Votação de impeachment de Trump na Câmara amplia racha no Partido Republicano

Disputa opõe aliados do presidente aos 10 deputados da sigla que votaram a favor do impedimento

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Washington | The New York Times

Um grupo dos aliados mais estridentes de Donald Trump na Câmara dos Representantes pede que a deputada Liz Cheney, do estado de Wyoming e numero três do Partido Republicano na Casa, renuncie a seu cargo de líder depois de ela votar a favor do impeachment do presidente. O caso ampliou as duras rixas na sigla e deu início a uma confusa disputa interna que poderá definir o futuro do partido.

Membros do grupo ultraconservador Caucus da Liberdade, entre os quais seu presidente, o deputado Andy Biggs (do Arizona), assim como os deputados Jim Jordan (Ohio) e Matt Gaetz (Flórida), estão circulando um abaixo-assinado pedindo que Cheney renuncie a seu papel de presidente da Conferência Republicana da Câmara, afirmando que seu voto contra Trump "levou a conferência à desonra e produziu discórdia".

Câmara dos Representantes dos EUA realiza sessão para votar o impeachment do presidente Donald Tump
Câmara dos Representantes dos EUA realiza sessão para votar o impeachment do presidente Donald Tump - Saul Loeb - 13.jan.21/AFP

Cheney foi um dos dez republicanos que romperam com o partido na quarta (14) e votaram pela acusação do presidente de "incitação à insurreição" por seu papel em instigar a turba que invadiu o Capitólio.

"Um desses dez não pode ser nosso líder", disse Gaetz em entrevista ao canal Fox News na quarta à noite. "É inaceitável, insustentável, e precisamos fazer uma mudança de liderança."

Cheney rejeitou os pedidos para que renuncie, dizendo que "não vai a lugar nenhum" e chamando sua ruptura com Trump de "um voto de consciência".

Outros membros do partido que criticaram o presidente também correram em sua defesa.

"O partido inteiro seria sensato se prestasse atenção às palavras de Ronald Reagan: 'A pessoa que concorda com você 80% do tempo é um amigo e um aliado, não alguém 20% traidor'", disse o deputado Michael Burgess, do Texas. “Ontem os republicanos atenderam aos apelos por unidade e cura, independentemente de como resolveram votar. Remover Liz de sua posição de liderança causaria uma divisão e uma distração que não podemos permitir.”

O deputado Adam Kinzinger, de Illinois, que também votou pelo impeachment de Trump, disse que Cheney ganhou um "respeito incomensurável" e sugeriu que republicanos como Jordan é que deveriam ser afastados, no rastro da violenta invasão do Congresso e do segundo processo de impeachment.

"Já que a discussão está aberta, no entanto, nós talvez tenhamos que discutir sobre quem no nosso partido fomentou isso e seus papéis como membros graduados", disse.

O debate sobre a liderança de Cheney reflete as profundas fraturas no Partido Republicano em relação a Trump, que exige total lealdade da sigla —o que, até pouco tempo atrás, ele em geral tinha.

Enquanto figuras destacadas recuaram do tipo de política incendiária defendida por Trump depois do tumulto em 6 de janeiro, temendo que isso pudesse causar a ruína do partido, uma grande facção —muitos deles na Casa— continua resistindo a abandoná-lo.

Republicanos tentam determinar as consequências políticas de tomar essa decisão e entender se eles pagariam um preço político mais alto rompendo com o presidente ou deixando de fazê-lo.

Os senadores republicanos enfrentam exatamente esse dilema enquanto avaliam como votar no julgamento de impeachment que poderá começar ainda na próxima semana.

Tanto o deputado Kevin McCarthy, da Califónia, quanto Steve Scalise, da Louisiana, votaram contra o impeachment de Trump, ainda que ambos tenham dito que o presidente tem responsabilidade pelo ataque ao Capitólio e mereça ser censurado por isso. Cheney, ao contrário, divulgou um comunicado duro na véspera da votação do processo na Câmara, em que dizia: "Nunca houve uma traição tão grande de um presidente dos EUA ao seu cargo e ao seu juramento à Constituição".

Mas ela preferiu não falar durante os debates que precederam a votação. Muitos democratas —que historicamente rivalizaram com ela e com seu pai, o ex-vice-presidente Dick Cheney— citaram e elogiaram trechos do comunicado em seus próprios discursos.

O segundo processo de impeachment de Trump foi aprovado nesta quarta com 232 votos a favor, sendo 222 de democratas e 10 de republicanos. Já 197 correligionários de Trump votaram contra o pedido, e 4 se abstiveram. Ao todo, há 435 parlamentares na Câmara —dois assentos estão vagos no momento.

A Câmara já havia aprovado outro processo de impedimento do presidente em 2019, mas ele foi inocentado depois pelo Senado. Naquela ocasião, nenhum deputado republicano votou contra o presidente. A ação agora segue para o Senado, onde precisará ser chancelada por mais de dois terços (67 de 100 senadores) dos parlamentares. Trump só é obrigado a deixar o cargo se for condenado na Casa.

O mandato do republicano termina em 20 de janeiro, com a posse do democrata Joe Biden, e é pouco provável que ele seja condenado até lá. Mesmo que Trump já esteja fora da Casa Branca, o processo deve continuar, com o objetivo de retirar direitos políticos e impedir que ele volte a disputar a Presidência.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

Erramos: o texto foi alterado

A reportagem identificou incorretamente Dick Cheney como ex-presidente dos EUA. Ele foi vice-presidente. O texto foi corrigido.

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