Descrição de chapéu Caixin China

Suicídio de idoso chama a atenção para asilos fraudulentos

Caso evidencia empresas que persuadem mais velhos a depositar economias em investimentos de alto risco

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Huang Yuxin Sun Liangzi Matthew Walsh
Caixin

O aparente suicídio de um idoso residente em um asilo na China central chamou a atenção para empresas privadas que persuadem pessoas mais velhas a depositar suas economias em investimentos de alto risco, em troca de alojamento e assistência na velhice.

Na semana passada, segundo relatos de testemunhas oculares, Cao Ronglin, 62 anos, jogou-se de uma ponte sobre um rio em Yiyang, na província de Hunan. Seu corpo foi recuperado na sexta-feira (22).

Segundo uma pessoa familiarizada com sua situação, Cao depositara quase todas suas economias em produtos de investimento oferecidos pela empresa local de assistência a idosos Yiyang Nanuo Elderly Apartment Co. Mas perdeu seu alojamento quando a empresa se envolveu em um escândalo de arrecadação ilegal de recursos.

Idosa aprende a usar smartphone em comunidade da província de Hunan, na China
Idosa aprende a usar smartphone em comunidade da província de Hunan, na China - Chen Zeguo - 12.jan.21/Xinhua

O incidente chama a atenção ao modo como algumas firmas particulares inescrupulosas na China enganam idosos, convencendo-os a fazer investimentos de alto risco com a promessa de lhes garantir uma moradia segura, isso em um país com população idosa crescente e uma escassez aguda de casas de repouso.

Trabalhador diarista que se casou duas vezes e tinha um enteado do segundo casamento, Cao investiu 170 mil yuans (R$ 142 mil) em “contratos” da Nanuo ao longo de vários anos, conforme revelou Liu Yimu, defensor voluntário de famílias prejudicadas. Em troca, ele recebia “dividendos” regulares, um leito numa casa de repouso da Nanuo e descontos sobre certos serviços.

A empresa fechou contratos com vários idosos locais. A ex-funcionária pública Xu Fangping, 69 anos, disse à Caixin que entregou 220 mil yuans à companhia desde 2012, quando um vendedor da Nanuo a levou para conhecer uma casa de repouso.

“Na época eles vieram para nossa comunidade para se promoverem, dizendo que o [jornal estatal] Hunan Daily havia elogiado seu modelo de atendimento a idosos e que a [emissora pública] Hunan TV Urban fizera reportagens sobre eles”, disse Xu. “A gente acreditou no governo.”

Mas sua confiança foi gravemente abusada. No ano passado a polícia de Yiyang anunciou a prisão do representante legal da Nanuo, Lu Guanghui, por suspeita de levantamento ilegal de fundos, perturbação das operações da empresa e espoliação dos residentes em asilos.

Cao não apenas perdeu sua vaga no lar de idosos como ficou sem o dinheiro do qual precisava para custear o tratamento hospitalar de sua esposa, segundo Liu. A relação entre sua morte e seus investimentos ainda não está clara. Contatada pela Caixin no domingo, sua família disse que se preparava para negociar com o governo para receber uma indenização e que não queria falar mais sobre o assunto.

Lu fundou a Nanuo em 202 com capital registrado de 10 milhões de yuans, segundo documentos comerciais. Cinco anos mais tarde ele fundou outra companhia, a Yiyang Guanghui Yiyang Health Industries Co. Ltd., que opera como entidade de assistência médica e, segundo o website da empresa, possui um dos poucos asilos geriátricos “plenamente equipados” de Hunan.

Em julho do ano passado a polícia local informou haver detido Lu e outros funcionários da empresa por suspeita de terem recolhido ilegalmente as economias pessoais de membros do público geral. Ela pediu que os “investidores relevantes” se registrassem até o final do mês seguinte, sob pena de serem responsabilizados eles próprios pelas consequências dos alegados crimes.

Em agosto a polícia anunciou a detenção de uma pessoa com sobrenome Liu, representante legal de outro asilo de idosos de Yiyang, por acusações semelhantes. Residentes de asilos operados pelas duas empresas disseram ao Caixin que as tentativas subsequentes de buscar informações sobre os casos não deram resultado.

A China enfrenta uma crise iminente devido à porcentagem crescente de idosos no país, impulsionada pelo aumento na expectativa de vida e o baixo índice de natalidade decorrente em parte do legado da política do filho único, vigente durante décadas. Segundo estimativas das Nações Unidas, até 2045 quase um em cada quatro chineses terá mais de 65 anos. Dados do governo avaliaram essa porcentagem em pouco mais de um em cada oito no ano passado.

As mudanças demográficas alimentam uma demanda crescente por asilos para idosos e pessoas no fim da vida, algo que o setor público está tendo dificuldade em suprir. Enquanto empresas privadas procuram tirar vantagem da situação, a regulamentação frouxa cria espaço para golpistas oportunistas ludibriarem alguns idosos, convencendo-os a abrir mão de suas economias.

Hunan parece ser um lugar que concentra atividades escusas desse tipo. Em novembro de 2019 o birô de supervisão financeira e o departamento de polícia da cidade anunciaram que desde o início do ano anterior haviam detectado conjuntamente 45 casos de arrecadação ilegal de fundos no setor do atendimento a idosos, envolvendo 3,5 bilhões de yuans.

Segundo estatísticas incompletas, 327 “empresas não públicas” em Hunan operam no setor do atendimento a idosos. Entre elas, segundo órgãos de segurança pública, 37 são suspeitas de arrecadação ilegal de fundos.

Tradução de Clara Allain

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.