Descrição de chapéu Governo Biden desmatamento

Governo dos EUA espera seriedade de Bolsonaro na Cúpula do Clima

Porta-voz do Departamento de Estado descarta trocar recursos financeiros por promessas de preservação ambiental

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São Paulo

O governo Joe Biden espera que o presidente Jair Bolsonaro demonstre seriedade na discussão sobre desmatamento durante a Cúpula de Líderes sobre o Clima e descarta, neste momento, focar recursos financeiros em troca de promessas de preservação ambiental, como reivindica o ministro do Meio Ambiente brasileiro, Ricardo Salles.

"Nós realmente esperamos que o presidente Bolsonaro use essa oportunidade [cúpula do clima] para demonstrar a seriedade dele, abordando a mudança climática e a redução de emissões causadas pelo desmatamento na Amazônia”, disse à Folha um porta-voz do Departamento de Estado dos EUA.

Bolsonaro participa da Cúpula de Líderes sobre o Clima, organizada pelo governo Biden, a ser realizada de forma virtual nos dias 22 e 23 de abril.

O presidente americano, Joe Biden, durante pronunciamento na Casa Branca
O presidente americano, Joe Biden, durante pronunciamento na Casa Branca - Andrew Harnik - 14.abr.21/AFP

Questionado se os EUA fechariam um acordo com o Brasil oferecendo recursos financeiros em troca da preservação da Amazônia, o porta-voz respondeu: "Continuamos focando nossas conversas em medidas necessárias para frear o desmatamento ilegal, em vez de pensar em fontes específicas de financiamento".

A resposta é uma ducha de água fria nas pretensões de Salles, que vem tentando convencer os EUA a enviarem dinheiro ao Brasil em troca de metas de redução de desmatamento. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, Salles declarou que conseguiria reduzir a devastação da Amazônia em até 40% em 12 meses —mas somente se recebesse US$ 1 bilhão de países estrangeiros.

Em reunião com integrantes da equipe de John Kerry, enviado especial para o clima do governo Biden, Salles mostrou slides com a imagem de um cachorro sentado, abanando o rabo diante de uma máquina de frango assado. Segundo reportagem da Folha, o desenho vinha acompanhado do texto "expectativa de pagamento", e os frangos carregavam cifrões de dólares estampados no peito.

O governo americano espera que Bolsonaro, em seu discurso na cúpula da semana que vem, assuma “um compromisso muito claro de acabar com o desmatamento ilegal, com medidas tangíveis para punir os desmatadores e uma sinalização política de que desmatamento ilegal e invasões de terra [grilagem] não serão tolerados”, afirmou o porta-voz do Departamento de Estado. “Acreditamos que é realista esperar que o Brasil tenha uma redução real no desmatamento até o fim da estação de queimadas de 2021.”

A gestão Biden vem sofrendo pressões de organizações internacionais de meio ambiente e de direitos humanos para não fechar um acordo que repasse recursos ao governo Bolsonaro. Em reunião recente com membros da equipe de Kerry, organizações enfatizaram que o presidente não é confiável e que repassar recursos antes de haver progresso real seria premiar o retrocesso na política ambiental brasileira e ajudar na estratégia de relações públicas de Bolsonaro.

Nesta quinta-feira (15), ativistas e legisladores promovem um evento paralelo à cúpula dos líderes, o Amazon Climate Forum, com participação de Sonia Guajajara, porta-voz da Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil), da deputada federal Joenia Wapichana, de Daniel Wilkinson, diretor da área de meio ambiente e direitos humanos da Human Rights Watch, de deputados da ala mais progressista do Partido Democrata, como Raul Grijalva e Mark Pocan, e de artistas como Morgan Freeman e Barbra Streisand.

Os atores Leonardo Di Caprio e Mark Ruffalo também se juntaram à ofensiva contra um acordo que premie Bolsonaro. “Joe Biden, suas opções são ou a Amazônia ou Bolsonaro. Escute os povos originários [indígenas] e tome a decisão correta para o povo do Brasil e para nossa Terra”, escreveu Ruffalo no Twitter.

Embaixadores de outros países, além dos EUA, indicaram, em videoconferência com o chanceler brasileiro, Carlos França, na sexta (10), que o apoio financeiro só será liberado após serem mostrados resultados.

Segundo reportagem da Folha, essa foi a mensagem dos chefes das missões diplomáticas em Brasília de Alemanha, Reino Unido, Noruega, EUA e União Europeia. “Reconhecemos e respeitamos a soberania do Brasil ao lidar com desafios ambientais e podemos reforçar nosso forte histórico de cooperação ambiental para atingir objetivos mais ambiciosos”, disse o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA.

“A Cúpula dos Líderes é uma oportunidade para o Brasil demonstrar liderança ambiental no cenário global. E esperamos que as declarações dos líderes sejam embasadas em ações tangíveis em seus países.”

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