Erros, inovação e gestos espontâneos marcam história das posses nos EUA

Veja alguns precedentes das cerimônias de juramento dos novos presidentes

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Christine Hauser
The New York Times

O básico da posse é simples: o novo presidente faz um juramento de 35 palavras em uma data prescrita pela Constituição. Mas a fórmula deixou amplo espaço para novidades.

Conforme as posses evoluíram ao longo das décadas, muitas se tornaram pontos de inflexão na tradição, marcadas por erros, inovação e gestos espontâneos.

O presidente eleito dos EUA, Joe Biden, discursa em evento no estado de Delaware - Tom Brenner/Reuters

Jimmy Carter começou um hábito informal quando inesperadamente desceu de sua limusine e caminhou pela Avenida Pensilvânia. O primeiro mandato de Barack Obama teve um início incomum, quando ele se tornou o primeiro presidente a repetir o juramento do cargo. A segunda posse de Harry S. Truman foi a primeira a ser televisionada, e a de Bill Clinton, em 1997, a primeira transmitida ao vivo na internet.

Na quarta-feira (20), a posse de Joe Biden também tentará equilibrar a tradição com os desafios da era atual, incluindo a pandemia e os tumultos políticos generalizados. Pela primeira vez, o cortejo até a Casa Branca será substituído por um "desfile virtual", uma tentativa de desacelerar a disseminação do coronavírus, que já matou mais de 400 mil americanos.

Veja abaixo alguns precedentes na história das posses presidenciais.

O juramento

O juramento do cargo feito pelo presidente também está consagrado na Constituição: "Eu juro (ou afirmo) solenemente que desempenharei fielmente o cargo de presidente dos Estados Unidos e, com o máximo de minha capacidade, preservarei, protegerei e defenderei a Constituição dos Estados Unidos".

Todo presidente deve recitar o juramento de fidelidade, que já foi feito 72 vezes pelos 45 presidentes dos Estados Unidos que precederam Biden. Franklin Pierce, em 1853, foi o primeiro a escolher a palavra "afirmo", em vez de "juro", e abriu precedente ao não beijar a Bíblia.

Lyndon B. Johnson foi o único presidente a fazer o juramento em um avião, após John F. Kennedy ser assassinado em 22 de novembro de 1963. Foi também a primeira vez que uma mulher conduziu o juramento: a juíza Sarah T. Hughes, do distrito Norte do Texas, ouviu a fala de Johnson no Air Force One, usando um missal católico encontrado a bordo, antes que o avião partisse de Dallas para Washington.

O juramento de Obama, que se tornou o primeiro presidente negro dos EUA em 2009, teve um viés único. Ele prestou o juramento duas vezes ao juiz John Roberts: a segunda vez foi em 21 de janeiro, em uma repetição na Casa Branca, depois que os dois se atropelaram nos pronunciamentos na posse um dia antes. "Em 25 segundos, Obama se tornou presidente de novo", escreveu o jornal The New York Times.

O discurso

George Washington foi um homem de poucas palavras. Seu segundo discurso de posse continha 135 —o mais curto já feito. Em 1817, James Monroe se tornou o primeiro presidente a fazer o juramento e o discurso de posse ao ar livre, na frente do antigo Capitólio de tijolos. William Henry Harrison falou o mais longo, com 10 mil palavras, em 1841.

O local

George Washington fez o juramento no Federal Hall em Nova York e depois pronunciou o discurso no interior dos recintos do Senado. John Adams foi empossado na Câmara do Congresso na Filadélfia em 1797. Em 1801, Thomas Jefferson foi o primeiro a chegar e sair caminhando da posse e foi o primeiro presidente empossado no Capitólio.

A data

O Dia da Posse não foi sempre em janeiro. George Washington fez o juramento em 30 de abril de 1779. No século 19, 4 de março estava inscrito na Constituição como o Dia da Posse. Mas em 1933 a ratificação da 20ª Emenda estabeleceu que os mandatos do presidente e do vice deveriam terminar às 12h de 20/1.

O primeiro presidente a tomar posse em 20 de janeiro foi Franklin D. Roosevelt, que fez o juramento para um segundo mandato em 1937, com uma grande multidão assistindo apesar de uma chuva forte e fria.

A transição

Em 1837, Andrew Jackson e Martin Van Buren foram juntos em uma carruagem até o Capitólio para a posse, a primeira vez que um presidente de saída acompanhou seu sucessor. "Não teremos esta passagem neste ano, infelizmente", disse Jim Bendat, historiador das posses. "É um momento simbólico para mostrar que o antigo e o novo podem se entender, mesmo que sejam de partidos diferentes."

Um presidente cujo mandato está terminando não é obrigado a participar da posse. Em 1801, John Adams se tornou o primeiro presidente a evitar a cerimônia de juramento de seu sucessor, nesse caso Thomas Jefferson. Depois de meses declarando falsamente que a eleição de 2020 foi roubada, o presidente Donald Trump anunciou que não participará da posse de Biden.

O chapéu

As cartolas foram o acessório tradicional de muitas posses presidenciais. Mas Dwight D. Eisenhower a substituiu em 1953 por um chapéu de feltro "homburg", típico da época, rompendo a "tradição indumentária oficial". Kennedy recuperou o chapéu tradicional em 1961, antes que ele desaparecesse como traje oficial.

O poeta

Kennedy foi o primeiro a acrescentar um poeta a sua cerimônia de posse. O evento não correu como planejado. Robert Frost, então com 86 anos, pretendia ler "O Prefácio", versos que havia composto para a ocasião. Mas a claridade na página dificultou sua visão. "Não estou tendo uma boa iluminação aqui", disse ele, segundo a cobertura do evento pelo New York Times.

Johnson tentou sombrear o manuscrito com sua cartola. Mas Frost o deixou de lado e recitou seu poema "The Gift Outright" (o presente completo), que ele sabia de cor. Amanda Gorman, que em 2017 se tornou a primeira Jovem Poeta Nacional Laureada, lerá na cerimônia deste ano.

A Bíblia

Ao longo dos anos, a maioria dos presidentes fez o juramento com uma das mãos sobre a Bíblia. Alguns escolheram uma Bíblia da família, como Jimmy Carter, com a usada por Washington pousada no atril.

Theodore Roosevelt foi um inovador em 1901. Na casa de um amigo depois do assassinato de William McKinley, ele não usou uma Bíblia, mas jurou com uma "mão levantada". Outros colocaram seu selo pessoal no gesto. Kennedy, o primeiro católico eleito presidente, usou uma Bíblia católica. Johnson pediu que sua mulher, "Lady Bird", segurasse a Bíblia durante o juramento, sendo o primeiro a fazê-lo. E Obama usou a Bíblia que pertenceu a Abraham Lincoln. (Trump usou a mesma em 2017.)

O desfile

A segunda posse de Lincoln, em 1865, foi a primeira vez em que afro-americanos participaram de um desfile de posse. As mulheres participaram do desfile pela primeira vez em 1917, no início do segundo mandato de Woodrow Wilson. Em 1977, Carter se tornou o primeiro a percorrer a pé mais de 1,5 quilômetro até a Casa Branca. A caminhada de Carter com sua mulher, Rosalynn, e sua filha de 9 anos, Amy, tornou-se uma tradição que foi repetida —em cerimônia, se não em extensão— pelos presidentes seguintes.

O baile

James e Dolley Madison iniciaram a tradição de uma recepção e baile da posse na Casa Branca em 1809. Os ingressos custavam US$ 4 (R$ 21), ou cerca de US$ 85 (R$ 455) em valores atuais.

A tecnologia

As posses refletiram inovações em tecnologia e indústria. Em 1921, Warren G. Harding foi o primeiro a seguir para sua posse em um automóvel. Avanço rápido para limusines fechadas, à prova de balas, que apareceram em 1965 com Lyndon Johnson.

O público aumentou com os desenvolvimento tecnológicos. Em 1845, o discurso de posse de James Polk alcançou mais pessoas pelo telégrafo. Em 1897, a cerimônia de McKinley foi captada por uma câmera de cinema, e a de Calvin Coolidge, em 1925, transmitida pelo rádio.

Ronald Reagan, um ex-ator, teve uma câmera de TV colocada dentro da limusine no trajeto do Capitólio à Casa Branca em 1985. E em 1997 Bill Clinton teve a primeira posse transmitida ao vivo pela internet.

A família

Algumas cerimônias de posse foram inovadoras como assuntos familiares. A mãe de James Garfield participou de sua posse em 1881, estabelecendo um precedente. Em 1923, o pai de Calvin Coolidge, um juiz de paz em Vermont, conduziu o juramento do cargo de seu filho.

A primeira cerimônia de posse assistida pelos dois pais do presidente eleito foi a de John Kennedy, em 1961. E a cerimônia de George W. Bush em 2001 foi a primeira e única vez em que um ex-presidente, George Bush, participou da posse de seu filho como presidente.

Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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