EUA querem que Brasil receba migrantes haitianos e refugiados do Afeganistão

Questão da deportação foi tratada em conversa de chanceler Carlos França com Antony Blinken, chefe da diplomacia americana

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Brasília

Os EUA querem que o Brasil aceite receber migrantes haitianos em processo de deportação e refugiados afegãos que voltaram a correr perigo no país com o retorno do Talibã ao poder.

O presidente dos EUA, Joe Biden, enfrenta no momento uma nova crise migratória na fronteira com o México, onde milhares de haitianos tentam entrar em território americano.

Diante do grande fluxo na cidade de Del Rio, no estado do Texas, o Departamento de Segurança Nacional dos EUA anunciou que iria acelerar a operação de saída desses migrantes, em voos de deportação para o Haiti —origem da maioria das pessoas— e outros destinos.

O ministro das Relações Exteriores, Carlos França, em evento no Palácio do Itamaraty
O ministro das Relações Exteriores, Carlos França, em evento no Palácio do Itamaraty - Evaristo Sá - 31.ago.21/AFP

Segundo interlocutores diplomáticos, o governo americano verificou que parte dos haitianos iniciou a jornada rumo aos EUA em território brasileiro. Assim, a ideia da administração Biden é que o Brasil se disponha a receber voos de haitianos deportados que tenham algum vínculo com o país, seja um registro nacional de estrangeiro válido ou filhos nascidos aqui.

O ministro Carlos França (Relações Exteriores) teve reunião na tarde desta terça-feira (21) com o secretário de Estado Antony Blinken, chefe da diplomacia americana. O tema dos haitianos foi discutido no encontro.

Trata-se da conversa presencial de mais alto nível entre as duas administrações, uma vez que Biden e Bolsonaro ainda não tiveram uma agenda bilateral.

Para o governo americano, o envio de ao menos parte dos migrantes para Brasil e Chile —outro país onde residiam muitos dos haitianos aguardando remoção dos EUA— também seria uma forma de reduzir as críticas em razão das deportações realizadas diretamente ao Haiti.

A nação caribenha é o país mais pobre do hemisfério ocidental, foi recentemente assolada por um terremoto e está submersa numa crise política após o assassinato do presidente Jovenel Moïse —crime do qual o primeiro-ministro é suspeito de envolvimento, segundo um procurador.

Toda a logística e o fretamento de voos com os deportados haitianos ficariam sob responsabilidade dos EUA, ainda segundo pessoas com conhecimento do assunto. De acordo com diplomatas, que falaram à Folha sob condição de anonimato, em tese o Brasil não pode impedir a entrada de estrangeiro que tenha permissão de residência em dia ou filhos que são cidadãos brasileiros.

A eventual autorização para que os EUA realizem esses voos para o Brasil, porém, depende do aval do governo Bolsonaro.

Outro ponto que está na agenda de Blinken com França é a possível chegada de refugiados afegãos ao Brasil. Após uma guerra que durou 20 anos, os EUA retiraram suas tropas do Afeganistão em agosto, em uma operação desastrada, que terminou com a volta do regime extremista do Talibã ao poder.

Autoridades americanas e organizações não governamentais têm mapeado pessoas cuja permanência no país da Ásia Central seja considerada insegura.

A administração Biden quer trabalhar com outros governos —entre os quais o brasileiro— para que essas pessoas recebam vistos e possam se restabelecer.

Em seu discurso na Assembleia-Geral da ONU nesta terça, Bolsonaro disse que o futuro do Afeganistão causa grande apreensão e sugeriu que o governo faria uma análise com componente religioso do refugiado para a concessão de vistos humanitários, oferecendo a permissão a "cristãos, mulheres, crianças e juízes afegãos".

No início de setembro, o governo Bolsonaro editou uma portaria para autorizar a emissão de visto de acolhida humanitária a afegãos que fogem do país. A medida facilita a acolhida de pessoas dessa nacionalidade, como já acontece em relação a sírios e haitianos.

Segundo comunicado emitido pelo Itamaraty e pelo Ministério da Justiça à época, "mulheres, crianças, idosos, pessoas com deficiência e seus grupos familiares" teriam prioridade.

As embaixadas do Brasil em Islamabad (Paquistão), Teerã (Irã), Moscou (Rússia), Ancara (Turquia), Doha (Qatar) e Abu Dhabi (Emirados Árabes) estarão habilitadas a processar os pedidos desse tipo de visto —o Brasil não possui representação diplomática no Afeganistão.

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