Enquanto a Colômbia enfrenta uma onda de protestos contra o governo, um policial foi acusado pela Defensoria Pública, na quinta (13), de matar um jovem de 17 anos com um tiro na cabeça durante as manifestações em Cali.
De acordo com o órgão, em 28 de abril, o agente Luis Piedrahita recebeu um chute do adolescente enquanto estava de moto. Ele desceu do veículo e, de pé, disparou contra o jovem. Para os promotores, não há como dizer que o policial tenha agido em legítima defesa. Se condenado, ele pode pegar até 25 anos de prisão.
Cali se tornou o epicentro da onda de protestos na Colômbia, que já dura duas semanas e deixou ao menos 42 mortos e mais de 1.500 feridos, de acordo com dados oficiais.
Inicialmente, os atos eram contra a reforma tributária proposta pelo presidente Iván Duque. Apesar de ele ter retirado o projeto legislativo, a violenta repressão aos protestos seguiu alimentando o descontentamento. Desde então, os atos se multiplicaram, sem agenda ou direção definida, mas com demandas que exigem um país mais justo e um Estado mais solidário e que garanta vida e segurança.
Na noite de quinta, manifestantes se aproximaram do estádio Romelio Martinez, em Barranquilla, durante um jogo válido pela Copa Libertadores entre América de Cali e o time brasileiro Atlético-MG. A partida foi interrompida diversas vezes porque o gás lacrimogêneo disparado pela polícia para dispersar manifestantes chegou ao campo e afetou os jogadores. Apesar disso, a partida prosseguiu e foi concluída, e terminou com vitória do Atlético (3x1).
Nesta sexta (14), uma rede independente de direitos humanos denunciou que uma jovem de 17 anos cometeu suicídio após ser arrastada e supostamente apalpada por policiais que dispersavam um protesto.
De acordo com a denúncia, a adolescente foi levada à Promotoria na noite de quarta (12) por agentes que entraram em choque com manifestantes na cidade de Popayán, no sudoeste do país. Em um vídeo que viralizou, a jovem aparece gritando enquanto suas mãos e pés são imobilizados e ela é carregada para o local.
Segundo a Comissão de Direitos Humanos e Garantias, que acompanha os protestos, a jovem disse que foi espancada e que ficou com lacerações nas mãos. No vídeo, ela grita "me solta que você está me despindo, seu idiota".
Na quinta-feira, a menina foi encontrada morta sozinha em casa. Ela tinha dito à avó que seu estômago doía e havia sido apalpada, acrescentou a organização.
No comunicado, a rede de direitos humanos também cita uma publicação supostamente escrita pela adolescente na qual denuncia ter sido detida por algumas horas por registrar o confronto entre policiais e manifestantes. “Eles baixaram minhas calças e me apalparam até a alma”, diz ela.
O caso desencadeou novas manifestações contra a violência empregada pelas forças de segurança. Dezenas de pessoas se manifestaram nesta sexta em frente à sede da polícia em Popayán.
A polícia, que negou os abusos durante a detenção, anunciou a suspensão de quatro agentes envolvidos no caso.
A dura repressão aos protestos acabou acirrando a revolta dos manifestantes e gerou críticas internacionais. A ONU, os Estados Unidos, a União Europeia e ONGs de direitos humanos denunciaram graves excessos cometidos pela polícia nas manifestações.
A Colômbia, com 50 milhões de habitantes, também enfrenta aumento da violência financiada pelo narcotráfico, o que desfaz a ilusão de paz após a assinatura do acordo com a guerrilha das Farc, em 2016.
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