom bloqueia conta de grupo baseado nos EUA crítico à China

Suspensão temporária abre suspeitas sobre liberdade de expressão no serviço de videoconferência

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Washington e Xangai | AFP e Reuters

O aplicativo Zoom informou nesta quarta-feira (10) que bloqueou temporariamente uma conta americana de ativistas que organizaram uma reunião virtual em memória das vítimas da repressão do regime chinês na praça da Paz Celestial.

O ato abre suspeitas sobre a liberdade de expressão no serviço de videoconferência amplamente utilizado durante a pandemia de coronavírus.

Ativistas do grupo Humanitarian China, com sede nos Estados Unidos, utilizaram o Zoom para conectar mais de 250 pessoas e recordar o massacre de Pequim de 4 de junho de 1989, quando tropas chinesas abriram fogo contra estudantes e ativistas que protestavam pela democracia.

Manifestante em Hong Kong segura fotografia que ficou famosa por retratar a repressão do regime chinês na praça da Paz Celestial, em 1989 - Anthony Wallace - 4.jun.20/AFP

Zhou Fengsuo, cofundador do grupo e número um na lista de mais procurados de Pequim após a repressão da praça da Paz Celestial, disse à agência de notícias AFP que a conta no aplicativo foi reativada nesta quarta, embora a plataforma não tenha informado o motivo da suspensão.

"Como qualquer empresa global, devemos cumprir as leis aplicáveis nas jurisdições em que operamos", disse um porta-voz do Zoom. Ao realizar uma reunião de vários países, "os participantes dentro desses países devem cumprir suas respectivas leis locais".

"Nosso objetivo é limitar as ações que tomamos às necessárias para cumprir a lei local, e revisar e melhorar continuamente nosso processo nessas questões", acrescentou o representante da empresa.

O Humanitarian China disse que o evento realizado no último dia 31 contou com a participação de mais de 250 pessoas em todo o mundo, enquanto mais de 4.000 o transmitiram nas mídias sociais, muitas das quais eram da China.

O aniversário da sangrenta repressão chinesa aos protestos pró-democracia na praça da Paz Celestial é, entretanto, um assunto altamente sensível no país, e o conteúdo relacionado a ela é regularmente bloqueado ou censurado pelas autoridades.

Ativistas acusam a plataforma de videoconferência de estar sob pressão direta dos líderes comunistas da China.

"Nesse caso, o Zoom é cúmplice em apagar as memórias do massacre da praça da Paz Celestial em colaboração com um governo autoritário", indica um comunicado do Humanitarian China.

Neste ano, autoridades de Hong Kong, território semi-autônomo que dispõe de liberdades individuais não vistas na China continental, proibiram a tradicional vigília em memória das vítimas do massacre citando o risco de propagação do coronavírus.

Ativistas denunciaram que houve motivações políticas por trás da proibição, já que a polícia tem utilizado os mesmos argumentos sobre o distanciamento social para limitar manifestações pró-democracia.

Os organizadores, no entanto, desafiaram o impedimento e fizeram manifestações em Victoria Park, onde, tradicionalmente, é realizada a vigília, e na Universidade de Hong Kong, onde uma escultura chamada Pilar da Vergonha celebra a memória das vítimas, além de outros pontos da ex-colônia britânica.

Se antes da quarentena o Zoom tinha cerca de 10 milhões de participações em reuniões por dia, hoje são mais de 300 milhões, mesmo com as ameaças de ataques virtuais que colocariam em risco a privacidade dos usuários. A fortuna de seu fundador, Eric Yuan, acompanhou a escalada de acessos.

Aos 49 anos, quase metade deles vividos nos EUA, o chinês viu seu patrimônio chegar a US$ 7,8 bilhões (quase R$ 45 bilhões) em 2020 —US$ 4 bilhões (R$ 22 bilhões) somente nos três primeiros meses do ano.

Em dois meses, as ações do Zoom subiram 50% —enquanto as bolsas derretiam em meio à crise. A empresa, que valia US$ 29 bilhões (R$ 159 bilhões) antes da pandemia, passou a ser cotada em US$ 44 bilhões (R$ 241 bilhões).

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