Líder da OMS reage aos EUA e diz que críticas à independência do órgão são inaceitáveis

Secretário de Estado acusou diretor-geral do órgão de usar China para ganhar eleições

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Genebra | Reuters

O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom, disse nesta quinta (23) que são inaceitáveis as acusações do secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, sobre a independência do órgão.

Na terça-feira (21), de acordo com o jornal The Guardian, em um encontro privado com políticos no Reino Unido, Pompeo disse que o chefe da OMS firmou um acordo com a China para ganhar as eleições da organização e o responsabilizou pela morte de diversos britânicos durante a pandemia.

“Esses comentários são falsos, inaceitáveis e sem fundamento nenhum”, afirmou Tedros em entrevista coletiva em Genebra. "Nosso único foco —e o foco de toda a organização— é salvar vidas.”

O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, durante entrevista coletiva em Genebra, na Suíça
O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, durante entrevista coletiva em Genebra, na Suíça - Fabrice Coffrini - 3.jul.20/Reuters

Em uma teleconferência no início do mês, o diretor-geral disse que a comunidade internacional está dividida e que esse contexto faz com que o novo coronavírus ganhe terreno.

A declaração foi uma resposta sutil à saída dos EUA da organização, confirmada pelo governo de Donald Trump poucos dias antes.

A Casa Branca culpa a OMS, acusada pelo presidente americano de ser um fantoche dos interesses chineses, e o próprio país asiático pela pandemia da Covid-19, uma vez que a cidade de Wuhan foi a primeira a registrar casos do novo coronavírus, em dezembro.

O patógeno se espalhou com rapidez pelos EUA após o registro do primeiro caso no território americano, em 21 de janeiro. O país levou 98 dias para atingir 1 milhão de casos, mais 43 dias para atingir 2 milhões e, em seguida, 27 dias para atingir 3 milhões.

Agora, a cifra de infecções supera os 4 milhões. No mundo, 15 milhões de pessoas já foram infectadas e mais 625 mil pessoas morreram por conta do novo coronavírus.

Agência da ONU criada em 1948, a OMS é uma entidade de escopo limitado e com fragilidades evidentes, afirma Charles Clift, pesquisador da Chatam House, centro de estudos britânico, e ex-consultor da OMS.

Para ele, a capacidade para combater uma pandemia como a atual depende do empenho dos países membros. São eles que fornecem o financiamento e as informações para que as decisões técnicas sejam tomadas pela entidade. “A OMS se baseia apenas nos dados que os países passam”, afirma.

Um problema estrutural do órgão é que ele é chamado a agir contra epidemias de caráter global com base numa estrutura ultrapassada, diz Andrew Lakoff no livro “Unprepared – Global Health in a Time of Emergency” (despreparados – saúde global em tempos de emergência), lançado em 2017.

Segundo ele, “a habilidade desta moldura para governar as ações dos Estados em nome do espaço público de saúde global é muito restrita”. Sem força política, a entidade tem sido alvejada em disputas entre inimigos estratégicos.

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