Descrição de chapéu Guerra na Ucrânia Rússia

Rússia diz que navio de guerra afundou no mar Negro, após disputa de narrativas

Kiev alega ter atingido cruzador símbolo do poderio naval russo com míssil, enquanto Moscou fala em incêndio

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Kiev | Reuters

O principal navio de guerra da Rússia no mar Negro, o Moskva, símbolo do poder naval do país, afundou nesta quinta-feira (14), afirmou o Ministério da Defesa russo.

O navio está no centro da mais nova guerra de narrativas entre Moscou e Kiev: os ucranianos afirmam que a embarcação afundou após ser atingida por um míssil de cruzeiro, enquanto os russos afirmam que houve um incêndio após a explosão de munição ali transportada.

O navio de guerra russo Moskva na região da península da Crimeia - Alexei Pavlishak - 16.nov.21/Reuters

Nenhuma das versões pôde ser confirmada de maneira independente, mas analistas militares afirmam que, caso o ataque ucraniano tenha sido real, o episódio representaria um golpe moral para o governo de Vladimir Putin no 50º dia de guerra no Leste Europeu. O governo ucraniano afirma que conseguiu atingir o navio de guerra com um míssil de fabricação ucraniana batizado de Neptune.

O Moskva (Moscou, em russo) tem cerca de 186 metros de comprimento, entrou para a frota do país no início dos anos 1980 e foi construído no porto de Mikolaiv, em território que hoje pertence à Ucrânia —à época, ainda parte da União Soviética.

Mais cedo, o Ministério da Defesa da Rússia havia afirmado que mais de 500 tripulantes que estavam a bordo do cruzador foram retirados após a explosão de munição.

De acordo com as agências de notícias do país, o naufrágio nesta quinta ocorreu devido a uma perda de estabilidade, por causa das avarias ao casco, enquanto a embarcação era rebocada de volta para o porto em meio a condições agitadas do mar. O Kremlin, que não reconheceu o ataque ucraniano, diz que investiga as causas da explosão.

O cruzador desempenhou papel importante em várias campanhas militares do país, inclusive na Síria. Agências de notícias russas dizem que 16 mísseis com alcance de até 700 km estavam a bordo.

A nau ganhou notoriedade no início da guerra pelo ataque à ilha da Cobra, em que 19 marinheiros ucranianos foram capturados e depois trocados por prisioneiros russos.

Em seu pronunciamento noturno diário, divulgado já na madrugada de sexta (15) local, o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, fez uma breve menção indireta do Moskva, ao render tributo a "aqueles que detiveram o progresso dos intermináveis comboios de equipamento militar russo, que mostraram que os navios russos podem ir para o fundo".

O mar Negro é considerado essencial para a campanha militar russa e serve de apoio a operações terrestres no sul e no leste da Ucrânia —hoje epicentro da operação de Moscou, que visa a construir uma ligação entre a Crimeia, anexada em 2014, e o Donbass. De lá, a Marinha já disparou mísseis de cruzeiro contra cidades ucranianas.

Os Estados Unidos disseram não ter informações suficientes para determinar se o Moskva foi atingido por um míssil. "Mas, da forma como isso [o naufrágio] se desenrolou, é um grande golpe para a Rússia", afirmou o conselheiro de segurança nacional Jake Sullivan.

Moscou tem outros dois navios de mesma classe (Marechal Ustinov e Variag), hoje servindo nas frotas do norte e do Pacífico. Também por isso, especialistas militares ouvidos pela agência Reuters ponderaram o impacto desse naufrágio na operação na Ucrânia.

Segundo eles, a Rússia tem recursos suficientes para manter o bloqueio de portos ucranianos e atingir alvos em terra com outros sistemas de mísseis.

Enquanto isso, intensificam-se os ataques na porção leste do território ucraniano e na fronteira do país com a Rússia. O FSB (Serviço Federal de Segurança) acusou Kiev de ter realizado ao menos seis ataques com helicópteros a uma área residencial da vila de Klimovo, na região russa de Briansk, e disse que sete pessoas ficaram feridas. Autoridades ucranianas ainda não se manifestaram sobre o incidente.

O Ministério da Defesa do Reino Unido, que monitora o conflito, disse em seu relatório diário que as cidades de Kramatorsk (onde na semana passada ocorreu um ataque a uma estação de trem) e Kostiantinivka devem ser os próximos alvos russos com ataques generalizados.

As regiões de Kharkiv, Donetsk e Zaporíjia, todas ao leste, são as mais atingidas no momento, relatou a vice-ministra da Defesa ucraniana, Hanna Maliar. Na primeira, o governador Oleh Siniegubov afirmou que quatro civis morreram e outros dez ficaram feridos durante um bombardeio. Ele também pediu para que moradores de alguns vilarejos se retirem, já que operações militares devem ocorrer nessas áreas.

Nas primeiras horas de sexta pelo horário local, a Reuters e o jornal britânico The Guardian também noticiaram, ainda que não tenham verificado de forma independente, o relato de explosões em Kiev, Kherson e Ivano-Frankivsk. Sirenes alertando para possíveis ataques também teriam sido ouvidas em várias partes.

A Ucrânia acusa Moscou de concentrar tropas não somente na fronteira leste do país, mas também na Transdnístria —área pró-Moscou na vizinha Moldova— e na Belarus, ditadura aliada de Moscou que já sediou negociações infrutíferas para um cessar-fogo.

O país reabriu nesta quinta nove corredores humanitários, que haviam sido fechados no dia anterior, informou a vice-primeira-ministra Irina Vereschuk. As rotas para retiradas de civis serão estabelecidas em cidades como a sitiada Mariupol, Tokmak, Enerhodar e Berdiansk.

Ela também afirmou que um corredor seria aberto em Lugansk, no Donbass, área de maioria russófona, mas somente se Moscou cessar os bombardeios. Autoridades ucranianas têm pedido à população para fugir para o oeste pelo temor da intensificação dos ataques russos na região.

Ainda nesta quinta, o Kremlin subiu o tom nas ameaças a Finlândia e Suécia, países geograficamente próximos da Rússia que discutem, de forma acelerada devido à guerra, a possibilidade de aderir à Otan, a aliança militar ocidental. O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, disse a repórteres que Putin irá avaliar uma série de medidas para reforçar a segurança do país caso Helsinque e Estocolmo se somem à aliança e que a Defesa russa já prepara propostas sobre o assunto, sem especificá-las.

Pouco depois, um dos principais aliados de Putin, Dmitri Medvedev, ex-presidente e atual vice-secretário do Conselho de Segurança da Rússia, disse que, caso os países decidam aderir, a Rússia terá de fortalecer suas forças navais e aéreas no mar Báltico. E levantou a ameaça nuclear ao dizer que não será mais possível falar em um "Báltico sem armas nucleares". "O equilíbrio deverá ser restaurado", afirmou.

"Até aqui, a Rússia não tomou essas medidas e não iria tomá-las, mas, se formos forçados a isso, lembrem-se de que não fomos nós que o propusemos."

A Lituânia, país que, junto com a Polônia, faz fronteira com o exclave russo de Kaliningrado, minimizou as ameaças. O ministro da Defesa do país, Arvydas Anusauskas, disse a um canal local que a Rússia já tem mísseis nucleares táticos armazenados ali. "A comunidade internacional e os países da região estão perfeitamente cientes disso; eles [os russos] usam isso apenas como uma ameaça".

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