Descrição de chapéu Guerra na Ucrânia Rússia

Corredores humanitários na Ucrânia exibem pouco da humanidade que seu nome carrega

Enquanto idosos são retirados de Irpin, barulho frequente de explosões lembra que tempo para operação de saída é curto

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Mulheres que estavam em um asilo em Irpin durante a operação de retirada da cidade por meio de corredores humanitários

Mulheres que estavam em um asilo em Irpin durante a operação de retirada da cidade por meio de corredores humanitários André Liohn

Irpin (Ucrânia)

Treze dias após o início da invasão da Ucrânia pela Rússia, os corredores humanitários montados em Irpin, pequeno município a noroeste de Kiev, tinham pouco da humanidade que seu nome carrega.

Com o avanço das forças russas em direção à capital, tanto Irpin quanto a cidade de Butcha ​se tornaram os principais campos de batalha entre o Exército moscovita e as forças de resistência ucranianas, que, além de militares, contam também com civis armados com metralhadoras e treinados às pressas.

Muitos deles se reuniram na manhã desta terça-feira (8) para retirar idosos de uma casa de repouso localizada a centenas de metros de onde os russos instalaram um posto de controle, com soldados e carros blindados, na longa avenida que faz de Irpin uma grande artéria que leva a Kiev.

Em alta velocidade, ofegantes e nervosos, dirigindo carros de passeio, vans escolares, ambulâncias e furgões normalmente utilizados para o transporte de mercadorias, homens como Vladi, um ucraniano de 52 anos, saíam do asilo transportando idosos enfraquecidos e assustados, caminhando com dificuldade ou empurrados em suas cadeiras de roda, alguns deitados em macas, arrastados em redes improvisadas com lençóis ou agarrados pelas roupas que usavam, jaquetas maiores que seus corpos.

O frequente barulho de explosões ao fundo lembrava que o tempo para a retirada era curto. Sob a ponte do rio Irpin, destruída por um ataque aéreo —potencialmente ucraniano, na tentativa de impor dificuldades à entrada dos invasores russos na capital do país—, civis carregavam idosos que não conseguiam caminhar.

Sem conseguir descer as escadas lamacentas até a parte que fica abaixo da ponte, uma senhora, cansada por ter percorrido a pé uma dezena de metros sobre o que restava da construção agora cheia de carros abandonados e queimados por bombas, pedia que alguém a ajudasse a chegar até o final da escada com sua sacola e bengala. "Ajudem-me! Ajudem-me!", gritava ela, chorando.

No final da tarde, as ruas de Irpin ficaram praticamente vazias. Vladi e seus amigos já não voltavam com os carros abarrotados de gente. O frio e o vento forte, combinados com a neve, pioravam a sensação de desconforto de quem fugia com apenas alguns poucos pertences.

As explosões de morteiros lançados pelas forças ucranianas chegavam mais perto. De não muito longe, ouvia-se o som seco de bombas explodindo, avistavam-se as nuvens de fumaça e a poeira levantada por morteiros jogados em áreas onde só existiam casas que, naquele momento, talvez já estivessem vazias.

Os idosos resgatados nesta terça em Irpin podem ser contabilizados como um ativo na matemática da guerra. O presidente Vladimir Putin, ciente disso, chegou a propor que civis ucranianos vindos de áreas afetadas pelos conflitos tivessem acesso a corredores humanitários que os levariam para a Rússia, algo que foi considerado imoral pelos governos da Ucrânia e de outros países europeus, como a França.

Enquanto as negociações políticas não avançam, o Exército russo segue atacando com mísseis, assim como combates continuam ocorrendo nas principais cidades do país. Em Irpin, até o final da tarde, os corredores, mesmo com tanta desumanidade, haviam cumprido sua função: a de esvaziar a cidade.

Agora as forças russas e ucranianas poderão combater e, ironicamente, dar prosseguimento à guerra.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.