Descrição de chapéu Rússia

Orbán diz que Hungria 'não quer virar um povo mestiço' e gera revolta

Fala de premiê ultradireitista provoca indignação de políticos e repúdio da comunidade judaica

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Budapeste e São Paulo | Reuters

O premiê ultradireitista da Hungria, Viktor Orbán, causou indignação neste fim de semana ao afirmar que os húngaros "não querem se tornar um povo mestiço" e ao criticar políticos e países por acolher imigrantes e "misturar populações" europeias e não europeias.

"Existe um mundo em que os povos europeus são misturados com aqueles que chegam de fora da Europa. Esse é um mundo de raças mistas", disse Orbán, no sábado (23), durante um evento na Romênia.

"E há o nosso mundo, em que as pessoas da Europa se deslocam, trabalham e se mudam. [...] É por isso que sempre lutamos: estamos dispostos a nos misturar, mas não queremos nos tornar povos mestiços."

Premiê desde 2010, o populista foi eleito para seu quinto mandato, o quarto consecutivo, em abril. Nos dez anos no poder, já atacou imigrantes, grupos direitos humanos e a comunidade LGBTQIA+. O político também defende no seu projeto de "democracia iliberal" medidas que restringem a liberdade de imprensa.

O premiê, Viktor Orbán, durante entrevista após eleições na Hungria
O premiê, Viktor Orbán, durante entrevista após eleições na Hungria - Bernadett Szabo - 6.abr.22/Reuters

A declaração deste fim de semana provocou revolta. Katalin Cseh, deputada do partido de oposição Momentum, repudiou a fala de Orbán e expressou solidariedade aos imigrantes e a quem chamou de "pessoas mestiças" da Hungria. "O que quer que essa explosão racista sem sentido signifique: sua cor de pele pode ser diferente, você pode vir da Europa ou de outros países —você é um de nós, estamos orgulhosos de você. A diversidade fortalece a nação, não a enfraquece", escreveu nas redes sociais.

A Federação das Comunidades Judaicas Húngaras divulgou comunicado no qual diz que as palavras de Orbán desencadeiam sérias preocupações. "Com base em nossas experiências históricas e nossas histórias familiares, é importante levantar nossa voz contra expressões na vida pública húngara que são propensas a mal-entendidos", disse o grupo, informando também que solicitou uma reunião com o premiê.

Mais de meio milhão de judeus húngaros foram assassinados durante o Holocausto nazista na Segunda Guerra Mundial. Hoje, existem cerca de 75 mil a 100 mil judeus no país, a maioria dos quais em Budapeste. "Em dois pés, trabalhando, falando e às vezes pensando que há apenas uma raça neste planeta: o Homo Sapiens", escreveu nas redes sociais o rabino-chefe da Hungria, Robert Frolich.

As medidas anti-imigração de Orbán ajudaram seu partido, o Fidesz, a vencer as eleições em 2018 e 2022. Em contrapartida, poucos dias depois de sua vitória, o Executivo da União Europeia anunciou o início do processo disciplinar que vai cortar verbas do país devido a violações de princípios do Estado de Direito.

Também no sábado, milhares de pessoas se manifestaram em defesa dos direitos LGBTQIA+ em Budapeste. Os protestos aconteceram um ano após uma lei considerada discriminatória entrar em vigor na União Europeia (UE). Entre bandeiras e faixas com as cores do arco-íris, os manifestantes condenaram o texto que proíbe a "representação ou promoção" da homossexualidade e da redesignação de gênero entre menores. Orbán insiste que a lei não é homofóbica e visa a "proteger os direitos das crianças".

Na viagem à Romênia, o premiê húngaro, um aliado do presidente russo, Vladimir Putin, afirmou também que as sanções impostas pelo Ocidente contra a Rússia não funcionaram e pediu à UE uma nova estratégia para restabelecer a paz. Ele alega que a política prejudica mais a economia dos países europeus do que a de Moscou —tendo em vista principalmente a questão da exportação de gás natural, usada como instrumento de pressão pelo Kremlin.

Orbán enfrenta seu momento mais difícil desde que assumiu o poder. O país está pressionado economicamente pela inflação de dois dígitos, além do corte de verbas pela UE devido a violações de princípios do Estado de Direito. No início do ano, o premiê húngaro recebeu a visita e foi chamado de irmão pelo presidente Jair Bolsonaro (PL).

Com AFP

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