Um jornalista holandês especializado em investigar criminosos foi baleado na terça (6) em Amsterdã e está em estado grave. Peter R. de Vries, 64, conhecido apresentador de TV, levou vários tiros no centro da capital, por volta das 19h30 (14h30 de Brasília). Ele saía de seu estúdio após participar de uma reunião.
Testemunhas relatam ter ouvido cinco disparos e visto que uma das balas atingiu o jornalista na cabeça, informou a TV pública NOS. "Ele está lutando para sobreviver", disse a prefeita Femke Halsema.
Segundo o chefe da polícia de Amsterdã, Frank Paauw, três pessoas foram presas, duas das quais em um veículo numa rodovia. A terceira foi detida ainda na cidade onde o crime ocorreu. Entre essas pessoas está o suposto autor dos disparos —Paauw não deu detalhes sobre as detenções ou o motivo do crime.
Vries é vencedor de um prêmio Emmy Internacional pela investigação do desaparecimento de uma adolescente americana em Aruba, em 2005. Ao longo de sua carreira, ele já havia sido ameaçado de morte diversas vezes. No Twitter, seu filho publicou que "o pior pesadelo [da família] se tornou realidade".
Ainda que ataques armados sejam raros na Holanda, um advogado que atuava num caso de grande repercussão no país, em 2019, foi morto em frente à sua casa na capital holandesa —na ocasião, Vries atuava como conselheiro de uma das testemunhas.
O atentado ao jornalista provocou reação de políticos locais e foi visto por toda a Europa como um ataque à liberdade de imprensa. "O ataque a Peter R. de Vries é chocante e inconcebível. É um ataque a um jornalista corajoso e, por extensão, à liberdade de imprensa, tão essencial para nossa democracia e para o nosso Estado de Direito", disse o primeiro-ministro holandês, Mark Rutte, horas após o ataque.
"Este é um ataque contra o jornalismo, um pilar do nosso Estado de Direito", disse o rei Willem-Alexander, da Holanda, em uma manifestação vista como prova da importância do jornalista, uma vez que a realeza não costuma comentar casos individuais. "E é também um ataque à nossa ordem constitucional."
O ministro holandês da Justiça e Segurança, Ferdinand Grapperhaus, disse que aquele era "um dia sombrio, não apenas para aqueles próximos a Peter R. de Vries, mas para a liberdade de imprensa".
O atentado também gerou reações fora da Holanda. No Twitter, Charles Michel, presidente do Conselho Europeu afirmou que o ataque é um crime contra o jornalismo e um ataque "aos nossos valores democráticos". "Continuaremos a defender a liberdade de imprensa incansavelmente."
O presidente do Parlamento Europeu, David Sassoli, por sua vez, afirmou que a mídia é a espinha dorsal da democracia e que ataques a jornalistas são "ataques contra todos nós".
Por fim, Tom Gibson, representante para a União Europeia do Comitê para a Proteção dos Jornalistas, ONG americana de defesa da liberdade de imprensa, afirmou que "os jornalistas na União Europeia devem ser capazes de investigar crimes e corrupção sem temerem por sua segurança".
Nos rankings mais recentes de liberdade de imprensa da ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF), a Holanda ostenta o sexto lugar entre 180 nações, atrás de Noruega, Finlândia, Suécia, Dinamarca e Costa Rica.
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