Descrição de chapéu Guerra na Ucrânia Rússia

Excesso de postos de controle na região de Kiev impede trabalho de jornalistas

Locais estão sob gestão de grupos de civis, inexperientes nesse tipo de atividade

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Kiev (Ucrânia)

"Como é possível alguém bombardear um hospital infantil?"

A pergunta foi feita pelo vice-prefeito da cidade de Mariupol, Serhi Orlov, durante entrevista à BBC, relatando aquela que é provavelmente a pior agressão cometida pelo Exército russo no território ucraniano desde o início da invasão, no dia 24 de fevereiro.

A barricade made of buses and trucks blocking the entrance to Kiev
Bloqueio em estrada de acesso a Kiev, com armações de trilhos de trem e ônibus no meio da via - André Liohn

Na tarde desta quarta (9), um ataque aéreo russo destruiu grande parte de uma maternidade na cidade portuária de Mariupol e feriu pelo menos 17 pessoas, segundo autoridades ucranianas. O episódio ocorreu em meio a crescentes alertas do Ocidente de que a invasão das tropas de Moscou está prestes a tomar um rumo mais brutal e indiscriminado.

A intensidade dos ataques russos dentro das cidades mais importantes da Ucrânia e nos arredores delas voltou a ganhar força depois das 72 horas que o Exército moscovita precisou para fazer a rotação das tropas em campo —substituição de soldados na linha de frente. Portanto, atrocidades, como a que aconteceu em Mariupol, tendem a se repetir com mais frequência a partir de agora.

Em Kiev, também nesta quarta, além de uma coluna de pelo menos oito tanques e outros veículos militares, as Forças Armadas ucranianas deslocaram dezenas de ônibus vazios para o município de Brovari, 25 km a nordeste da capital.

Certo de que as tropas russas tentarão chegar rapidamente a Brovari, o Exército da Ucrânia demonstra que pretende retirar o mais rápido possível mulheres, crianças e idosos da cidade. A intenção é evitar que se repitam eventos como o desta quarta na maternidade.

Até o momento da publicação deste texto, as sirenes de alerta de ataques aéreos em Kiev tinham soado 18 vezes ao longo do dia.

Pontes secundárias de acesso à capital, como as que separam a cidade de municípios como Irpin e Butcha, foram intencionalmente danificadas pelo Exército ucraniano. O objetivo é dificultar a entrada de tanques russos em Kiev.

Os principais acessos à capital, principalmente as estradas que desembocam nas grandes pontes que cruzam o rio Dnieper, foram fechados por barricadas feitas com blocos de concreto e armações de trilhos soldados em forma de X, além de barreiras formadas por dezenas de ônibus e caminhões atravessados propositalmente no meio da pista.

An abandoned car in a field outside the city of Brovary 25 km from the city of Kiev. The traffic of military vehicles has caused many accidents with civilian cars in the region.
Carro abandonado em um campo na cidade de Brovari, a 25 km de Kiev; aumento do tráfego de veículos militares na região provocou um crescimento do número de acidentes de carros de civis - André Liohn

Surgem cada vez mais postos de controle comandados por civis armados. Esses pontos estão instalados nas ruas de Kiev e nas estradas vicinais da região, por meio das quais muitos civis fogem —eles querem evitar as rodovias principais, já controladas pelos russos.

A tensão, o medo e a inexperiência das pessoas que controlam esses postos de controle dificultam e, muitas vezes, tornam inviável o acesso de jornalistas a áreas onde ataques como o de Mariupol aconteceram.

A Folha tentou chegar a Tchernihiv, um trajeto percorrido em uma hora e meia a partir de Kiev —isso em tempos normais. É esta a cidade onde, no último dia 3, ocorreu um ataque aéreo russo que teria matado 47 civis, conforme a denúncia da Anistia Internacional. Esse ataque, segundo a organização, pode constituir um crime de guerra.

Oito horas, 260 km e mais de 30 postos de controle depois, a reportagem não havia conseguido checar a veracidade do ataque. A viagem a Tchernihiv teve que ser cancelada.

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