A China anunciou nesta segunda-feira (8) novos exercícios militares nos mares e no espaço aéreo ao redor de Taiwan, dando continuidade à demonstração de força em retaliação pela visita da presidente da Câmara dos EUA, Nancy Pelosi, à ilha que Pequim considera parte de seu território.
A manutenção das maiores manobras já feitas na região, que estavam previstas para terminar neste domingo (7), aumenta os temores de que o país seguirá com a pressão às defesas taiwanesas, desafiando os apelos do Ocidente e adicionando mais expectativa de que haja uma resposta dos EUA.
O treinamento ocorre em condições reais de guerra e, segundo comunicado do Comando Militar do Leste do exército chinês, tem foco em operações antissubmarino e de ataque marítimo.
A duração e a localização exata dos exercícios ainda não são conhecidas, mas Taiwan já diminuiu as restrições de voo perto das seis áreas usadas nas manobras anteriores.
Nesta segunda, o porta-voz da chancelaria chinesa, Wang Wenbin, disse que Pequim está realizando exercícios militares normais em "suas próprias águas" de maneira aberta, transparente e profissional.
O Ministério das Relações Exteriores de Taiwan condenou a manutenção das manobras, exigindo a interrupção das ações e dizendo que a China está criando crises deliberadamente. "Diante da intimidação militar criada pela China, Taiwan não terá medo nem recuará, e defenderá com mais firmeza sua soberania, segurança nacional e modo de vida livre e democrático", disse em comunicado.
O presidente dos EUA, Joe Biden, também manifestou apreensão com o prosseguimento dos exercícios. "Estou preocupado que eles estejam se movendo tanto quanto estão", disse nesta segunda. "Mas não acho que eles vão fazer nada mais do que estão."
O governo americano vem condenando as ações chinesas tomadas após a visita de Pelosi à ilha. Mas Washington, que busca atuar como protetor não oficial de Taiwan, não revelou se usaria força militar para deter a escalada da situação.
No sábado, o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, denunciou o que chama de "total desproporção" da reação chinesa, divulgando um comunicado conjunto com seus colegas de Japão e Austrália para pedir o fim dos exercícios.
Já o Ministério da Defesa chinês tem mantido sua pressão diplomática sobre Washington. "A atual situação tensa no estreito de Taiwan é inteiramente provocada e criada pelo lado dos EUA por iniciativa própria, e o lado dos EUA deve assumir total responsabilidade e sérias consequências por isso", disse o porta-voz do Ministério da Defesa, Wu Qian, em post nas redes sociais.
Pequim também tem usado o contexto para intensificar uma ofensiva de propaganda destinada a minar a confiança de Taiwan em sua segurança, ao mesmo tempo que busca satisfazer o sentimento nacionalista no continente.
Depois que os exercícios militares começaram, na semana passada, a mídia estatal chinesa e alguns diplomatas começaram a compartilhar publicações e artigos destacando símbolos da cultura chinesa em cidades taiwanesas, o que, segundo eles, reforçaria a reivindicação de soberania de Pequim.
De acordo com o jornal Financial Times, um vídeo publicado pela emissora CCTV no Weibo —a versão chinesa do Twitter— mostra placas de rua em Taipé com os nomes de cidades e províncias chinesas como Tianjin, Shandong, Guiyang e Chongqing. "Toda estrada leva para casa!", diz a legenda do vídeo. "Aqui, cada rua está cheia de saudades de casa!"
No Twitter, a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Hua Chunying, fez uma publicação com mapas da capital taiwanesa, mostrando a localização de algumas dezenas de restaurantes chineses. "Os paladares não enganam. Taiwan sempre fez parte da China. A criança perdida acabará voltando para casa", escreveu.
Outros diplomatas passaram a compartilhar conteúdos semelhantes, sugerindo que a presença dos restaurantes indicaria que Taiwan pertence ao continente, mas o argumento passou a ser contestado por algumas pessoas no Twitter, que perguntaram se as unidades do McDonald's em Pequim demonstrariam que a China é historicamente parte dos EUA.
Segundo o Financial Times, a campanha de propaganda tem jogado com a complexa identidade nacional de Taiwan, além da história da migração chinesa e das ondas consecutivas de colonização.
Após ser derrotado na guerra civil em 1949, o governo nacionalista chinês fugiu para a ilha e renomeou a maioria das ruas com nomes de cidades do continente, como forma de defender a reivindicação de ser um governo legítimo, bem como para difundir influência após 50 anos de domínio japonês e séculos de associação fraca com o continente.
No entanto, pesquisas feitas por universidades taiwanesas há quase 30 anos mostram que a maioria da população do país não se vê como chinesa, tampouco querem que a ilha se torne parte da China.
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