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Premiê do Paquistão deixa cargo após perder voto de desconfiança no Parlamento

Ex-estrela do críquete, Imran Khan, no poder desde 2018, havia perdido apoio após deserções em seu partido

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Islamabad | AFP

O Parlamento do Paquistão destituiu o primeiro-ministro Imran Khan na início da madrugada deste domingo (10), tarde de sábado (9) no Brasil, após ele perder uma moção de desconfiança, o auge de uma crise crise política que se arrasta há semanas.

O presidente interino da Câmara Baixa, Sardar Ayaz Sadiq, indicou que o processo de afastamento foi aprovado depois de obter 174 votos de um total de 342 —eram necessários 172 apoios, ou seja, maioria simples. Havia apenas alguns legisladores do partido governante de Khan presentes na votação.

O premiê do Paquistão, Imran Khan, durante entrevista em junho de 2021 - Saiyna Bashir - 4.jun.21/Reuters

O Parlamento ainda não indicou o sucessor, mas o líder da oposição, Shehbaz Sharif, é o favorito para comandar interinamente o país de 220 milhões de habitantes no sul da Ásia, de maioria muçulmana, até as eleições gerais de outubro, nas quais Khan deve concorrer novamente.

Aos 70 anos, Sharif tem a reputação de ser um administrador eficaz. Ele é o irmão mais novo de Nawaz Sharif, que foi premiê em três oportunidades. Uma aliança de legendas apresentou o processo contra Khan em meados de março, dizendo que ele havia perdido a maioria parlamentar após mais de uma dúzia de deserções em seu partido, aumentando o risco de turbulência no país detentor de armas nucleares.

Ex-campeão de críquete, Khan foi eleito em agosto de 2018, após uma campanha marcada por acusações de manipulação por parte do Exército, protagonista da política do país que enfrentou vários golpes de Estado. A oposição acusa ​Khan de má gestão da economia e da política externa —sua popularidade estava baixa depois de três anos seguidos de inflação de dois dígitos e da enorme dívida do governo.

Khan apelou aos legisladores que mudaram de lado para que eles retornassem ao partido governista. "Volte, você será perdoado", disse, num evento no noroeste do Paquistão. "Como um pai perdoa os filhos."​

Em várias ocasiões, o agora ex-premiê acusou os Estados Unidos de se intrometerem nos assuntos internos do Paquistão, com o apoio da oposição, à qual chama de traidora, e de quererem sua renúncia porque ele se negou a se alinhar às posições americanas em relação a Rússia e China.

Oposicionistas e analistas dizem que Khan se desentendeu com a cúpula dos militares, cujo apoio é fundamental para que qualquer partido alcance o poder. Tanto ele quanto as Forças Armadas negam.

Desde sua independência, em 1947, o Paquistão sofreu quatro golpes e passou mais de três décadas governado pelo Exército. Nenhum primeiro-ministro do Paquistão completou seu mandato de cinco anos até hoje, embora Khan tenha sido o primeiro a ser removido com voto de desconfiança do Parlamento.

Segundo a Constituição, o presidente da Câmara Baixa do Parlamento é obrigado a convocar a sessão 14 dias após o recebimento do pedido de moção. Assim, a votação deveria ter ocorrido em 21 de março, mas a data foi adiada devido a uma conferência de países islâmicos em Islamabad naquela semana.

Contudo, uma manobra de última hora do vice-presidente do Parlamento, Qasim Khan Suri, ligado a Khan, rejeitou a votação da moção de censura por considerá-la inconstitucional, já que, para ele, tratava-se de uma "ingerência estrangeira". Em seguida, o presidente Arif Alvi, outro aliado de Khan​, dissolveu o Parlamento, o que gerou automaticamente a convocação de eleições legislativas antecipadas em 90 dias.

Mas, em uma nova reviravolta, a Suprema Corte anulou na última quinta-feira (7) a dissolução do Legislativo e ordenou que a moção de censura fosse finalmente a voto. O tribunal é um órgão independente, mas ativistas de direitos humanos denunciam a influência dos militares em suas decisões.

Opositores comemoram a saída do premiê do Paquistão do lado de fora do Parlamento
Opositores comemoram a saída do premiê do Paquistão do lado de fora do Parlamento - Aamir Qureshi -10.abr.22/AFP
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