O Conselho de Segurança da ONU rejeitou nesta sexta-feira (14) uma resolução dos Estados Unidos para estender o embargo sobre a venda de armas ao Irã que vence em outubro, anunciou o secretário de Estado americano, Mike Pompeo. Ele chamou a decisão de um fracasso "indesculpável".
"Os EUA nunca abandonarão nossos amigos na região que esperavam mais do Conselho de Segurança. Continuaremos trabalhando para garantir que o regime teocrático terrorista não fique livre para comprar e vender armas que ameaçam o coração da Europa, do Oriente Médio e além", declarou em comunicado.
De acordo com Pompeo, o Conselho de Segurança, que tem como membros permanentes cinco grandes potências (Estados Unidos, China, Rússia, Reino Unido e França), "fracassou hoje no cumprimento de sua missão fundamental de manter a paz e a segurança internacionais".
"O conselho rejeitou uma resolução sensata para prolongar um embargo imposto há 13 anos e abriu o caminho para que o principal Estado que apoia o terrorismo no mundo possa comprar e vender armas convencionais sem restrições da ONU, pela primeira vez em mais de uma década", lamentou o secretário.
O voto desta sexta-feira poderia iniciar um longo embate diplomático com repercussões para o acordo internacional de 2015, assinado para impedir que Teerã adquirisse armas nucleares. Os EUA se retiraram desse acordo, mas outros países seguem nele, o que permite que o país siga livre de parte das sanções.
A decisão do Conselho de Segurança pode abrir espaço para que Washington pressione a ONU a reestabelecer as sanções internacionais retiradas devido ao acordo nuclear.
O embargo sobre as armas expira em 18 de outubro, e os Estados Unidos, apesar de terem se retirado do acordo nuclear iraniano em 2018 por considerá-lo insuficiente, ameaçam apelar para seu status de país "participante" no texto para impor unilateralmente o restabelecimento das sanções da ONU contra Teerã, suspensas em troca de compromissos do país persa em relação a seu programa nuclear.
Também nesta sexta, o governo Trump confiscou a carga de quatro navios iranianos com combustível que tentavam chegar à Venezuela, confirmou o Departamento de Justiça, como parte da campanha de Washington de pressão contra o governo do ditador Nicolás Maduro.
A operação resultou na apreensão de 1,1 milhão de barris de petróleo que, de acordo com as autoridades americanas, representa o maior confisco de combustível iraniano já feita.
A crise EUA-Irã
EUA e Irã vivem em crise diplomática desde o fim dos anos 1970, quando a Revolução Islâmica derrubou um governo apoiado pelos americanos.
O Irã fechou um acordo em 2015 para reduzir seu programa nuclear em troca do alívio a sanções econômicas. Em 2018, no entanto, o governo de Donald Trump retirou os EUA desse pacto, por acusar Teerã de descumprir os termos, e retomou as sanções de modo unilateral.
Depois de abandonar o trato, os EUA impuseram novas punições contra o país. O objetivo era estrangular a economia local. As restrições impedem que outros países comprem petróleo iraniano —cerca de 80% da economia depende do setor de óleo e gás.
A venda do Irã para o exterior caiu de 2,5 milhões de barris/dia em 2018 para 400 mil em maio de 2019.
Em resposta, o Irã voltou a avançar no enriquecimento de urânio, embora ainda em níveis distantes do necessário para se obter uma bomba, segundo os números divulgados.
Em janeiro, os EUA mataram o general Qassim Suleimani, principal comandante militar do Irã, em um ataque com drones. O Irã revidou com ataques a bases no Iraque e, acidentalmente, derrubou um avião de passageiros, com 176 a bordo.
Os ânimos militares se acalmaram depois disso, mas a tensão entre os dois países prossegue.
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