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Cinco ministros pedem demissão na Argentina após derrota do governo em primárias

Coalizão de Alberto Fernández ficou atrás da oposição em pleito, o que elevou pressão por mudanças

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Buenos Aires | AFP e Reuters

Cinco ministros do governo do presidente argentino, Alberto Fernández, colocaram seus cargos à disposição nesta quarta-feira (15). As renúncias, que foram acompanhadas de pedidos de demissão de outras autoridades, ocorrem três dias depois de a frente governista ser derrotada nas primárias para o pleito legislativo de 14 de novembro.

O ministro do Interior, Wado de Pedro, foi o primeiro a entregar o cargo. Ele foi seguido pelos titulares das pastas da Justiça, Martín Soria; da Ciência e Tecnologia, Roberto Salvarezza; do Meio Ambiente, Juan Cabandié; e da Cultura, Tristán Bauer.
Presidente da Argentina, Alberto Fernández, e a vice-presidente, Cristina Kirchner,  após os resultados das eleições legislativas primárias, na sede da coalizão Frente de Todos, em Buenos Aires
Presidente da Argentina, Alberto Fernández, e a vice-presidente, Cristina Kirchner, após os resultados das eleições legislativas primárias, na sede da coalizão Frente de Todos, em Buenos Aires - Maximiliano Luna - 13.set.2021/ TELAM / AFP

Fernández passou o dia reunido com os demais ministros e, até a noite desta quarta, não havia se manifestado oficialmente sobre os pedidos —nem confirmou se os havia aceitado. Segundo o jornal argentino Clarín, o governo discute se as cartas de demissão seriam mesmo oficiais, já que nem todas teriam sido enviadas formalmente pelo sistema eletrônico da Casa Rosada.

Os nomes que entregaram os cargos fazem parte da ala kirchnerista, mais à esquerda, da coalizão que apoia o governo peronista. O grupo, que também tem laços com o filho da vice-presidente Cristina Kirchner, o deputado Máximo, já vinha manifestando descontentamento com a gestão e pressionando por uma reforma ministerial.

“Ouvindo suas palavras na noite de domingo [12], quando levantou a necessidade de interpretar o veredito expresso pelo povo argentino, considerei que a melhor forma de colaborar com essa tarefa é colocando minha demissão à sua disposição”, escreveu De Pedro na carta que apresentou a Fernández.

Ele fez referência a falas do mandatário reconhecendo o mau desempenho de seus candidatos nas primárias. A Frente de Todos, aliança peronista, obteve 31,03% dos votos em todo o país e ficou atrás da principal força de oposição, a coalizão de centro-direita Juntos (ligada ao ex-presidente Mauricio Macri), que alcançou 40,02% em nível nacional.

"Fizemos algo errado e precisamos entender o que foi", disse Fernández na segunda-feira. "O rumo tomado em 2019 [quando ele assumiu a Presidência] não vai ser alterado. Existem razões pelas quais as pessoas não nos acompanharam nessa votação, e nós agora vamos escutá-las melhor."

As primárias, na prática, apenas definem quais candidatos poderão concorrer no pleito de novembro. Ainda assim, dado o desgaste que o presidente enfrenta internamente, o resultado era considerado um termômetro da gestão federal.

Fernández agora deve enfrentar uma batalha para reconquistar eleitores e não ver minguar sua base de apoio no Legislativo. Caso os resultados das primárias se confirmem no final do ano, a aliança Juntos se tornará a principal força na Câmara de Deputados, embora com maioria simples. No Senado, a maioria peronista também estaria sob risco.

Além dos cinco ministros, também pediram demissão nesta quarta-feira a secretária de Comércio Interno, Paula Español; a titular ​​do Programa de Saúde Integral, Luana Volnovich; e a diretora da Administração Nacional de Segurança Social, Fernanda Raverta.

Ainda fazem parte da lista, segundo o jornal Clarín, o presidente da Aerolineas Argentinas, Pablo Ceriani, e a chefe do Instituto Nacional contra a Discriminação, Xenofobia e Racismo, Victoria Donda.

No encontro na Casa Rosada com ministros que não renunciaram, Fernández recebeu também seu chefe de gabinete, Santiago Cafiero. Este último seria um dos motivos de desgaste na administração federal.

A ala kirchnerista pressionava pela substituição de Cafiero, de Matías Kulfas, chefe da pasta de Desenvolvimento Produtivo, e de Martin Guzmán, da Economia —visto como peça fundamental nas negociações da Argentina com o FMI, a quem o país deve US$ 44 bilhões; ele defende ajustes fiscais que são criticados por Cristina.

Nesta quarta, ao lado de Fernández, antes de a crise política piorar, o titular da Economia defendeu sua gestão, mas reconheceu que o governo "tem problemas sérios que precisam ser resolvidos".

O presidente Alberto Fernández, em seua posse, em 2019, com o então ministro do Interior Wado de Pedro, na Casa Rosada - Juan Mabromata - 10.dez.19/AFP

Após a escalada das tensões em Buenos Aires, movimentos convocaram, para esta quinta (16), na região da plaza de Mayo, na capital, manifestações em apoio a Fernández.

A crescente insatisfação dos argentinos com o governo recai sobre desgastes vividos recentemente pelo presidente. Em agosto, o presidente foi indiciado devido à realização de uma festa de aniversário para a primeira-dama, Fabiola Yáñez, em 14 de julho de 2020.

O evento, na residência oficial da Presidência, deu-se no momento de restrições mais agudas à circulação de pessoas no país, para conter a disseminação do coronavírus. Uma foto que vazou do que ficou conhecido como Olivos-gate levou Fernández primeiro a mentir e depois a pedir desculpas publicamente.

Outros pontos de descontentamento estão ligados ao desempenho ruim da economia (a inflação está em 50% ao ano) e à gestão da pandemia (o país tem 113 mil mortes e cerca de 40% da população totalmente imunizada). Fernández conta hoje com 32% de aprovação.

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