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Escândalo de venda de máscaras assombra partido de Merkel na Alemanha

Deputados são acusados de receber propina para beneficiar fabricantes do item de proteção

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DW

O escândalo envolvendo deputados que pertenciam ao bloco conservador da chanceler alemã, Angela Merkel, ocorre em um momento infeliz para os cristãos-democratas: no domingo (14), serão realizadas eleições estaduais em Baden-Württemberg e Renânia-Palatinado.

Acusados de receber propinas por recomendar fabricantes de máscaras ao governo federal ou por intermediar negócios entre empresas como parte do esforço para adquirir mais quantidades do item, os parlamentares Nikolas Löbel, da União Democrata Cristã (CDU), e Georg Nüsslein, da aliada União Social Cristã (CSU) da Baviera, renunciaram aos blocos de seus respectivos partidos.

A chanceler alemã, Angela Merkel, ajusta máscara durante evento em Berlim
A chanceler alemã, Angela Merkel, ajusta máscara durante evento em Berlim - Markus Schreiber/AFP

Há cerca de um ano, no início da pandemia, as máscaras eram escassas e valiosas, fazendo com que os preços disparassem rapidamente. Naquela altura, era possível fazer dinheiro rápido com a crise. Por isso, promotores alemães estão agora investigando os dois políticos.

Löbel, de Mannheim, deixou a CDU e também renunciou a seu assento no Bundestag. Em declarações ao jornal conservador alemão Die Welt, ele admitiu o erro.

"Como membro do Bundestag, e particularmente no contexto específico da pandemia, eu deveria ter conduzido minhas negociações comerciais com maior sensibilidade", disse Löbel. Ele é suspeito de ter recebido 250 mil euros (mais de R$ 1,7 milhão) em propinas.

Nüsslein, por sua vez, preferiu adotar uma postura diferente. Ele renunciou ao partido CSU, mas disse que, por enquanto, pretende manter sua cadeira no Parlamento como político independente, para a fúria de alguns de seus correligionários.

Markus Blume, secretário-geral da CSU, disse à emissora ARD que ficou aliviado com a renúncia de Nüsslein. "Tratava-se de uma medida inevitável, também para limitar os danos ao próprio partido."

Verdes mantêm pressão

A oposição não parece satisfeita com o afastamento dos dois parlamentares. Para o copresidente do Partido Verde, Robert Habeck, o escândalo está vinculado aos 15 anos de CDU/CSU no poder sob a liderança de Merkel. Para Habeck, sobretudo há um ano, quando a pandemia se alastrava, o ministro da Saúde, Jens Spahn (CDU), era o principal contato de muitas empresas que tinham o intuito de ajudar.

E, logicamente, segundo o copresidente, os políticos conservadores tendem a ter melhores contatos comerciais do que políticos de outros matizes. "Em segundo lugar, porém, há simplesmente uma proximidade particular com a atividade econômica e uma falta de consciência sobre se determinadas transações financeiras talvez não sejam apropriadas", disse Habeck.

O escândalo das máscaras remete, entre outras coisas, às dificuldades enfrentadas por Philipp Amthor, parlamentar da CDU. Até maio de 2019, ele atuava na Augustus Intelligence, fazendo lobby com o ministro da Economia da CDU, Peter Altmaier, e outros políticos em nome da empresa americana.

Inicialmente, o político de 29 anos insistiu não ter recebido salário. Aos poucos, porém, ele teve que admitir que, sim, havia recebido ofertas de ações da empresa no valor de até US$ 250 mil (R$ 1,45 milhão). Ele também aceitou ajuda com despesas de viagem. Apesar das acusações, Amthor foi nomeado o principal candidato da CDU no estado de Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental.

Combate à corrupção

Os sociais-democratas (SPD) também aumentaram a pressão. "Deve ser responsabilidade de todos os democratas que a ganância e o clientelismo não tenham chance em nosso Parlamento", disse o copresidente do SPD, Norbert Walter-Borjans.

Um registro de transparência ou de ações de lobistas poderia, no futuro, ajudar a lançar luz sobre as áreas mais sombrias onde política e negócios colidem. Após um longo período de discussão sobre as especificidades, CDU/CSU e SPD parecem agora concordar fundamentalmente com esse plano.

No futuro, portanto, lobistas deverão assinar um registro e fornecer detalhes sobre seus empregadores ou sobre as empresas que os contrataram. Isso também se aplica a lobistas que buscam influenciar ministérios ou o governo federal. Anteriormente, essa etapa extra enfrentava resistência e, por isso, não fora incluída em um esboço anterior do plano.

Já a ONG anticorrupção Transparência Internacional defende a proibição total de certas formas de lobby.

"As regras de conduta no Bundestag precisam ser expandidas e têm que bloquear explicitamente certas formas de lobby, como nos casos de Nüsslein e Löbel", disse o presidente da entidade na Alemanha, Hartmut Bäumer, aos jornais do grupo midiático Funke.

Mas os liberais não estão satisfeitos com tais propostas. O líder do Partido Liberal Democrático (FDP), Christian Lindner, exige a convocação de uma pessoa independente para investigar as denúncias.

"Um investigador especial, portanto, um ex-juiz, deve verificar nos bastidores se tudo o que aconteceu foi legal —com acesso aos arquivos do caso", disse Lindner à ARD. "Só depois disso eles devem nos informar e, posteriormente, o público."

Nas últimas semanas, a crescente insatisfação com a forma pela qual o governo tem lidado com a pandemia, sobretudo com o início lento da vacinação, já havia causado perdas para a CDU em dois dos estados mais importantes da Alemanha. Agora, os conservadores podem ter que se preparar para novas perdas nas eleições regionais de domingo como resultado dos escândalos.

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