Ironizado em postagem de Bolsonaro, papa nunca foi fã de máscara contra Covid

Presidente reproduziu vídeo de Francisco sem o protetor; regras do Vaticano exigem uso do item

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São Paulo

Os dois homens se cumprimentam, um com máscara, outro sem. Papa Francisco, 84, é quem está sem a proteção facial. Alguém com o rosto coberto por uma fantasia de Homem-Aranha recebia sua bênção nesta quarta (23), no encontro semanal entre pontífice e público no Vaticano.

O papa Francisco cumprimenta, no Vaticano, homem que visita hospitais infantis vestido de Homem-Aranha - Vatican Media/AFP

No mesmo dia, o presidente Jair Bolsonaro compartilhou um vídeo em que a cena se repete: o papa, sem máscara, cumprimenta fiéis de face tampada. “Bom dia a todos!”, legendou Bolsonaro, uma ironia óbvia.

Além de não cultivar o hábito de usar máscaras, o mandatário, que até onde se sabe ainda não se vacinou mesmo já preenchendo o critério etário, aprecia a ideia de abolir o protetor a quem já foi imunizado.

Francisco está com duas doses da vacina contra a Covid-19 desde fevereiro, e o Vaticano não registra nenhuma morte até aqui. Mas usar máscaras é necessário mesmo para quem já está imunizado.

Primeiro porque nenhum fármaco oferece 100% de proteção, sobretudo a idosos. Segundo porque quem já foi vacinado pode contrair o vírus, não adoecer, mas transmiti-lo para outras pessoas.

Mesmo antes de receber o imunizante, Francisco, que na juventude retirou parte do pulmão para tratar uma doença respiratória, não se mostrava o maior fã de máscaras. Em outubro, numa audiência papal em ambiente fechado, beijou a mão de padres recém-ordenados e abraçou pessoas, muitas das quais de idade avançada e com a face descoberta, como ele. Reiteradas infrações ao protocolo sanitário da Santa Sé levaram a America Magazine, maior revista jesuíta dos Estados Unidos, a publicar o artigo "Por que o papa não está usando máscara?". A publicação descreveu a cena como desastrosa.

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Funcionários da Cúria Romana precisam usar máscara em ambientes abertos ou fechados (se o distanciamento social não for possível), segundo documento do próprio Vaticano. Há, além dos riscos sanitários, o exemplo a ser dado para o mundo.

As críticas foram mal digeridas pelo Vaticano. Uma semana depois, em encontro ao ar livre com público, Francisco não se aproximou dos peregrinos, um hábito. "Desculpem se os saúdo de longe hoje. Seguir os regulamentos é uma ajuda para lidar com o vírus", disse à época.

"A verdade é que em nenhum momento do pontificado ele foi rígido com protocolos em geral. Não é da personalidade dele, parece. Não só nesse da Covid", diz o vaticanista Filipe Domingues, doutor em ciências sociais pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma. "Em alguns momentos ele avalia. Se o bem que ele pode trazer é maior que o risco, ele faz."

No começo de março de 2020, antes de a OMS (Organização Mundial da Saúde) oficializar o status pandêmico do planeta, Francisco disse que se sentia enclausurado por ter que fazer as bênçãos na biblioteca do palácio apostólico.

"É estranha esta oração do Ângelus, com um papa enjaulado na biblioteca. Mas eu os vejo e estou próximo de vocês", declarou antes de sair à janela. Poucos fiéis assistiam a ele na praça de São Pedro.

No final daquele mês, Francisco protagonizou uma imagem icônica da pandemia, ao conduzir um solitário serviço religioso no mesmo lugar, que em tempos normais fica lotado de gente ansiosa para ver o papa. Disse, então, que todos estávamos "no mesmo barco".

Um ano depois, entrou na berlinda uma viagem papal ao Iraque em meio à explosão de casos locais. Foram dois marcos: a primeira viagem internacional de Francisco desde o início da crise sanitária e a primeira vez que um líder da Igreja Católica visitava a nação de maioria muçulmana.

Se antes argumentava, ao cancelar outras viagens, que a consciência o impedia de gerar aglomerações, justificou a ida ao Iraque assim: "É um dever para com uma terra martirizada por muitos anos".

Bolsonaro, que se declara católico, tem uma relação conflituosa com o atual cabeça do Vaticano. Pouco antes da pandemia, Francisco criticou o desrespeito a povos nativos da Amazônia. O presidente rebateu: "O papa é argentino, mas Deus é brasileiro".

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