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Biden oferece asilo temporário a cidadãos de Hong Kong em nova aposta contra China

Autorização permite trabalhar e estudar nos EUA por 18 meses; ministro chinês acusa americanos de interferir em assuntos internos

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São Paulo

Em mais uma medida para pressionar o Partido Comunista Chinês, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, ofereceu nesta quinta-feira (5) asilo temporário aos cidadãos de Hong Kong que estiverem em solo americano.

Segundo memorando da Casa Branca, honcongueses poderão permanecer nos EUA por mais 18 meses, mesmo sem visto de residência, e também poderão trabalhar e estudar no país nesse período.

A medida deve aumentar as tensões com o regime liderado por Xi Jinping, que tem apertado o cerco sobre Hong Kong, cidade com status administrativo especial desde que foi devolvida à China pelo Reino Unido há 24 anos.

Pequim intensificou a repressão em Hong Kong, sobretudo após a aprovação da Lei de Segurança Nacional no ano passado, que pode punir dissidentes até com prisão perpétua. A legislação foi criticada por acabar com a autonomia judicial que a antiga colônia britânica deveria ter até 2047, conforme combinado durante a devolução do território, que aconteceu em 1997.

Manifestantes protestam em Hong Kong contra prisão de ativistas sob o argumento de violação da Lei de Segurança Nacional - Lam Yik/Reuters

Nesta quinta, o ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, voltou a afirmar que Hong Kong é um assunto interno da China no qual outros países não devem interferir.

O comunicado do governo americano critica diretamente o governo chinês, ao dizer que a Lei de Segurança "minou direitos e liberdades em Hong Kong". Desde a aprovação da nova legislação, diz o governo Biden, "a polícia de Hong Kong deu continuidade a uma campanha de prisões políticas, levando sob custódia pelo menos cem políticos, ativistas e manifestantes da oposição por acusações ligadas à nova lei, incluindo secessão, subversão, atividades terroristas e conluio com um país estrangeiro ou elementos externos".

Segundo os americanos, mais de 10 mil honcongueses foram presos em protestos contra o governo. "No ano passado, a China continuou seu ataque à autonomia de Hong Kong, minando seus processos e instituições democráticas remanescentes, impondo limites à liberdade acadêmica e reprimindo a liberdade de imprensa", diz o comunicado, em referência ao fechamento recente do jornal Apple Daily, crítico ao governo.

O governo americano tem usado a repressão em Hong Kong para aumentar a pressão sobre a China, hoje o maior adversário comercial dos Estados Unidos. No último mês, a administração Biden emitiu um alerta a empresas americanas que operam em Hong Kong, citando riscos de vigilância eletrônica e de ter que entregar dados ao governo chinês.

Ainda em julho, Washington impôs sanções contra autoridades chinesas ligadas à repressão em Hong Kong, bloqueando ativos que tiverem nos Estados Unidos e proibindo que americanos façam negócios com eles. As sanções tiveram resposta do outro lado do mundo, e o governo chinês também sancionou autoridades americanas.

Biden tem dobrado a aposta contra a China, deixando claro que a tensão acumulada no governo do republicano Donald Trump não deve ser aliviada agora na administração democrata.

Mas a animosidade também cresce do lado chinês. Nesta quinta, antes do anúncio americano, o ministro Wang Yi criticou o governo dos EUA por "tentar usar plataformas multilaterais para atacar e manchar a China em assuntos internos". Wang citou críticas a Hong Kong e também a Xinjiang, província a oeste do país onde a China é acusada de violação de direitos humanos contra a minoria étnica dos uigures.

Ele se referiu ao 11º encontro de ministros das relações exteriores do Sudeste Asiático, que contou neste ano com participação do secretário de Estado americano, Antony Blinken. Fica no Sudeste Asiático outro ponto sensível das relações internacionais, o Mar do Sul da China, região estratégica de grande importância econômica sobre a qual os chineses reivindicam controle, o que é contestado por outras nações.

Comunicado divulgado pelo Ministério das Relações Exteriores chinês nesta quinta afirma que a promulgação da Lei de Segurança Nacional e a reforma do sistema eleitoral "restauraram a estabilidade e melhoraram o Estado de Direito em Hong Kong", dizendo que 70% da população do país está satisfeita com o modelo atual.

"Com o quê você está preocupado? Você quer que Hong Kong volte ao caos e turbulência e que as forças da 'independência de Hong Kong' voltem às ruas? É isso que você quer? Quero deixar isso claro: deixe de se iludir", disse Wang se dirigindo a Blinken.

Criticando as acusações de que a China estaria cometendo um genocídio contra o povo uigur, o ministro chinês disse que "os assassinatos em massa que os Estados Unidos cometeram contra suas populações indígenas são o verdadeiro genocídio."

As tensões devem aumentar ainda mais neste mês, quando a vice-presidente americana, Kamala Harris, visitará Vietnã e Singapura.

China, Terra do Meio

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