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China exclui Caixin de lista oficial de fontes e reacende debate sobre imprensa no regime

Um dos poucos veículos independentes no país, revista construiu imagem de obstinação diante do controle midiático chinês

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BAURU (SP)

A China excluiu a revista Caixin, um dos poucos veículos de jornalismo independentes no país, de uma lista que inclui mais de 1.300 fontes oficiais de notícias. O movimento representa um novo sinal de alerta a respeito da investida de Pequim em direção ao controle da mídia.

A Administração do Ciberespaço da China (CAC), agência ligada ao regime central responsável pela censura, controle e supervisão da internet no país, publicou na quarta (20) a versão atualizada da lista de fontes oficiais. Embora o órgão tenha observado que a relação atual inclui quatro vezes o número de veículos e perfis públicos em mídias sociais da versão anterior, de 2016, a Caixin não aparece na listagem.

O dirigente chinês, Xi Jinping, durante evento oficial em Pequim
O dirigente chinês, Xi Jinping, durante evento oficial em Pequim - Carlos Garcia Rawlins - 9.out.21/Reuters

Segundo o comunicado da CAC, os canais omitidos "não atendem mais aos requisitos, têm desempenho ruim e falta de influência". O objetivo da revisão seria a manutenção "da seriedade e da credibilidade" da lista. A Caixin não comentou publicamente a decisão do órgão regulador.

Na prática, a exclusão significa que o veículo, considerado um dos mais proeminentes do país, só poderá ser acessado por meio de visitas diretas ao site ou pelo uso do aplicativo. Enquanto estava na lista, era possível acompanhar as novas publicações em sites populares que funcionam como agregadores de notícias. Agora, segundo a CAC, todos os serviços noticiosos da internet chinesa deverão seguir a versão mais recente da relação, e os que não cumprirem as regras estarão sujeitos a punições.

Fundado em 2009 pela jornalista Hu Shuli, a Caixin ganhou a reputação de ser um dos veículos de jornalismo investigativo mais obstinados da China. Desde julho de 2020, a Folha republica reportagens da revista em uma parceria de troca de conteúdo. Além da cobertura econômica e financeira cotidiana, o veículo se firmou na última década por suas reportagens reveladoras sobre temas como os primeiros casos de coronavírus em Wuhan e desvios nas empresas mais poderosas da China.

Hu é professora de jornalismo nas universidades de Pequim e de Guangzhou e já foi perfilada pelas revistas The New Yorker e The Economist. Nos textos, foi chamada de "anjo vingador" e "a mulher mais perigosa" da China. Ao New York Times em 2005, quatro anos antes da fundação da Caixin, disse que estava disposta a pressionar os limites do que era possível no jornalismo chinês, mas sem ultrapassá-los.

Em 2014, um dos editores do veículo, Xu Xiao, foi detido sob suspeita de "colocar a segurança nacional em risco". À época, o regime de Xi Jinping havia intensificado a repressão à sociedade civil e a entidades de direitos humanos não governamentais, e o jornalista participava de um grupo envolvido na criação de bibliotecas em áreas rurais.

Dois anos depois, a Caixin teve suas credenciais suspensas por dois meses depois que o órgão de controle da internet considerou "problemáticas" as reportagens críticas do veículo sobre uma série de novos regulamentos do Ministério da Justiça chinês.

No início deste mês, a Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma, principal órgão de planejamento da China, divulgou uma diretriz em que afirma a interrupção do investimento de capital "não público" em uma série de atividades, incluindo edição, operação e transmissão de notícias.

Na prática, a orientação limita amplamente os investimentos privados em veículos jornalísticos, por exemplo, o que será um desafio para a subsistência no longo prazo de publicações como a Caixin.

O cenário midiático na China é, atualmente, já bastante controlado. Empresas de comunicação estrangeiras, como os jornais americanos The New York Times e The Wall Street Journal, além da rede britânica BBC, sofrem bloqueios das autoridades chinesas.

Assim, são os gigantes estatais, como os jornais China Daily, People's Daily e Global Times, alinhados aos interesses do Partido Comunista Chinês e adeptos de um discurso nacionalista e crítico ao Ocidente, que dominam o jornalismo sob o regime de Xi.

"Isso mostra que os veículos de notícias terão que ficar ao lado do governo para continuar desfrutando de privilégios", disse Justin Tang, chefe de pesquisa asiática da consultoria internacional de investimentos United First Partners, em entrevista à agência Bloomberg. "Nenhum veículo está acima do partido."

Além da Caixin, outro veículo independente foi excluído da nova lista de fontes oficiais. O Economic Observer já fez críticas ao governo em algumas reportagens. Em um dos casos mais notórios, publicou, em 2011, um artigo detalhado sobre um acidente com um trem de alta velocidade que matou dezenas de pessoas. Ao fazê-lo, porém, a publicação contrariou uma diretriz do regime, que havia proibido a divulgação.

Em março, os órgãos reguladores chineses ordenaram que o grupo Alibaba, do bilionário Jack Ma, vendesse parte de seus ativos de mídia, incluindo o South China Morning Post, principal jornal de língua inglesa com sede em Hong Kong. A venda do veículo de 117 anos para uma entidade estatal aumentaria os temores de uma nova restrição à liberdade de imprensa cada vez menor da ex-colônia britânica.

Em junho, o Apple Daily, um dos mais importantes jornais pró-democracia de Hong Kong, encerrou suas atividades depois de mais de um ano pressionado pela lei de segurança nacional imposta no território.

Com Reuters

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