Rússia anuncia corte do fornecimento de gás à Finlândia após pedido de adesão à Otan

Produto representa apenas 6% da energia consumida no país nórdico, mas a maior parte dele vem de Moscou

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Poucos dias após a Finlândia formalizar o pedido de ingresso na Otan, a aliança militar ocidental, a Rússia comunicou que deixará de fornecer gás natural ao país nórdico a partir deste sábado (21).

O anúncio foi confirmado pela Gasum, principal empresa do setor em Helsinque, nesta sexta (20), e o corte tem início à 1h (em Brasília). O diretor da companhia, Mika Wiljanen, chamou a decisão de lamentável —Moscou diz que o corte se deve à recusa finlandesa em pagar em rublos, a moeda russa, pelo produto.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, ao lado de seu homólogo finlandês, Sauli Niinisto, durante encontro em Helsinki - 21.ago.19/AFP

A notícia não pegou ninguém de surpresa. A própria Gasum, que também atua na Suécia e na Noruega, já havia dito que o risco de as importações serem cortadas era muito provável e acrescentou que vai buscar suprir a demanda doméstica por meio do gasoduto Balticconnector, que liga a Finlândia à Estônia.

O gás natural representa apenas 6% da energia consumida na Finlândia, segundo dados de 2020, mas a maior parte dele vem da Rússia. O país nórdico, que vê a energia renovável avançar, tem como principal fonte a biomassa —um quarto da energia nacional. O petróleo ainda ocupa a fatia de 21%.

O uso de combustíveis fósseis e turfa caiu 10% em relação ao ano anterior, diminuindo a participação no consumo total de energia para 37%. Já o conjunto de fontes renováveis chegou a 40% do consumo.

A despeito da alegada justificativa sobre o não pagamento em rublos —o que já levou Moscou a cortar o fornecimento de gás para Bulgária e Polônia em abril—, a suspeita na Finlândia cresceu depois de o país tentar o ingresso na Otan, decisão prontamente criticada pelo governo de Vladimir Putin.

Ainda nesta sexta, o Ministério da Defesa russo comunicou a abertura de mais 12 bases militares a oeste de seu território até o final do ano. "[A Rússia] está tomando contramedidas adequadas", disse o ministro Serguei Choigu, referindo-se à ampliação da aliança para incluir a Finlândia e a Suécia.

Antes do anúncio de que a gigante estatal russa Gazprom não fornecerá mais gás aos finlandeses, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, afirmou a repórteres que o governo russo não tinha informações sobre os contratos da empresa, mas emendou: "Obviamente, nada será fornecido de graça a ninguém".

Na semana passada, a Inter RAO, principal concessionária russa, também havia comunicado que pararia de exportar energia para a Finlândia "por enquanto", alegando não receber pagamentos da norueguesa Nord Pool, espécie de mercado atacadista de energia com atuação na Finlândia, desde o início deste mês.

O desafio energético imposto à Finlândia joga mais pressão na União Europeia (UE), bloco do qual o país é membro e que, nesta semana, ampliou os esforços de investimento em energia renovável. Se antes a emergência climática era um dos principais fatores na balança, a tarefa de diminuir a dependência do gás russo entrou com peso na equação após o início da guerra no Leste Europeu, em 24 de fevereiro.

A Rússia fornece 40% do gás do bloco e 27% do petróleo importado da UE. A Comissão Europeia apresentou na quarta-feira (18) um plano de € 210 milhões (mais de R$ 1 bilhão) para reduzir as importações de combustíveis fósseis e, assim, diminuir as emissões de carbono dos países-membros.

O movimento integra o ambicioso pacote apresentado pelo bloco em julho passado para reduzir as emissões de gases do efeito estufa em 55% até 2030, tendo como base os níveis de 1990, para que os países se aproximem da neutralidade de carbono —em que todas as emissões são absorvidas. As emissões já caíram 24% em relação a 1990, enquanto a economia do bloco cresceu 60% no período.

"Devemos reduzir nossa dependência energética da Rússia o quanto antes e podemos fazê-lo", disse Ursula von der Leyen, presidente do braço executivo da UE durante o anúncio do plano mais recente.

A curto prazo, porém, o bloco planeja aumentar a produção doméstica de eletricidade por meio de energia nuclear e carvão. Depois, propõe aumentar a participação em energias renováveis de 40% a 45% em 2030. "Propomos colocar tetos solares em edifícios públicos e comerciais até 2025", seguiu Von der Leyen.​

Com Reuters

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