O Irã é tecnicamente capaz de fabricar uma bomba nuclear, mas ainda não decidiu se vai construir uma, disse neste domingo (17) um assessor sênior do líder supremo do país, Ali Khamenei, à filial do canal de TV Al Jazeera no Catar.
A entrevista, dada por Kamal Kharrazi, foi uma rara confissão do interesse do Irã por armas nucleares, algo que o país frequentemente nega estar buscando. Os comentários foram feitos um dia depois que o presidente dos EUA, Joe Biden, terminou sua viagem de quatro dias a Israel e Arábia Saudita, em que prometeu impedir o Irã de "adquirir uma arma nuclear".
"Em poucos dias, conseguimos enriquecer urânio em até 60% e podemos facilmente produzir urânio enriquecido em 90%", disse Kharrazi. "O Irã tem os meios técnicos para produzir uma bomba nuclear, mas não houve decisão do Irã de construir uma".
O limite de enriquecimento de Urânio sob o acordo nuclear de Teerã com potências ocidentais em 2015 era de 3,67%, muito abaixo dos 60% anunciados. O adequado para a construção de uma bomba nuclear é de pelo menos 90%.
Em 2018, o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, abandonou o acordo nuclear fechado em 2015. O pacto, conhecido como Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA, na sigla em inglês), contemplava suspender algumas sanções econômicas contra o Irã em troca de limites rígidos a seu programa nuclear.
Depois que Trump retirou os EUA do pacto, o Irã passou a ultrapassar os limites da atividade nuclear em retaliação à volta das sanções. Nos últimos meses do ano passado, o país começou a enriquecer urânio a níveis sem precedentes e restringiu as atividades dos inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), organismo da ONU responsável por supervisionar as instalações iranianas.
No ano passado, o ministro da inteligência do Irã já havia dito que a pressão ocidental poderia levar o país a buscar armas nucleares, cujo desenvolvimento Khamenei proibiu em uma fatwa, ou decreto religioso, no início dos anos 2000.
O Irã nega há muito tempo que quer produzir armas nucleares, dizendo que refina urânio apenas para a geração de energia para uso civil. Ainda segundo Teerã, as violações do acordo internacional são reversíveis se os Estados Unidos suspenderem as sanções e voltarem ao acordo.
Contudo, as negociações indiretas entre o Irã e o governo do presidente Joe Biden, que visam trazer Washington e Teerã de volta ao cumprimento do pacto nuclear, estão paralisadas desde março. As negociações fracassaram devido a obstáculos como a exigência de Teerã de que os EUA deem garantias de que nenhum presidente do país abandonará o acordo, como Trump fez.
"Os Estados Unidos não deram garantias de preservação do acordo nuclear, e isso arruína a possibilidade de qualquer acordo", disse Kharrazi.
Israel, país cuja legitimidade o Irã não reconhece, ameaçou atacar instalações nucleares iranianas se a diplomacia não conseguir conter as ambições atômicas do país.
Na entrevista à Al Jazeera, Kharrazi disse que o Irã nunca negociaria seu programa de mísseis balísticos e sua política regional. "Qualquer ataque à nossa segurança por parte de países vizinhos será recebido com resposta direta a esses países e a Israel", afirmou.
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