Descrição de chapéu Eleições 2022

Bachelet condena na ONU ataques de Bolsonaro ao sistema eleitoral no Brasil

Alta comissária de Direitos Humanos alerta para situação 'muito difícil' do setor no país

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Genebra | Reuters

A alta comissária de Direitos Humanos das Nações Unidas, Michelle Bachelet, condenou nesta quinta-feira (25) ataques recentes feitos pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) contra instituições e o sistema eleitoral no Brasil. A ex-presidente do Chile ainda classificou de muito difícil a situação dos direitos humanos no país.

"Acredito que o presidente Bolsonaro intensificou seus ataques ao Judiciário e ao sistema eletrônico de votação, incluindo uma reunião com embaixadores, em julho, que provocou fortes reações, como vocês sabem", afirmou Bachelet, em sua última entrevista coletiva no cargo, em Genebra, na Suíça.

A alta comissária de Direitos Humanos da ONU, Michelle Bachelet, em entrevista coletiva em Genebra - Fabrice Coffrini - 25.ago.22/AFP

A alta comissária se referiu a uma apresentação que o presidente brasileiro fez a diplomatas estrangeiros na qual, com uma série de mentiras e teorias da conspiração já desmascaradas, expressou preocupações infundadas sobre fraude eleitoral no pleito de outubro. Bolsonaro, que insiste nesse discurso há meses, está atrás de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas pesquisas de intenção de voto para as eleições de outubro.

"O que eu acredito que seja mais preocupante é que o presidente convocou seus apoiadores para protestar contra as instituições judiciais no próximo 7 de Setembro, dia do 200º aniversário da Independência do Brasil", completou.

"Você não faz coisas que podem aumentar a violência ou o ódio contra instituições democráticas que devem ser respeitadas e fortalecidas. Não [deve] tentar enfraquecê-las por meio de um discurso político forte."

Os eventos do feriado, a menos de um mês do primeiro turno da eleição, estão cercados de expectativa para qual deve ser a postura de Bolsonaro —que, em encontros na mesma data no ano passado, fez ataques fortes a ministros do Supremo Tribunal Federal como Alexandre de Moraes. Para 2022, ele já exortou apoiadores a comparecer a atos em Brasília e na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro.

O mandatário também faz tentativas de envolver os militares nos eventos. O prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), afirmou na semana passada que foi comunicado pelo Comando Militar do Leste sobre a participação do Exército no ato na orla na zona sul da cidade, cancelando a tradicional parada no centro.

Em Genebra, Bachelet ainda criticou a "situação muito difícil dos direitos humanos" no Brasil, destacando relatos de aumento da violência política, racismo estrutural e redução do espaço cívico.

"Sinto que os ataques contra parlamentares e candidatos, particularmente os afrodescendentes, mulheres e pessoas LGBTQIA+ são de particular preocupação", afirmou a ex-presidente chilena. "Quando um líder começa a usar uma linguagem que pode ser usada na direção errada, acho muito ruim. Os líderes precisam garantir que o país seja capaz de progredir onde exista diálogo e respeito ao outro, porque é disso que se trata a democracia."

Bachelet disse em junho, em um anúncio surpresa, que não disputará mais um mandato à frente do cargo nas Nações Unidas. A declaração se deu poucas semanas depois de ela retornar de uma visita à China —a primeira de um alto comissário em pelo menos 15 anos—, pela qual foi alvo de críticas de especialistas, ONGs e ativistas de direitos humanos.

Esta não é a primeira vez que ela faz críticas à gestão de Bolsonaro. Em 2019, afirmou que sentia "pena pelo Brasil" devido a afirmações feitas à época pelo mandatário em defesa da ditadura de Augusto Pinochet no Chile.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.