Descrição de chapéu Rússia

Guerra na Ucrânia: Escalada de ataques reacende temor de conflito nuclear

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São Paulo

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O endurecimento dos ataques da Rússia contra a Ucrânia em um momento de estagnação das negociações diplomáticas reforça o prognóstico de que o conflito, que está no seu 27º dia, ainda pode se estender por semanas.

Com a guerra aparentemente distante do fim, cresce também o temor de que os combates se tornem ainda mais destrutivos, com o uso de armas nucleares, químicas e biológicas.

"As chances são pequenas, mas crescentes", declarou ao jornal The New York Times o pesquisador Ulrich Kühn, especialista em controle de armas da Universidade de Hamburgo (Alemanha) e do Fundo Carnegie para a Paz Internacional, na segunda (21).

Para analistas, ameaças em torno do uso de armas de destruição em massa nesse conflito são, por enquanto, uma estratégia retórica da Rússia para exibir o seu poderio bélico diante da recusa da Ucrânia em aceitar suas exigências para o cessar-fogo. Se não resulta em uma derrota, a resistência de Kiev tem imposto ao menos uma demora maior para que Moscou atinja seus objetivos no território que invadiu, em 24 de fevereiro.

Imagem aérea da usina de Tchernóbil, isolada em um terreno.
Imagem aérea da usina de Tchernóbil, tomada pelos russos no início da invasão à Ucrânia. - Satellite image ©2022 Maxar Technologies / AFP

Além disso, o Kremlin tenta mostrar para o Ocidente que não está fragilizado e que pode, se quiser, fazer uso de equipamentos mais potentes contra o inimigo. Três movimentos recentes do lado russo são considerados indicativos dessa aposta:

  • no fim de semana, o governo Putin anunciou que fez dois ataques com mísseis hipersônicos, equipamentos com elevada capacidade de alcance que podem ser usados tanto com armamentos convencionais como com nucleares;

  • na segunda (21), separatistas pró-Rússia divulgaram vídeos que indicam o posicionamento para a região invadida de foguetes termobáricos, a arma não nuclear mais destrutiva do arsenal russo.

  • em entrevista nesta terça (22), o porta-voz do Kremlin condicionou o uso de armas nucleares a uma "ameaça existencial ao país", uma referência à expansão da Otan (aliança militar ocidental) em nações do seu entorno. A garantia de que a Ucrânia não integrará a organização está na lista de exigências de Putin para o fim da guerra.

Para Danielle Ayres, coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) e vice-presidente da Abed (Associação Brasileira de Estudos de Defesa), "a Rússia, com o seu poder militar maior, reafirma a sua capacidade de ataque".

Na sua avaliação, a possibilidade de uso de armas não convencionais na Ucrânia "não é impensável", mas, por enquanto, a escalada do conflito deve ocorrer com técnicas já conhecidas.

Não se perca

"A Rússia vai atacar de forma mais dura as áreas nas quais têm interesse de conquistar, que é o caso de Mariupol. Esses ataques vão acontecer em maior número, mas ainda com armamento convencional", analisa.

Com a ajuda da professora Danielle Ayres, especialista em assuntos de defesa da UFSC, e de nossas reportagens, explicamos outros tipos de armas não convencionais e o que está em discussão a respeito delas neste conflito:

Armas nucleares

O que são: As bombas nucleares podem ser estratégicas (de imenso potencial destrutivo, como a lançada sobre Hiroshima pelos EUA em 1945) ou táticas, de alcance mais restrito e direcionada a alvos localizados.

Contexto: No início da invasão da Ucrânia, a Rússia colocou suas forças nucleares em alerta de combate. Moscou já fez ataques com armas táticas na guerra da Tchetchênia, nos anos 1990.

Segundo as normas aprovadas por Putin em 2020, o uso do arsenal nuclear pode ocorrer:

  • se o país ou algum de seus aliados for atacado com armas nucleares ou de destruição em massa;

  • no caso de agressão com armas convencionais, quando "a própria existência do Estado estiver sob ameaça" (a aproximação da Otan ou sua entrada no conflito é vista como ameaça).

Em tempo: Rússia e EUA concentram 90% das ogivas nucleares do mundo, uma herança da primeira Guerra Fria. Compare aqui o arsenal de cada um.

Armas químicas e biológicas

O que são: Substâncias com propriedades tóxicas que visam causar danos em um indivíduo ou em um coletivo. São exemplos de armas químicas o gás mostarda, usado na Segunda Guerra Mundial, e o agente laranja, herbicida usado na Guerra do Vietnã. A Rússia é acusada de usar esse tipo de substância para tentar envenenar opositores como Alexei Nalvani.

O contexto: Rússia e EUA têm trocado uma série de acusações envolvendo a intenção de usar armas químicas e biológicas —estas têm a mesma função que as armas químicas, mas feitas a partir de agentes como vírus e bactérias.

A Rússia acusa os EUA de montar uma rede de laboratórios para estudar agentes biológicos na Ucrânia. Já a Casa Branca e a Otan afirmam que esse argumento é uma desculpa dos russos para usar seus armamentos químicos.

"Agora que a Rússia fez estas falsas alegações, devemos todos estar atentos para que a Rússia possivelmente use armas químicas ou biológicas na Ucrânia. É um padrão claro", declarou a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, no último dia 9.

O que aconteceu nesta terça (22)

  • Zelenski disse que poderia discutir status de Crimeia e áreas separatistas se Putin aceitar encontro;

  • Presidente ucraniano diz ter convidado papa Francisco para atuar de mediador do conflito;

  • OMS disse que ao menos 62 ataques atingiram hospitais na Ucrânia;

  • Jornalista russo que ganhou Nobel da Paz afirmou que vai leiloar medalha e doar dinheiro a refugiados da Ucrânia.

Imagem do dia

Garoto se agacha diante de da palavra Mariupol escrita com tinta branca no chão
Garoto acende velas em homenagem a Mariupol, cidade atacada na Ucrânia, em protesto em Praga; ao menos 75 crianças morreram na guerra, segundo a ONU - David W Cerny/Reuters

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