Governo cubano rompe negociações com artistas sobre liberdade de expressão

Diálogo iniciado há uma semana foi suspenso após manifestantes escolherem críticos do regime como representantes

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Havana | AFP

O Ministério da Cultura de Cuba rompeu, nesta sexta-feira (4), as negociações iniciadas há uma semana com um grupo de jovens artistas que exigem liberdade de expressão na ilha.

O regime comunista alega que pessoas financiadas pelos EUA ingressaram no grupo —a ditadura costuma acusar os dissidentes de serem mercenários controlados pelos americanos.

"O Ministro da Cultura não se reunirá com pessoas que têm contato direto e recebem financiamento, apoio logístico e suporte propagandístico do governo dos EUA e de seus funcionários", diz uma nota da pasta.

O ministério decidiu interromper o diálogo depois que os artistas incluíram nas negociações o performer Luis Manuel Otero Alcántara e outros integrantes do Movimento San Isidro. Alcántara é conhecido por performances que criticam abertamente o governo cubano.

O grupo realizou um protesto de dez dias que incluiu a greve de fome de vários integrantes. No dia 26 de novembro, a polícia entrou na sede do grupo, na área histórica de Havana, e desalojou os 14 jovens, alegando o perigo de propagação da pandemia de Covid-19.

Isso porque um dos presentes, o jornalista cubano Carlos Manuel Álvarez, não teria cumprido o protocolo de saúde ao desrespeitar o período de quarentena depois de retornar de uma viagem ao México.

Após a operação, os 14 membros do grupo foram submetidos a testes para detectar se foram contaminados pelo coronavírus e retornaram para suas casas, já que a sede do movimento havia sido fechada pelas autoridades. Alcántara, que se recusou a voltar para casa, continua detido em um hospital.

Um dia depois da ação da polícia, 300 artistas fizeram uma manifestação em frente ao Ministério da Cultura. O movimento ficou conhecido como 27N, em referência à data do protesto.

O ato foi impulsionado pela circulação de imagens dos protestos em redes sociais, resultado da recente expansão no acesso à internet móvel na ilha. Uma representação de 30 pessoas, dessas 300, foi recebida pelo vice-ministro Fernando Rojas.

Ativistas e artistas cubanos usam luzes de telefones celulares para protestar em frente ao Ministério da Cultura, em Havana - Yamil Lage/AFP

"Ao pretender incluir entre os participantes pessoas que se autoexcluíram, há muito tempo, por suas agressões aos símbolos pátrios, delitos comuns e ataques frontais à direção da Revolução Cubana, sob o disfarce da arte, os que instrumentalizaram esta manobra acabam de romper qualquer possibilidade de diálogo", acrescentou o ministério.

A pasta também disse que não se reuniria com a imprensa financiada por agências federais dos EUA. Uma das exigências dos artistas era que eles pudessem relatar o andamento das conversas para veículos de imprensa independentes.

As declarações do ministério foram a resposta a um email em que os 30 representantes exigiam a presença nas negociações do dirigente cubano, Miguel Díaz-Canel, e de representantes dos ministérios da Justiça e do Interior. A mensagem do governo também foi transmitida na TV estatal.

No comunicado, a pasta diz que continua disposta a dialogar com os artistas que se reuniram em frente ao órgão no dia 27 de novembro e que "não comprometeram sua obra com os inimigos da nação cubana".

Os artistas dizem que a participação dos representantes nas negociações não pode ser negociável, uma vez que eles foram eleitos democraticamente pelos manifestantes.

Os membros do Movimento San Isidro exigiam a libertação de um integrante do grupo, o rapper Denis Solís, detido em 9 de novembro e condenado a oito meses de prisão por desacato a autoridade. Na reunião do dia 27, o vice-ministro Rojas prometeu que examinaria o caso.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.