Descrição de chapéu The New York Times

Trump anuncia rede social própria com investimento de empresa dirigida por deputado brasileiro

Digital World Acquisition, sócia do ex-presidente, tem como diretor financeiro Luiz Philippe de Orleans e Bragança

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Jeremy W. Peters David Enrich
The New York Times

O ex-presidente dos EUA Donald Trump anunciou na quarta-feira (20) que já conta com o investimento necessário para criar sua própria empresa de mídia de capital aberto.

Trata-se de um esforço para se reinserir na discussão pública online, da qual ele anda em grande medida ausente desde que Twitter e Facebook o expulsaram na sequência da insurreição de 6 de janeiro.

O ex-presidente dos EUA Donald Trump durante discurso em comício em Des Moines, no estado de Iowa
O ex-presidente dos EUA Donald Trump durante discurso em comício em Des Moines, no estado de Iowa - Rachel Mummey - 9.out.21/Reuters

Se for concluído, o negócio pode dar à nova empresa de Trump acesso a quase US$ 300 milhões para serem gastos conforme ela quiser. Em comunicado no qual anunciou o novo empreendimento, Trump e seus investidores disseram que a nova empresa se chamará Trump Media & Technology Group e que eles vão criar uma nova rede social chamada Truth Social. A finalidade dela, segundo o comunicado, é "criar uma rival ao consórcio da mídia liberal e combater as companhias do Vale do Silício ditas ‘big tech’".

Único presidente americano a sofrer um impeachment duas vezes —ambos barrados pelo Senado—, Trump vem tendo presença ativa na mídia conservadora desde que deixou o cargo. Mas falta-lhe a capacidade que teve no passado de influenciar os ciclos noticiosos e dominar o debate político nacional.

Neste mês ele moveu uma ação na Justiça pedindo para o Twitter restaurar sua conta.

O anúncio na quarta também apontou para um novo aplicativo prometido e que está sendo indicado para pré-venda na App Store, com ilustrações de protótipo que guardam semelhança mais que passageira com o Twitter. Os detalhes sobre a parceria mais recente formada por Trump são vagos. O comunicado que emitiu lembrou o tipo de declarações que fazia sobre suas transações quando era empresário imobiliário. Foi cheio de valores altos em dólares e superlativos que não puderam ser verificados.

Os rumores sobre o interesse de Trump em lançar sua própria plataforma de mídia circulam desde que ele foi derrotado na eleição de novembro de 2020. Nenhum deles se concretizou.

Apesar de relatos iniciais de que estaria interessado em fundar seu próprio canal a cabo para rivalizar com a Fox News, essa ideia não avançou muito, dados os custos imensos e o tempo que seria preciso investir.

Um assessor próximo de Trump, Jason Miller, lançou uma plataforma rival de mídia social que os apoiadores de Trump chamaram de Gettr. Mas Trump nunca aderiu à proposta. Em comunicado na noite de quarta, Miller disse a respeito das negociações com Trump: "Não conseguimos fechar um acordo".

O sócio de Trump no novo empreendimento é a Digital World Acquisition, companhia com propósito especial de aquisição, ou SPAC. Essas empresas, ditas de cheque em branco, constituem um veículo de um tipo de investimento cada vez mais popular —que vende ações ao público com a intenção de utilizar os valores obtidos para adquirir empresas privadas.

A Digital World foi criada em Miami um mês depois de Trump perder a eleição de 2020. A empresa entrou com pedido de oferta pública inicial de ações neste ano e vendeu ações na bolsa Nasdaq no mês passado. O IPO levantou cerca de US$ 283 milhões, e a Digital World ganhou outros US$ 11 milhões vendendo ações a investidores por meio de uma chamada oferta privada.

O diretor financeiro da empresa é o deputado federal brasileiro Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PSL-SP). Descendente da família imperial, motivo pelo qual recebeu o apelido "príncipe", é um dos mais influentes parlamentares da base do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). De acordo com registros financeiros, Bragança possui participação ínfima na distribuição das ações —cerca de 0,11%.

Segundo o site Insider, o valor das ações da Digital World triplicou nesta quinta-feira (21). Além disso, o salto no volume de negociações nos títulos —de uma média de 387 mil transações ao dia para mais de 6 milhões— tornou as ações da empresa as mais negociadas do dia no mercado americano.

A Digital World tem o apoio de alguns nomes importantes de Wall Street e outras fontes com conexões poderosas. Em documentos regulatórios registrados após a oferta pública inicial, grandes fundos hedge, incluindo D.E. Shaw, Highbridge Capital Management, Lighthouse Partners e Saba Capital Management, anunciaram que possuem participações substanciais na Digital World.

O CEO da Digital World é Patrick F. Orlando, ex-funcionário de bancos de investimentos, incluindo o alemão Deutsche Bank, no qual se especializou na compra e venda de instrumentos financeiros conhecidos como derivativos. Em 2012, ele teria criado seu próprio banco de investimentos, o Benessere Capital.

Em documento público recente, Orlando revelou que é dono de quase 18% das ações da companhia. Ele e representantes da Digital World não responderam imediatamente a pedidos de declarações.

​A Digital World não é sua primeira empresa "cheque em branco". Ele já criou ao menos duas outras, incluindo a Yunhong International, sediada no paraíso fiscal das Ilhas Cayman. Quando os investidores compraram ações da Digital World, a empresa não havia anunciado quais companhias pretendia adquirir. Em seu site, afirma que seu objetivo era "focar a fusão com uma empresa líder de tecnologia".

Pelo menos uma das firmas investidoras, a Saba Capital Management, não sabia na época da oferta pública inicial de ações que a Digital World estava em negociações com Trump, informou uma pessoa com conhecimento do assunto. Trump, que tem mentido repetidas vezes sobre os resultados da eleição e ao mesmo tempo acusado a mídia tradicional de publicar notícias supostamente falsas para desacreditá-lo, fez questão de ressaltar a ideia de que a verdade seria o éthos que vai nortear sua nova empresa.

"Vivemos num mundo em que o Talibã tem presença enorme no Twitter, mas seu presidente americano favorito foi silenciado", disse Trump em seu comunicado. "Isso é inaceitável."

Ele prometeu publicar o primeiro post em breve

Tradução de Clara Allain 

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