União Europeia acusa Rússia de chantagem por anúncio de corte de gás a Polônia e Bulgária

Moscou nega e mantém posição de exigir pagamento em rublos, o que ameaça fornecimento a outros países do bloco europeu

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, reagiu ao anúncio de que a Rússia deixou de fornecer gás a Polônia e Bulgária acusando Moscou de provocação e de usar o combustível como "um instrumento de chantagem". "Isso é injustificado e inaceitável. E mostra mais uma vez a falta de confiabilidade da Rússia como fornecedora de gás", afirmou.

Segundo ela, a União Europeia já estava preparada para esse cenário e vai instaurar planos de contingência para que os países-membros do bloco ajam de maneira "imediata, unida e coordenada".

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, durante pronunciamento em Bruxelas, na Bélgica - Olivier Hoslet - 27.abr.22/AFP

Entre as medidas anunciadas por Von der Leyen está o que ela chamou de garantias para que a decisão da companhia de energia russa Gazprom tenha o menor impacto possível sobre os consumidores europeus. De acordo com a alemã, Polônia e Bulgária já estão recebendo gás de seus vizinhos dentro da própria UE, no que seria, nas palavras da presidente, uma demonstração de "imensa solidariedade".

O fornecimento de gás à Europa também ganha mais uma camada de contorno geopolítico porque, além de tentar reduzir a dependência da Rússia, a Comissão Europeia disse que parte da demanda do bloco será suprida pelos EUA já neste ano. A alternativa, porém, é vista com ceticismo. Primeiro, porque o mercado global de gás já estava restrito antes mesmo do início da guerra —hoje em seu 63º dia.

Segundo, por limitações técnicas. O combustível dos EUA seria transportado supergelado e em forma líquida à Europa em navios. Depois, precisaria ser novamente transformado em gás em usinas, mas o continente europeu não tem, atualmente, infraestrutura suficiente para realizar esse processo. A Alemanha pretende construir instalações do tipo, mas, por enquanto, não tem nenhuma.

Von der Leyen também reforçou a intenção de fazer do impasse um gatilho para a implantação de fontes menos poluentes. "Apresentaremos os planos para acelerar a transição verde em meados de maio. Cada euro em energias renováveis e eficiência energética adianta nossa futura independência energética."

Ainda segundo a alemã, há planos de convocar uma reunião com todos os ministros de Energia dos países-membros da UE —"o mais rapidamente possível"— para definir os próximos passos do bloco.

"Hoje, o Kremlin falhou mais uma vez nessa tentativa de semear a divisão entre os europeus", afirmou Von der Leyen, também classificando de "movimento agressivo" a decisão da empresa russa. "A era dos combustíveis fósseis russos na Europa chegará ao fim."

O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, negou as acusações de chantagem e manteve a posição de Moscou, inclusive a de impor a mesma medida usada contra Polônia e Bulgária a países que se recusarem a pagar pelo gás em rublos. "A Rússia era e continua sendo uma fornecedora confiável de recursos energéticos para seus consumidores e continua comprometida com suas obrigações contratuais", disse.

Questionado acerca do número de países que concordaram em fazer o pagamento em rublos, Peskov evitou uma resposta assertiva. "Quando os prazos de pagamento se aproximarem, se alguns consumidores se recusarem a pagar sob o novo sistema, então o decreto do presidente será aplicado."

O porta-voz se refere à medida anunciada por Vladimir Putin no mês passado que determina que países que ele classifica de hostis tenham de abrir contas no Gazprombank para fazer os pagamentos pela importação do gás em euros ou dólares, que depois seriam convertidos em rublos. Essa é uma das principais respostas de Moscou ao conjunto de sanções econômicas imposto por países do Ocidente —o qual o presidente russo já disse que representa uma escalada de tensões.

Apenas alguns compradores, como a Hungria e a Uniper, principal importadora da Alemanha, disseram ser possível pagar pelo produto de acordo com nova regra sem que as sanções europeias sejam violadas.

Jornalistas em Moscou também perguntaram a Peskov se a Rússia está preparada para lidar com as possíveis quedas de receita em decorrência da recusa dos países em fazer pagamentos em rublos. "Tudo foi calculado, todos os riscos foram previstos, e as medidas necessárias, tomadas", afirmou.

Com Reuters

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.