Descrição de chapéu The New York Times

Ex-agentes da inteligência dos EUA admitem ter atuado como hackers para Emirados Árabes

Empresa contratou ex-funcionários americanos para invadir aparelhos ilegalmente

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Mark Mazetti Adam Goldman
Washington | The New York Times

Três ex-agentes da inteligência dos Estados Unidos contratados pelos Emirados Árabes Unidos para realizar operações cibernéticas sofisticadas admitiram ter cometido crimes de hacking (invasão de computadores) e violado as leis de exportação dos EUA, que restringem a transferência de tecnologia militar para governos estrangeiros, segundo documentos judiciais divulgados na terça-feira (14).

Os relatórios detalham uma conspiração dos três homens para fornecer tecnologia avançada aos Emirados Árabes e ajudar agentes da inteligência do país em invasões de computadores, de modo a prejudicar os inimigos da pequena e poderosa nação do Golfo Pérsico.

Eles ajudaram o país, forte aliado dos EUA, a obter acesso não autorizado a "dados de computadores, dispositivos eletrônicos e servidores no mundo todo, incluindo computadores e servidores nos EUA", disse a promotoria americana.

Sede da NSA, em Maryland (EUA), onde trabalhava um dos americanos contratados pelos Emirados Árabes Unidos - Saul Loeb/AFP

Os três trabalharam para a DarkMatter, empresa ligada ao governo emiradense, e fazem parte de uma tendência de ex-agentes da inteligência americana aceitarem empregos lucrativos de governos estrangeiros que desejam aumentar suas capacidades cibernéticas.

Especialistas disseram que as regras que regem essa nova era de mercenários digitais são obscuras e que as denúncias divulgadas nesta terça podem ser o começo de uma batalha para impedir que ex-espiões americanos se tornem "armas de aluguel" em outros países.

Marc Baier, Ryan Adams e Daniel Gericke admitiram, como parte de um acordo de adiamento do processo por três anos, terem violado as leis dos EUA. Depois desse prazo, o Departamento de Justiça deve arquivar o processo criminal. Cada um deles também terá de pagar centenas de milhares de dólares em multas —o valor que ganharam trabalhando para a DarkMatter. Eles também nunca mais poderão receber um certificado de segurança do governo americano.

Baier trabalhou para a unidade da NSA (Agência Nacional de Segurança) de operações cibernéticas ofensivas avançadas. Adams e Gericke serviram nas Forças Armadas e em órgãos de inteligência.

A DarkMatter se originou de outra companhia americana, a CyberPoint, que no começo ganhou contratos dos Emirados Árabes para ajudar a proteger o país de ataques de computadores.

A CyberPoint tinha licença do governo americano para trabalhar para emiradenses, passo necessário para regulamentar a exportação de serviços militares e de inteligência. Muitos funcionários da empresa tinham trabalhado em projetos altamente secretos para a NSA e outros órgãos de inteligência dos EUA.

Mas os Emirados Árabes tinham ambições maiores e pressionaram diversas vezes funcionários da CyberPoint para ultrapassarem os limites da licença americana, segundo ex-empregados.

A CyberPoint recusou pedidos de agentes da inteligência do país para tentar decifrar códigos de criptografia e invadir sites da web hospedados em servidores americanos —operações que teriam infringido a lei americana. Por isso, em 2015, o país do Golfo fundou a DarkMatter, que não se submete às leis dos EUA, e atraíram uma série de funcionários da CyberPoint.

A DarkMatter empregou vários outros ex-oficiais da NSA e da CIA (Agência Central de Inteligência), segundo uma lista de empregados obtida pelo New York Times, alguns ganhando salários de centenas de milhares de dólares por ano.

A investigação de funcionários americanos da empresa foi tocada por anos, e ainda não está claro se novos processos podem vir à tona. Especialistas citam potenciais danos diplomáticos capazes de colocar em risco a relação dos EUA com os Emirados Árabes, bem como a possibilidade de expor detalhes sobre a cooperação da DarkMatter com agências de inteligência americanas. Neste ano, a CIA emitiu um comunicado contundente a antigos funcionários orientando que não trabalhassem para governos estrangeiros.

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