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Opositor de Uganda contesta resultados da eleição na Suprema Corte

Bobi Wine recebeu 34,8% dos votos no pleito marcado por acusações de fraude

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Campala | Reuters

O líder da oposição de Uganda, Bobi Wine, 38, entrou com uma ação na Suprema Corte nesta segunda-feira (1°), buscando o cancelamento dos resultados da eleição presidencial que deu a vitória ao ditador Yoweri Museveni, 76, no poder desde 1986.

Museveni, um ex-líder guerrilheiro, foi declarado vencedor no pleito de 14 de janeiro com 58,6% dos votos, enquanto Wine recebeu 34,8%. Em discurso à nação após o anúncio da vitória, o ditador rejeitou as alegações de manipulação dos resultados e disse que a eleição podia ser considerada "a mais livre de trapaças" da história do país.

A campanha eleitoral, no entanto, foi marcada por uma série de episódios de violência contra Wine, seus apoiadores e outros candidatos da oposição.

"Queremos que a votação seja cancelada e repetida", disse nesta segunda George Musisi, advogado do partido de Wine, o National Unity Platform (NUP).

O cantor e candidato presidencial Bobi Wine, com boina vermelha inspirada em Che Guevara - Sumy Sadurni - 26.jan.2021/AFP

Ele pede ao tribunal para anular os resultados, entre outros motivos, pelo uso generalizado de violência. "Houve intimidação de agentes e simpatizantes do NUP, alguns foram presos na véspera da eleição e houve pré-contagem de votos", disse ele.

Para o porta-voz do partido de Museveni, a petição tem pouca chance de sucesso, e o Judiciário é confiável para julgar a disputa de forma justa. "Kyagulanyi [Bobi Wine] está tentando dar aos seus apoiadores um pouso suave, mas dentro de si ele sabe que perdeu genuinamente."

Sempre de boina vermelha, Wine se lançou candidato a presidente do país da África central à frente do movimento People Power (força do povo). No registros do Parlamento de Uganda, onde é deputado desde 2017, Bobi Wine é Robert Kyagulanyi Ssentamu, seu nome de batismo, mas ele escolher usar aquele que o lançou como astro pop no início da década.

Como Bobi Wine ele fez sucesso com músicas cheias de sarcasmo e denúncia social, como "Filthy Rich" (podre de rico), em que satiriza a elite do país africano. Seu estilo é o afrobeat, que mistura referências do rap americano com reggae e jazz.

Ele usou sua energia juvenil e seu amor pela música em Uganda para reunir um grande número de seguidores entre os jovens e representar um desafio para Museveni.

Durante a campanha, Wine foi forçado a usar um colete à prova de balas e um capacete por razões de segurança. Para conter o crescente apoio ao novo candidato, as autoridades responderam com violenta repressão. Suas manifestações eram rotineiramente interrompidas com balas, espancamentos, gás lacrimogêneo e detenções.

O próprio Wine foi várias vezes impedido de aparecer em programas de entrevistas na rádio durante as campanhas e impedido de ir a certas partes do país para obter votos.

Já Museveni chegou ao poder com a aura de libertador, à frente de uma guerrilha que derrubou a ditadura de Milton Obote. Wine tinha quatro anos de idade.

Em mais de três décadas, com sucessivas manobras constitucionais, Museveni tem se mantido no poder —questionamentos aos resultados de todas as quatro eleições anteriores vencidas por Museveni foram rejeitados pela Justiça.

Nas decisões, a maioria dos juízes reconheceu que as eleições foram marcadas por irregularidades, mas que não eram suficientes para ter afetado o resultado final da eleição de maneira substancial.

Evangélico conservador, Museveni tem conquistas que lhe renderam alguma boa vontade da comunidade internacional. A principal foi a redução da epidemia de Aids, com base em uma controversa política que prioriza a abstinência sexual e a fidelidade no casamento e coloca o uso de preservativos em segundo plano.

Críticas ao autoritarismo de seu regime são frequentes, em especial a perseguição a homossexuais.

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