Rússia expulsa 85 diplomatas europeus em retaliação ao Ocidente

Representantes de Espanha, França e Itália terão que deixar Moscou após movimento semelhante contra russos

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Belo Horizonte

A Rússia anunciou nesta quarta-feira (18) a expulsão de 85 diplomatas franceses, espanhóis e italianos do país, em mais um sinal de agravamento do desgaste entre o Kremlin e as potências ocidentais.

Desde o início da invasão russa da Ucrânia, tanto Moscou quanto o Ocidente recorreram à prática que, na linguagem diplomática, expressa grande insatisfação do país anfitrião contra o país representado.

A classificação de persona non grata dada a um diplomata ou a um funcionário de um posto diplomático representa, na prática, a determinação para que ele deixe o país.

O Ministério das Relações Exteriores da Rússia anunciou que devem sair de Moscou 34 diplomatas da França, 27 da Espanha e 24 da Itália. No primeiro caso, de acordo com o embaixador francês, eles têm até duas semanas para deixar a Rússia. Já os espanhóis terão ainda menos tempo para arrumar as malas: foi estabelecido o prazo de sete dias para que voltem a Madri.

Combatentes russos em área destruída de usina em Mariupol, na Ucrânia - Olga Maltseva - 18.mai.22/AFP

Não foram divulgados detalhes e prazos para a saída dos italianos. Roma e Moscou, ao menos desde a entrada de Vladimir Putin no poder, mantiveram importantes laços econômicos e políticos, principalmente devido à estreita relação entre o presidente russo e o ex-líder italiano Silvio Berlusconi.

A Itália reagiu às expulsões com o premiê Mario Draghi chamando a medida de "ato hostil" e alertando que os canais diplomáticos com Moscou não devem ser interrompidos. Já a chancelaria francesa divulgou um comunicado condenando "firmemente" a decisão e disse que a medida não tem "fundamentos legítimos".

As três nações europeias alvos de Moscou, por outro lado, estão entre aquelas que já expulsaram mais de 300 russos desde o início da invasão. Em muitos casos, eles acusaram os diplomatas e funcionários russos de espionagem, o que o Kremlin nega. A Espanha, por exemplo, determinou no mês passado a saída de 25 russos do país, citando "razões de segurança devidamente justificadas". "[Esse] não é o caso agora", afirmou o Ministério das Relações Exteriores espanhol em um comunicado nesta quarta.

Ainda em abril, a Rússia enviou para casa 45 funcionários poloneses e 40 alemães. Medidas semelhantes foram adotadas por e contra países como Finlândia, Romênia, Dinamarca, Suécia, Noruega, Japão e EUA.

Em Moscou, a embaixadora da Suécia foi convocada pela diplomacia russa para prestar esclarecimentos —outra prática comum nas relações internacionais em caso de insatisfação, mas maximizada desde o início do conflito. O movimento acontece no mesmo dia em que o país nórdico, junto com a Finlândia, entregou o pedido formal para a admissão na Otan, a aliança militar liderada pelos EUA. Para que sejam aceitos, porém, os dois precisarão convencer a Turquia, que tem colocado entraves para a aprovação.

O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, reiterou nesta quarta que vetará a entrada dos países se seus respectivos governos não deportarem cidadãos turcos que Ancara considera terroristas –alguns são opositores de Erdogan. Já em Kiev, os EUA reabriram sua embaixada após três meses fechada, um ato simbólico que reafirma o alinhamento de Washington com o país de Volodimir Zelenski.

Para além da crise diplomática, o conflito no front de batalha chega a seu 84º dia com conquistas de Moscou e Kiev ainda incertas em meio a informações dispersas dos dois lados.

Enquanto as forças ucranianas seguem freando o avanço russo na região de Kharkiv e o Exército anunciou uma estimativa de que mais de 28 mil soldados russos foram mortos em quase três meses de guerra, o Kremlin consolidou a tomada de Mariupol. De acordo com Moscou, 959 militares ucranianos que estavam entrincheirados na siderúrgica Azovstal se renderam desde segunda-feira.

O destino desses prisioneiros é incerto, e aqueles que pertencem ao Batalhão Azov podem até ser condenados à morte, como defendeu nesta semana um parlamentar russo. Por outro lado, comandantes do alto escalão das forças ucranianas podem ainda estar escondidos na cidade, de acordo com um líder da região separatista de Donetsk. As informações não puderam ser confirmadas de forma independente.

Nesta quarta, Kiev também iniciou o primeiro julgamento por crimes de guerra desde o início da invasão.

O suboficial russo Vadim Chichimarin, 21, declarou-se culpado de todas as acusações, entre as quais a de assassinato premeditado de um civil em fevereiro. O caso pode abrir precedentes para a condenação de outros prisioneiros russos na Ucrânia em meio a uma série de acusações de atrocidades cometidas pelas forças de Moscou, como o massacre em Butcha e os reiterados ataques a hospitais ucranianos.

Com AFP e Reuters

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