G7 aprova investimentos globais para se contrapor à China

EUA ainda tentam convencer europeus a adotar tom mais duro contra autoritarismo chinês em comunicado final

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Bruxelas

Os líderes do G7 —fórum de nações ricas— aprovaram neste sábado (12) um plano global de investimento em infraestrutura, para se contrapor ao projeto chinês de Nova Rota da Seda (BRI, na sigla em inglês).

Estados Unidos, Japão, Reino Unido e União Europeia querem conter a crescente influência econômica e política da China, que já assinou acordos com mais de cem países para construir ferrovias, portos, rodovias e redes de comunicação desde que o BRI foi lançado em 2013, pelo líder Xi Jinping.

O premiê britânico, Boris Johnson, e o presidente dos EUA, Joe Biden, em sessão do G7 na Cornualha, no sudoeste inglês - Leon Neal/AFP

O projeto do G7, que vem sendo chamado de Reconstrua Melhor (“Build Back Better”), não foi anunciado formalmente. Segundo negociadores que participam do fórum, a ideia é coordenar investimentos públicos e privados das potências democráticas para reduzir carências de infraestrutura em países de baixa renda, um esforço estimado em até US$ 40 trilhões (R$ 205 tri) nos próximos 15 anos.

Parte do financiamento viria de programas para infraestrutura já patrocinados pelos EUA, por meio do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional, mas deve haver reforço de contribuições dos outros membros do grupo.

Os maiores beneficiados seriam países africanos, área de forte interesse geopolítico europeu, países mais pobres da América Latina, na esfera americana, e o sudeste asiático, onde as disputas opõem a China a todos os membros do G7.

Como parte da meta de aumentar a presença no Indo-Pacífico, os sete países convidaram para essa reunião três grandes potências da região: a Índia, a Austrália e a Coreia do Sul.

Biden deve adotar também no tema de infraestrutura o tom que usou ao anunciar a doação de vacinas: o de que a ajuda viria “sem contrapartida”, em alusão a um suposto esquema chinês para amarrar países em dívidas bilionárias nos acordos do BRI. O pacote de investimentos do G7 incluiria gatilhos para evitar o endividamento excessivo, além de focar medidas anticorrupção e de proteção ambiental.

Embora apresentar alternativas à China seja prioridade para todas as nações do grupo, os líderes ainda tentavam conciliar diferenças de grau nas reuniões deste final de semana no Reino Unido. O presidente americano, Joe Biden, quer que o comunicado final da reunião entre os líderes condene o tratamento dado pela China à minoria dos uigures, incluindo trabalho forçado, além da já reconhecida falta de transparência sobre subsídios estatais.

O Japão, por sua vez, quer que o G7 se manifeste claramente em defesa da autonomia de Taiwan, que o governo chinês considera seu território. A declaração dos ministros das Relações Exteriores do G7 pediu a participação de Taiwan na Organização Mundial da Saúde e na Organização Mundial do Comércio, mas não é certeza que o documento dos chefes de governo faça o mesmo.

Os países europeus, por seu lado, tentam manter o que chamam de “autonomia estratégica” entre as duas potências, uma posição que se fortaleceu após a gestão de Donald Trump, que acirrou disputas comerciais com os aliados e ameaçou se retirar da aliança militar Otan.

O presidente da França, Emmanuel Macron, tem insistido para que a UE fortaleça sua própria defesa, e os atuais líderes do bloco defendem que é possível tratar a China como parceira, ainda que se reconheça que ela é também concorrente econômica e rival política.

O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, também quer evitar um comunicado muito duro contra o regime chinês num ano em que sedia a reunião climática COP 26 —para os europeus, manter a China na mesa de negociações é fundamental para avançar na redução de emissões de gases de efeito estufa.

A Alemanha também tem no mercado chinês o principal comprador de veículos produzidos por suas empresas, um setor de muito peso na economia do país, e o BRI inclui um grande projeto através do território europeu: uma rede ferroviária que ligaria suas fábricas ao Reino Unido.

A Itália chegou a assinar um acordo com a Nova Rota da Seda em 2019, mas o aumento da preocupação com espionagem chinesa em redes de transmissão de dados fez com que o país voltasse atrás.

Em seus argumentos por uma posição mais dura do G7, Biden conta justamente com a maior preocupação da Europa com a dependência que suas cadeias de fornecimento de suprimentos têm do fornecimento chinês, algo que ficou patente durante a pandemia, não só em relação à indústria farmacêutica mas também na automotiva e nos setores que dependem de equipamentos eletrônicos, como semicondutores.

Lá Fora

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Os europeus suspenderam recentemente um acordo de investimentos firmado com a China e já manifestaram apoio às instâncias dos EUA por novas investigações sobre a origem do Sars-Cov-2, após um número crescente de cientistas endossarem a possibilidade de que possa ter havido responsabilidade de um laboratório chinês em Wuhan, que estaria estudando o coronavírus.

Segundo a mídia britânica, depois de iniciado o G7 o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, ligou para o diplomata-chefe chinês, Yang Jiechi, pedindo mais acesso a locais e dados da região onde o patógeno foi detectado pela primeira vez, no final de 2019.

A China respondeu chamando a teoria de “vazamento” de absurda e dizendo que "multilateralismo precisa ser genuíno e não baseado nos interesses de pequenos círculos".

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