Taleban toma segunda capital do Afeganistão em menos de 24 horas

Grupo fundamentalista avança na ofensiva de tomar o controle do país após saída de tropas dos EUA

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Cabul (Afeganistão) | AFP

O grupo fundamentalista Taleban tomou, neste sábado (7), o controle da cidade de Sheberghan, no norte do Afeganistão. É a segunda capital de província que cai nas mãos do grupo rebelde em menos de 24 horas, em uma ofensiva para tomar o controle do país depois que os Estados Unidos anunciaram que retirarão suas tropas militares após duas décadas de guerra.

A tomada de Sheberghan foi confirmada à agência de notícias France Press pelo vice-governador da província de Jawzjan, Qader Malia, que disse que os funcionários públicos e o Exército afegão fugiram depois do avanço dos rebeldes.

Exército na cidade de Sheberghan, capital de província tomada pelo Taleban neste sábado (7) - Mohammad Jan Aria/Xinhua

Na sexta-feira (6), o Taleban já tinha tomado a primeira capital de província do país, Zaranj, capital de Nimroz, no sudoeste do estado e próximo à fronteira com o Irã. Não houve grande resistência das forças afegãs, que estão espalhadas pelo país na tentativa de defender outras cidades.

A perda de Sheberghan representa um novo revés para o governo do presidente Ashraf Ghani, que foi eleito democraticamente e tem apoio de países do Ocidente.

O governo fez um apelo a antigos chefes de guerra e a várias milícias do país para que tentem frear o avanço dos insurgentes. A província de Jawzjan é o reduto do marechal Abdul Rashid Dostom, líder de uma milícia uzbeque conhecido por sua crueldade.

Um conselheiro do marechal Dostom também confirmou a queda de Sheberghan. "As forças de segurança e os responsáveis se retiraram para uma área a cerca de 20 quilômetros da cidade. Foi planejado, eles levaram munição suficiente para se defenderem de um ataque do Taleban", disse.

Desde maio, o o grupo assumiu o controle de vastas zonas rurais e postos de fronteira cruciais em um ataque relâmpago iniciado após o anúncio da retirada das tropas internacionais, que deve ser concluída em 31 de agosto. A decisão foi criticada pelo governo de Ghani, que culpou os EUA pelo avanço militar inimigo.

Depois de encontrar pouca resistência nas zonas rurais, direcionaram a ofensiva para os grandes centros urbanos, cercando várias capitais de província.

A captura de Zaranj na sexta (6) tem pouca importância estratégica, mas envia um sinal de alerta às demais cidades que estão cercadas pelo grupo armado. Um porta-voz da polícia de Nimroz afirmou à Reuters que faltaram reforços do governo para derrotar os invasores. Fontes do Taleban disseram à mesma agência que o grupo está celebrando a tomada de Zaranj e que a conquista aumenta o moral de seus combatentes em outras províncias.

Nas redes sociais, imagens divulgadas pelo Taleban mostram integrantes do grupo agitando bandeiras em veículos militares enquanto são aplaudidos por jovens e crianças em Zaranj, cidade gravemente atingida pelo crime. Não está claro, porém, se há um apoio real ou se a população recebe os rebeldes por medo e desejo de sobrevivência.

O grupo ainda afirmou que libertou todos os prisioneiros da cidade. Outro vídeo publicado no Twitter, cuja autenticidade não pôde ser confirmada, mostra pessoas saqueando escritórios do governo e levando cadeiras, mesas e televisores.

Uma autoridade de Nimroz, que pediu para não ser identificada, afirmou que as forças de segurança do país estão desmoralizadas pela propaganda do Taleban, e que mesmo antes dos ataques parte dos militares havia baixado as armas, tirado os uniformes e fugido.

De Kunduz, cidade ao norte cercada pelo Taleban há semanas, o ativista Rasikh Marof disse à AFP por telefone que combates começaram na noite de sexta no centro da cidade, mas o Taleban ainda não ganhou terreno. Segundo ele, os rebeldes usaram morteiros e armamento pesado, e o governo respondeu com ataques aéreos. "Muitas lojas fecharam e as pessoas estão trancadas em casa para se proteger", explicou o ativista.

De acordo com o Ehsanullah Fazli, responsável da saúde na província de Kunduz, o principal hospital da cidade recebeu 38 civis feridos e 11 mortos desde o recomeço dos combates. "As ambulâncias não podem se mover por causa dos combates", acrescentou. Os números podem aumentar durante o dia, explicou Fazli.

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O Taleban também tem feito ataques na capital, Cabul. Na sexta, mataram o chefe do Centro de Mídia e Informação do governo central, Dawa Khan Menapal. Três dias antes, o Taleban havia reivindicado o ataque à residência do ministro da Defesa, o general Bismillah Mohammadi, que deixou oito mortos —o ministro sobreviveu. Na quinta, o chefe do distrito de Sayed Abad foi assassinado na capital.

Os episódios fazem parte de uma série de assassinatos cometidos pelo grupo fundamentalista islâmico para enfraquecer Ashraf Ghani. Dezenas de ativistas, jornalistas, funcionários públicos e juízes que lutaram para manter o atual regime foram mortos pelo Taleban nas últimas semanas.

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