Biden planeja uma blitz de vacinação contra Covid, mas suprimentos estão escassos

Estoque existente só duraria até aplicação da segunda dose a pessoas que já foram vacinadas

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Washington | The New York Times

Correndo contra o aumento dos casos de coronavírus e o surgimento de uma nova variante que poderá agravar significativamente a crise de saúde pública no país, o presidente eleito dos Estados Unidos, Joe Biden, planeja uma blitz de vacinação que pede grande expansão do acesso enquanto enfatiza a igualdade na distribuição —inclusive aos presos em cadeias.

Mas seu plano está se chocando com uma dura realidade: com apenas duas vacinas autorizadas pelo governo federal, os suprimentos serão escassos durante os próximos meses, frustrando algumas autoridades de saúde estaduais e municipais que esperavam a liberação de um estoque federal de vacinas anunciado nesta semana.

Autoridades do governo de Donald Trump esclareceram na sexta-feira (15) que o estoque existente só duraria até a aplicação da segunda dose a pessoas que já foram vacinadas, e seria, portanto, insuficiente para atender novos grupos.

"A distribuição da vacina nos Estados Unidos tem sido um triste fracasso até agora", disse Biden. "A verdade é esta: as coisas vão piorar antes que melhorem. E as mudanças políticas que vamos fazer levarão tempo para aparecer nas estatísticas da Covid."

"Hoje temos doses de vacinas paradas em geladeiras sem uso, enquanto pessoas que querem a vacina não a conseguem", disse a campanha de Biden em material distribuído a jornalistas antes da fala do presidente eleito.

A equipe de Biden disse que ele invocará a Lei de Produção de Defesa, se necessário, para aumentar a oferta de vacinas. Mas a equipe também tentou moderar as expectativas. Biden disse que seu plano "não significará que todos nesses grupos serão vacinados imediatamente, porque o estoque não está como deveria". Mas acrescentou que significará que, conforme as doses estejam disponíveis, "alcançaremos mais pessoas que precisam delas".

A equipe de transição de Biden prometeu intensificar a vacinação em farmácias e construir clínicas móveis para levar o imunizante a comunidades rurais distantes e mal atendidas. Assim como o governo Trump, Biden pedirá que os estados ampliem os grupos de elegibilidade à vacina para pessoas de 65 anos ou mais.

O governo também oferecerá "programas para ambientes de alto risco, incluindo abrigos para pessoas sem teto, prisões e instituições que servem a indivíduos com deficiência intelectual e de desenvolvimento", explica o material.

Em alguns aspectos, as propostas de Biden repetem as do governo Trump, que também pediu no início desta semana a extensão da elegibilidade à vacina a grupos de 65 anos ou mais, maior uso de farmácias e vacinação em centros de saúde qualificados pelo governo federal.

O governo Trump também usou com frequência a Lei de Produção de Defesa para dar aos fabricantes de vacinas prioridade junto a fornecedores de matérias-primas e outros produtos.

Biden revelou o plano de distribuição da vacina apenas um dia depois de propor um pacote de gastos de US$ 1,9 trilhão (R$ 9,9 trilhões) para combater a crise econômica e da Covid-19, incluindo US$ 20 bilhões (R$ 105 bilhões) para um "programa nacional de vacinação".

O presidente eleito disse diversas vezes que pretende colocar "100 milhões de doses de vacina para a Covid nos braços da população americana" até seu centésimo dia no cargo.

O tempo é essencial. Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês) deram o alarme na sexta sobre uma variante do coronavírus de rápida disseminação e muito mais contagiosa, que deverá se tornar a fonte predominante da infecção nos EUA até março, potencialmente alimentando mais um surto devastador de casos e mortes. Alguns especialistas em saúde pública estão preocupados.

"Acho que veremos em seis a oito semanas uma grande transmissão neste país, como estamos vendo na Inglaterra", disse Michael Osterholm, diretor do Centro de Pesquisa e Política para Doenças Infecciosas da Universidade de Minnesota e membro do Conselho Assessor para o Coronavírus da equipe de Biden.

"Se pudermos montar clínicas de vacinação mais depressa e de modo mais eficiente, quantas vidas poderemos salvar?"

Biden pretende que o governo federal não apenas desenvolva locais de vacinação em massa, como também reembolse os estados pelo uso de soldados da Guarda Nacional para administrar as vacinas.

A ênfase do plano em garantir a distribuição equitativa inclui as clínicas móveis de vacinação, assim como o uso de dados para dirigir a vacinação para áreas duramente atingidas e comunidades afetadas desproporcionalmente pelo vírus.

O material também diz que as autoridades vão se concentrar em lugares onde as pessoas vivem em espaços pequenos, como cadeias —que os planos de alguns estados não priorizaram, apesar de alguns dos maiores núcleos de infecção do país terem sido os presídios.

O plano de vacinação faz parte do esforço mais amplo de Biden para usar a crise atual para reconstruir a debilitada estrutura de saúde pública do país, um antigo alvo dos democratas no Capitólio.

Com essa finalidade, Biden prometeu aumentar as verbas federais para centros de saúde comunitários e pediu um novo "programa de empregos de saúde pública" que pagaria a 100 mil trabalhadores da área para participarem da vacinação e do rastreamento de contatos. Esse corpo de trabalhadores treinados supostamente estaria implementado para a próxima pandemia.

"Os detalhes ainda têm de ser elaborados, mas isto é um reconhecimento realmente crítico de que os órgãos de saúde estaduais e municipais precisam ser reforçados de um modo que não foram em décadas", disse Osterholm.

Cerca de 390 mil pessoas nos EUA morreram com o vírus durante a pandemia, e o país registrou mais de 23 milhões de infecções, segundo um banco de dados do New York Times. Durante a última semana, houve em média mais de 240 mil casos por dia, um aumento de 27% em relação à média das duas semanas anteriores. Mais de 4.400 mortes foram anunciadas na terça (12), um recorde.

Na sexta, segundo o CDC, cerca de 10,6 milhões de pessoas tinham recebido pelo menos uma dose de uma das vacinas contra Covid-19, e cerca de 1,6 milhão tinham recebido a segunda dose. Isso é muito aquém da meta que as autoridades federais definiram, de dar a primeira dose a pelo menos 20 milhões de pessoas antes do final de 2020.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.