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Castillo escolhe deputado esquerdista para ser primeiro-ministro do Peru

Guido Bellido Ugarte fez seu juramento em cerimônia em Ayacucho

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Buenos Aires

O novo presidente peruano, Pedro Castillo, escolheu nesta quinta-feira (29) Guido Bellido Ugarte, um congressista de seu próprio partido, o esquerdista Perú Libre, para ser o primeiro-ministro do país andino.

O novo presidente peruano, Pedro Castillo, acena após participar de solenidade na cidade histórica de Ayacucho - Angela Ponce/Reuters

Ugarte é um nome próximo ao principal líder político da legenda, Vladimir Cerrón, um dirigente de esquerda radical, admirador do chavismo, que está condenado por corrupção e por isso não pôde concorrer à presidência. Cerrón é o padrinho político de Castillo, que tomou posse na quarta-feira (28).

A escolha de Ugarte, 41, eleito representante por Cuzco no Parlamento, é um sinal de que Castillo levará adiante o projeto anunciado de descentralizar a administração.

"Não será mais necessário ir até Lima, o governo estará em todos os cantos do país", afirmou, pouco antes de fazer a nomeação.

O primeiro-ministro escolhido pelo presidente tem uma investigação aberta contra si por "apologia ao terrorismo". Ele já deu algumas declarações a favor do grupo guerrilheiro Sendero Luminoso, cujo enfrentamento com o Estado peruano gerou mais de 70 mil mortes nos anos 1980 e 1990. Bellido Ugarte também afirmou, mais de uma vez, que considera Cuba uma democracia, "porque lá se cumpre a vontade do povo e é por isso que o regime sobrevive depois de 60 anos".

O anúncio ocorreu em uma cerimônia simbólica de posse presidencial, na Pampa de la Quinua, em Ayacucho, local de uma das batalhas pela independência mais importantes da região. A posse de Castillo ocorre em meio às comemorações dos 200 anos da data.

Em um discurso mais breve que o do dia anterior, Castillo voltou a afirmar que combaterá a corrupção, enviará um projeto de lei para convocar uma nova Assembleia Constituinte por meio de referendo e que lutará contra os abusos do atual poder econômico.

"Vem aí um país mais justo, digno e humano, serão tempos novos e melhores se permanecermos unidos". Além disso, fez um chamado a todos os governadores para que, na próxima semana, compareçam a uma reunião para "tirarmos os sapatos e trabalharmos pelo país".

Sobre a Constituinte, afirmou que será eleita de modo popular, "redigirá uma nova Carta num período pré-determinado, esta se votará num referendo. Depois de cumprida a missão, deverá ser dissolvida". Também afirmou que "aos jovens que não tenham emprego nem trabalho, se abrirá espaço para que se juntem às Forças Armadas".

Castillo voltou a afirmar que não governará desde a Casa de Pizarro, sede do Executivo peruano, em Lima, e que esta será dedicada ao Ministério das Culturas. O presidente eleito se mudará de Cajamarca a Lima com a mulher, Lilia Paredes, e os três filhos do casal, Jennifer, Arnold e Alondra.

Estavam presentes os presidentes Sebastián Piñera (Chile), Luis Arce (Bolívia), Alberto Fernández (Argentina) e o ex-presidente boliviano Evo Morales. Eles viajaram desde Lima, onde no dia anterior assistiram à posse formal de Castillo. Os mandatários não resistiram e tiraram selfies do lugar, um sítio histórico e turístico dos mais importantes do Peru.

Cerrón não esteve presente, mas celebrou a nomeação de Bellido Ugarte para o cargo em suas redes sociais.

Pouco depois, sinalizou, em outro post em suas redes sociais, que o conselho de ministros será uma "resposta" aos críticos da chegada do Perú Libre ao poder. "Existe uma conspiração caviar com relação ao futuro gabinete, ante a qual o presidente, o partido e a bancada, darão uma resposta sólida. Vamos seguros em direção à mudança de que a Pátria necessita".

A cerimônia foi assistida por uma multidão, que esteve afastada do cenário principal por grades de metal. Em alguns momentos, a euforia fez com que alguns conseguissem furar a barreira, mas foram contidos por agentes de segurança. Não houve respeito ao distanciamento social.

Em Ayacucho, Castillo é muito popular, tendo ganhado o segundo turno com 84% dos votos. Em seu discurso, fez uma convocatória para que "os povos originários participem do governo". Depois dos discursos, houve um show de dança popular regional. O hino nacional do Peru foi entoado em quéchua e em espanhol.

A posse simbólica fez parte do plano de mostrar sua administração como descentralizada. O mesmo havia sido feito pelo ex-mandatário Alejandro Toledo, em 2001, quando celebrou um juramento simbólico na cidade de Cuzco.

Também realizaram festas parecidas os dirigentes do MAS (Movimento ao Socialismo) na Bolívia. Tanto Evo Morales como Luis Arce celebraram, além das cerimônias formais na capital do país, um ritual junto aos indígenas, na cidade pré-colombiana de Tiauanaco.

A juramentação do gabinete de ministros aconteceu em cerimônia seperada, com duas horas de atraso, e sem a presença de veículos de imprensa. O anúncio de titulares para as pastas de economia e de justiça ficaram de fora da formação de gabinete oficial.

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