Descrição de chapéu Guerra na Ucrânia Rússia

Ucrânia retoma Butcha, perto de Kiev, e encontra cadáveres na rua após recuo da Rússia

Prefeito fala em 280 pessoas enterradas em valas comuns; fotos mostram dezenas de corpos pela cidade

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Butcha (Ucrânia) | AFP

A retirada das tropas russas da cidade de Butcha , próxima à capital Kiev, inicialmente celebrada como uma vitória parcial para a Ucrânia, terminou como cenário do lastro de caos humanitário deixado pelo conflito prestes a completar 40 dias. Corpos de dezenas de civis foram encontrados neste sábado (2) pelas ruas.

São homens e mulheres, muitos rodeados de elementos que parecem simbolizar o que restava de uma cidade sob bombardeio: bicicletas, mochilas e sacolas com mantimentos. Importante artéria para chegar à capital, Butcha tinha 29 mil habitantes antes do início da guerra.

Segundo o prefeito Anatoli Fedorouk, pelo menos 280 pessoas tiveram que ser enterradas em valas comuns devido à dificuldade de acessar os cemitérios públicos que estavam em território sob ameaça da Rússia.

Corpos encontrados nas ruas de Butcha, cidade próxima de Kiev retomada por forças da Ucrânia - Ronaldo Schemidt/AFP

A agência AFP contou ao menos 20 cadáveres espalhados pelas ruas. Alguns tinham as mãos amarradas e apresentavam indícios de que estavam expostos há dias. Outros estavam próximos de documentos que indicam que são cidadãos ucranianos. "Todas essas pessoas foram assassinadas com um disparo na nuca", disse o prefeito.

As tropas ucranianas só agora conseguiram entrar na cidade, que ficou inacessível, ocupada pelas forças russas, por mais de um mês.

Boa parte dos moradores, até então, vivia presa em casa, escondida em porões tentando se aquecer com velas, já que não havia energia elétrica. Os civis que ainda não haviam sido retirados da cidade ucraniana são idosos, pessoas com deficiência ou pessoas doentes devido a dificuldades para se locomoverem.

Maria Zhelezova, 74, faxineira em uma fábrica de aviões, tentou fugir da cidade, mas não conseguiu. Ao lado da filha Irina, 50, relatou à agência de notícias Reuters, em lágrimas, o que vivenciou.

"Na primeira vez, saí do quarto e uma bala quebrou o vidro da janela e ficou presa na cômoda", disse. "Na segunda, cacos de vidro quase atingiram minha perna, e, na terceira, balas de um rifle passaram direto por mim. Quando cheguei em casa, mal conseguia falar."

Ainda segundo o prefeito, entre as vítimas está um adolescente de 14 anos. Muitos dos cadáveres carregavam panos brancos, sinal para alertar que eram civis e estavam desarmados. Há carros espalhados pela cidade "com famílias inteiras mortas: crianças, mulheres, avós, homens", disse Fedorouk.

Forças ucranianas têm avançado e recuperado regiões ao redor da capital, onde as tropas russas começam a deixar o fronte e a abandonar equipamentos militares, como tanques, depois de não conseguirem tomar a cidade.

A Rússia afirma que mudou o foco da sua "operação militar especial", como chama a invasão, para o leste da Ucrânia, onde apoia separatistas desde 2014 nas províncias de Donetsk e Lugansk. Segundo os russos, a retirada da região de Kiev é um gesto de boa vontade para contribuir para as negociações de paz que, até aqui, não resultaram em avanços.

Ucranianos e aliados do país, no entanto, afirmam que as tropas foram forçadas a se reagrupar em outras regiões depois de sofrerem perdas —o atual conflito é o mais mortal para a Rússia desde a Segunda Guerra Mundial.

Os números mais atualizados das Nações Unidas indicam que 1.325 civis morreram em todo o país desde o início da invasão russa e outros 2.017 ficaram feridos, embora as cifras sejam reconhecidamente subnotificadas e não incluam, por exemplo, o que ficou evidente em Butcha neste sábado. Pelo menos 4,1 milhões de pessoas já deixaram o país —a maioria com destino à Polônia (2,4 milhões).

O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, tem dito que as forças russas pretendem, agora, tomar o leste e o sul do país. Em seu último discurso, na noite de sábado, ele voltou a cobrar nações do Ocidente por não fornecerem sistemas antimísseis suficientes a Kiev.

O serviço de inteligência do Reino Unido, que tem monitorado as movimentações de tropas na guerra, afirmou que tropas russas abandonaram o aeroporto de Hostomel, nos arredores da capital ucraniana, palco de confrontos desde o primeiro dia do conflito. Irpin, perto de Butcha , também voltou para o controle ucraniano.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.