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Países com rede de ensino forte fecharam escolas por menos dias, diz OCDE

Para diretor de educação da entidade, pandemia pode aumentar a desigualdade também entre nações; 19 países priorizam vacinação de professores

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Bruxelas

Países que já tinham uma rede escolar de boa qualidade —medida pelo desempenho de seus alunos no teste global Pisa— conseguiram reduzir o número de dias com colégios fechados devido à pandemia de coronavírus, mostra relatório recém-divulgado pela OCDE, grupo de 38 países ricos e emergentes.

“Em outras palavras, os sistemas de educação já com resultados de aprendizagem mais fracos perderam mais oportunidades de aprendizagem em 2020”, afirmou Andreas Schleicher, diretor de educação e habilidades da organização.

Estudante com máscara de proteção assiste a aula em Funabashi, no Japão - Kim Kyung-Hoon - 16.jul.20/Reuters

Uma rede de ensino mais forte explica 54% da variação do número de dias em que escolas secundárias ficaram fechadas no ano passado, mostra o relatório, e isso não acontece só porque os países são mais ricos ou porque foram menos atingidos pela pandemia.

Mesmo quando os números são controlados pelo PIB per capita, a qualidade da educação explica 31% da variação, e há entre os que reabriram antes países em que a taxa de infecção foi alta.

“O que explica a diferença é que nesses países há uma rede de ensino estruturada e confiável, capaz de criar ambientes seguros mais rapidamente”, diz Schleicher.

Entre os 38 países da OCDE, o número de dias em que escolas primárias e secundárias ficaram fechadas no ano passado variou de menos de 20, na Dinamarca, para quase 180, na Costa Rica —a média no grupo foi de 68 dias. Áustria e Itália, países europeus que não estão entre os que obtêm as melhores notas no Pisa, cancelaram aulas presenciais por quase três meses, enquanto Irlanda, Finlândia e Coreia do Sul —com alto desempenho de aprendizado— não chegaram a dois meses.

“Isso significa que a crise não amplificou apenas desigualdades de educação dentro dos países, mas é provável que também tenha ampliado a lacuna de desempenho entre diferentes países”, afirmou o diretor da OCDE. Para Schleicher, não há dúvidas de que a suspensão das aulas prejudica a formação de crianças e jovens. “O aprendizado é um fenômeno social; escolas não são apenas um local de transmissão de conhecimento acadêmico, mas de contato humano e formação de várias outras habilidades”, disse ele.

Embora seja difícil prever exatamente como os confinamentos afetarão o desenvolvimento futuro dos alunos, a OCDE citou estimativas dos economistas Eric Hanushek e Ludger Woessmann feitas no ano passado. Segundo eles, cada trimestre de aprendizagem perdida, considerando estudantes do 1º ao 12º ano, provocaria perda de 3% na renda por toda a vida profissional.

Isso, segundo os economistas, representa um custo de longo prazo que varia de US$ 504 bilhões (R$ 2,868 trilhões) na África do Sul a US$ 14,2 trilhões (R$ 80,82 trilhões) nos Estados Unidos, a cada três meses de aprendizagem perdidos.

Outro prejuízo apontado foi a dificuldade de avaliar corretamente, à distância, o aprendizado dos alunos. Parte dos países manteve a aplicação de testes, enquanto outros aprovaram automaticamente todos os estudantes. "Mas o mais importante, que é capacidade de o professor perceber os desafios de cada um e ajudar a superá-los, se perdeu sem o contato próximo."

No nível pessoal, diz Schleicher, o impacto das mudanças forçadas pela pandemia também deve ter sido diverso. “Para os estudantes que conseguiram se integrar no ensino online e aprenderam a aprender sozinhos, pode ter sido libertador. Mas, para quem não teve recursos e apoio, foi devastador.”

O levantamento mostra que a maioria dos países tentou fazer adaptações para manter o aprendizado mesmo com as restrições da crise sanitária, com o uso de aulas online, programas de TV e rádio, aulas presenciais em locais abertos ou aumento dos dias letivos.

De acordo com a OCDE, três países tinham em 1º de fevereiro deste ano todos os níveis escolares funcionando normalmente: Japão, Nova Zelândia e Noruega. Eram 60% os que já haviam retomado o ensino primário, total ou parcialmente, e 7 em cada 10 tinham escolas infantis abertas.

Entre medidas tomadas para acelerar a volta das aulas presenciais, 80% das redes fizeram ajustes no espaço físico das salas de aula, 50% reduziram atividades extracurriculares e 40% dividiram os dias entre aulas ao vivo ou à distância.

VACINAÇÃO PRIORITÁRIA DE PROFESSORES

A organização aponta também que a vacinação prioritária de professores foi uma das formas encontradas para tornar o ensino presencial mais seguro, embora a decisão não seja fácil, "dado o limitado fornecimento inicial de vacinas e a necessidade de protegermos mais vulneráveis".

Em março de 2021, levantamento mostrava que, dentre 30 países com dados comparáveis, 19 priorizaram professores do ensino básico nas campanhas de vacinação: Áustria, Chile, Colômbia, República Tcheca, Estônia, Alemanha, Hungria, Irlanda, Israel, Itália, Letônia, Lituânia, Polônia, Portugal, Rússia, Eslováquia, Eslovênia, Espanha e Turquia.

Vários adotaram subcritérios, como a idade dos docentes (os mais velhos são imunizados antes) ou o nível escolar em que trabalham (os que precisam entrar em contato próximo com os alunos, como os de educação infantil, estão no começo da fila).

Já em 11 países —Bélgica, Costa Rica, Dinamarca, Reino Unido, Finlândia, França, Japão, Holanda, Noruega, Suécia e Suíça—, os professores estão sujeitos ao mesmo esquema de vacinação da população em geral ou ainda não têm data específica.

Apesar dos prejuízos causados pela pandemia, Schleicher disse esperar que a crise tenha trazido algumas mudanças positivas. Uma delas é que os pais passaram a entender mais claramente as dificuldades do ensino e do aprendizado. “Até antes da pandemia, as escolas eram cada vez mais prestadores de serviço, e os pais, clientes, e todos querendo empurrar o problema para o outro”, afirmou. O diretor da OCDE disse que pode haver um ganho num maior envolvimento dos pais com o aprendizado dos filhos.

“Isso não significa ficar três horas ajudando na lição de casa, mas mostrar que considera importante a educação. A simples pergunta ‘como foi seu dia na escola’ traz muito mais benefícios.”

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